11/12/2010 - Manguitas
Do lado debaixo de uma curva de nível bastante funda, onde antigamente reinavam goiabeiras, cavalos e abóboras, três mangueiras despontavam como senhoras do lugar. Duas mais frondosas e outra, um tanto quanto esbelta ficavam entre o açude e a estrada de pinheirinhos. Mangueiras de copa graciosa, lembrando, na baixada do sítio, saias verdes rodadas. Não eram mangueiras de manga rosa, de manga adem, de manga palmer, de manga espada, de manga manteiga, de manga abacaxi, de manga tommy... eram mangueiras de manguitas.
Manguita? Ao menos era assim que meu avô chamava aquelas mangas. E como ele gostava de colher aquelas mangas minúsculas e levá-las de punhado para minha avó! Ao caírem na valeta da curva, as mangas coloriam e perfumavam o chão. O cheiro forte e doce dessas mangas chamava atenção das redondezas, atraindo curiosos, abelhas, marimbondos e cobras. Por isso, romper o mato, a valeta e os perigos que se escondiam por entre aquelas galhas e frutos era uma aventura e tanto.
Depois de anos distante daquelas três mangueiras, pelas ruas de pedra de uma cidade com nome de mulher, fui inebriado pelo cheiro açucarado das tais mangas. Para além das alucinações, um cheiro melado conduziu meus olhos para cestinhos repletos de exemplares daquela espécie tão pequena quão saborosa. Não tive dúvidas, fui à banca do camelô, finquei os dentes na casca macia daquelas manguitas e mergulhei de forma plena no gosto de um tempo.
Um tempo que, para minha surpresa, durante anos e anos ficou intacto, escondido debaixo das saias daquelas três mangueiras. Sem dúvida alguma, meu avô deve ter pegado estrada e chegado a Brasília com alguns punhados de suas manguitas.
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