Daniel Campos

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20/01/2015 - De volta pro corpo

Com frio, mas muito frio a ponto de tremer, encolhi-me num canto debaixo de uma espécie de cobertura acinzentada esperando por ajuda. Não me lembrava da razão daquele frio, daquele cansaço, daquela falta de equilíbrio. Eu não estava bem, ficando à mercê de calafrios e enorme dificuldade de parar em pé. Parecia ter febre. A dor podia se assemelhar, mas era diferente do que qualquer dor física. Cheguei até aquele local de atendimento e esperei quieto a minha vez, pois havia muitos antes de mim. Quando uma moça de cabelos castanhos escuros ondulados com rosto de menina foi falar com a velha senhora eu me aproximei um pouco mais, pois em seguida seria a minha vez. A moça desandou a falar, a falar, a falar buscando conforto naquela consulta que parecia não ter mais fim. Tinha muito a contar enquanto a velha senhora só ouvia. Com aquele frio profundo, procurei pelo sol, indo para o campo esquerdo de onde se dava aquele atendimento. Foi então que a senhora me olhou e pediu para eu não ir embora. Disse então que queria apenas um pouco de sol e ela me pediu para sentar na ponta de um imenso banco de concreto, sem encosto, onde um pouco mais a direita ela conversava com aquela moça. Eu me sentei bem na ponta. Imediatamente à frente de onde estava havia um espaço vazio e mais à direita a cobertura onde esperavam a sua hora. Nas costas daquele banco, um buraco que eu não conseguia ver o fundo. Fiquei ali me alimentando daquela luz bendita que era diferente de qualquer sol já provado. Os raios solares eram mais amenos. Não demorou muito para que a menina se despedisse e tomasse seu caminho, embora não conseguisse ver o rumo tomado por aquelas pessoas pós-atendimento. Era como se desaparecessem. Foi então que chegou a minha hora. Eu me levantei, ainda bastante fraco, como que ferido pelas sombras, e fui ter com aquela senhora. Em sua frente, baixei a cabeça com as duas mãos unidas em meu peito, em sinal de reverência. Ela sorriu e tudo se fez luz. Ela vestia rosa, uma espécie de túnica rosa viva, tinha cabelos longos e negros, um rosto de várias idades. Ao seu lado direito, sobre o banco, duas muletas. Ela se revelou aos meus olhos como uma figura frágil, mas de tamanha força e vitalidade. Com palavras simples falou que faria uma coisa que ia me melhorar, como melhorou aquela outra moça que chegara primeiro. Colocou uma mão nas minhas costas e fui meio que sugado para trás. Ela me amparou com a outra mão também e a impressão era de que os dois cairiam de costas naquela espécie de precipício. Era como se ela tirasse algo de mim. Senti uma energia surpreendente e ao mesmo tempo em que me senti puxado me peguei adentrando numa mistura de tempo e espaço. Apaguei e acordei suado em minha cama ainda com a lembrança nítida daquela senhora que havia me feito voltar até meu corpo após restabelecer minhas forças.


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