Daniel Campos

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18/09/2014 - Mãos sujas

Já parou para pensar como vai conseguir viver com isso? Você matou uma pessoa que tinha tantos sonhos. Matou da pior maneira, como não se mata nem o pior dos bandidos. Matou dando esperança. Graças a você essa pessoa nunca mais vai conseguir ser feliz. E isso não é pouco. Será que algum dia vai conseguir dormir tranquilamente tendo cometido tal monstruosidade? Uma pergunta que sabemos a resposta. Por mais fria e prática e calculista e desapegada que queira ser, não vai conseguir se livrar dessa macha. E não pense que o passar do tempo vai amenizar esse peso. Pelo contrário, por todos os seus dias esse crime vai repercutir em seu ser de uma forma ou de outra. Haverá aqueles dez segundos de arrependimento e então se deparará com uma dor ainda maior: a de que o seu arrependimento não lhe valerá de nada. Vai lembrar para sempre dessa morte trágica do amor, morte matada, diga-se de passagem, que vai se embrenhar por suas mãos, tirar o brilho de suas unhas, envergonhar suas linhas do destino. Você matou um apaixonado. Talvez o último deles forjado com essa intensidade. Aproveita enquanto essa ferida é recente porque depois ela vai se enraizar e tomar de conta da sua existência. Você está condenada a viver essa dor. Não sou a favor de castigo, mas de todos paguem pelo que fizeram de mal a alguém. E você vai pagar com essa lembrança dolorida que irá se manifestar nas horas mais importunas. Você matou um homem que era capaz de fazer tudo e mais um pouco por você. Você matou quem se entregou de forma única a você. Você matou aquele que só fez lhe cuidar. Que a falta de reconhecimento, de gratidão e até de perdão não lhe enlouqueçam mais dia menos dia. Que suporte sobre os ombros o defunto que criaste. Um defunto que não se consegue enterrar, mas arrastar por séculos sem fim. Beba, divirta-se, faça terapia tendo a certeza de que nada vai lhe trazer paz de espírito. Você acabou com os desejos, fantasias, expectativas daquele ser humano que se sacrificou por você a troco de nada. Ou melhor, a troco de dor, de descaso, de solidão. Faltou respeito e sobrou impunidade. Até quando? Até consciência acordar e declarar guerra. Pode eliminar todas as provas e indícios, mas quem mata, ainda mais um homem grávido de amor, fica pela eternidade com as mãos tão sujas que nem os esmaltes mais caros hão de conseguir disfarçar.


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