Daniel Campos

Prosas

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07/07/2015 - Livres como pássaros

Que todas as porteiras sejam abertas. Que todas as janelas se abram. Que todas as portas se destranquem. Que todas as tramelas se levantem. Que todos os portões se escancarem. Que todas as tumbas se quebrem. Que todos os cadeados se rompam. Que todas as correntes se arrebentem. Que todas as cancelas se esgarcem. Que todos os nós se desatem. Que todos os segredos se revelem. Que todas as prisões libertem. Que todos os laços se desmanchem. Que todas as gaiolas caiam e os pássaros voem livres como pássaros que somos.


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07/07/2015 - Passamos nós

Por onde quer que vá, vamos juntos
Passam árvores, bichos, conjuntos
Ou solitários de fêmeas e machos
Mas não passamos nós. Eu acho
Eu acho que devemos permanecer
E nos querer sempre lado a lado
Por mais distantes que estivermos
Seja presente ou futuro do passado
Juntos não há paraíso ou inferno
Que não possamos superar
Ou alcançar. Passam carros, nuvens,
Placas, casas, postes, plantações,
Um sim que surge e tantos nões...
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06/07/2015 - Rumo ao sabiá

Chora porque o dia já vai se embora. Pinta o rosto. Passa perfume de gosto. Toma banho de espuma. Vamos, vamos pela bruma ver o lá fora. Enxuga o choro e seja bela para quebrar o decoro. Encanta, espanta o mau-agouro. Deixa o tempo tentar marcar o seu couro. Deixa as lágrimas pra lá e vamos caçar o tesouro do sabiá. O sabiá por maior a ação do tempo está sempre a gargalhar. O sabiá sabe assoviar a receita para não sofrer. Vem ver, vem ver, vem ver o sabiá a viver no alegrar do dia. O sabiá se põe a rezar muito para enlaçar o tempo e o vento com toda sua cor. O sabiá é o piar da estação do amor. Pode passar todas as eras, fazendo frio ou calor, pois para o sabiá todo dia é primavera.


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05/07/2015 - Entre tempos

Preocupa a minha falta de tempo. É como se houvesse um grande nó me atando entre o que sou e o que quero ser. Segundos, minutos, horas vão passando e eu vou ficando. Minha cabeça não para, mas meu corpo e minhas ações não têm o ritmo dos meus pensamentos. E eu vou ficando ao tempo. Rezo por bons ventos. Ventos que me empurrem. Ventos que me impulsem. Ventos que me levem ao que me falta. E se o vento não vier, que venha a maré alta, a quinta fase da lua, os cavaleiros do apocalipse. Que o mundo chacoalhe, que norte e sul se embaralhem e a previsão mais certeira falhe por inteira. E que assim, entre tempos, eu seja não o que eu quero ser, mas o que eu nem esperava viver.


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04/07/2015 - Quintais de dona Naná

Pelos quintas de dona Naná dá graviola e acerola, ingá e sabiá, caju e anu, milho e filho, caqui e bem-te-vi, abóbora e cobra, jabuticaba e mangaba, chuchu e pacu, abacaxi e lambari, goiaba e cabra, goiabinha e coleirinha, toco e porco, rosa e prosa, salsinha e galinha, hortênsia e querência, capim e aipim, algodão e fruta-pão, curió e cipó, vaca e alfavaca, sementeira e mangueira, muda e arruda, alecrim e surubim, canário e cenário, araticum e urucum, lírio e delírio, costela-de-adão e manjericão, bambu e tuiuiú, laranja e franja, gato e mato, jatobá e cará, tudo tem, meu bem, pelos quintas de dona Naná.


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03/07/2015 - Cadê as flores?

Pelas folhas da primavera onde estão as flores? Onde estão as flores pelos dias que se vão cinzentos, secos, retorcidos? Sobram dores pelos canteiros do adeus. Os jardineiros perderam seus empregos e agora bebem, bebem, bebem até se despedir dos dias seus. Tulipas, rosas, petúnias, hortênsias, cravinas, bromélias, orquídeas, margaridas, violetas... Pra onde foram as flores? Não há flores para os buquês das noivas. Não há flores para enfeitar os defuntos. Não há flores para presentear as namoradas. Não há flores para as abelhas, para os beija-flores, para os ursos. Não há flores para ver, para comer, para beber, para cheirar, para dar, para se refestelar. Por onde andam as flores que o inverno carregou? Por onde andam as flores que o tempo devorou? Que os guardiões da primavera tenham conseguido defender as sementes, as semente, as sementes das flores da gente.


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02/07/2015 - Até quando o tempo quiser

Hoje, bateu saudade. Saudade de tudo o que deixamos de viver. Saudade das janelas que deixamos de abrir e das portas que nos esquecemos de fechar. Hoje, saudade bateu no fundo do meu corpo sem fundo. Faltou mar, sobrou embarcação. Ficaram tantas coisas desarrumadas. As cordas do violão ainda balbuciam seu nome quando o vento bate. As bandeiras dos nossos destinos queimaram em tantas fogueiras e o que restou? Mágica. Milagre. Amor. O que sobrou dessa tempestade senão a saudade. E como muitas cidades destruídas e perdidas como são belas e fortes as nossas ruínas. Nossas histórias ainda são meninas correndo para lá e pra cá em busca de sabe-se lá o que. Eu queria tanto, mas, no entanto, rendo-me ao porquê. E assim, até quando o tempo quiser vai ser.


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01/07/2015 - Pelos lírios

Trilhos subindo pelo seu corpo como espartilhos desejados como filhos pelos casais apaixonados que de amor entoam estribilhos. E que nos venham os lírios. E que raiem a nós os empíreos. E que nos arrepiem até os cílios. Que o amor faça cair os empecilhos. Que o amor pare os andarilhos. Que o amor reencaixe os ladrilhos. Que os corações deixem as condições de maltrapilhos. E que nos queiram os delírios. E que as estrelas desçam como colírios. E que esse destino seja estírio.


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30/06/2015 - Mais do ser só

O cupido parece ter indeferido meu pedido. O curió canta, canta, canta a tristeza de ser só. Nuvem sozinha não faz tempestade tal e qual um único galo não faz rinha. Uma corda não configura um violão. Quem disse que a primavera é casada com o verão? O que as ondas do mar vêm buscar? O astronauta, na carência do espaço, tenta trazer estrelas no laço. Sem musa não há poeta. São precisos dois corações para fazer-se um amor completo.


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29/06/2015 - As maçãs-do-amor de Sinhazinha

Sinhazinha se arrumou toda pra se sentar na pracinha esperando alguém que lhe desse uma maçã-do-amor. Mas na pracinha não tinha macieira e nem era tempo de fogueira. Mesmo assim ela esperou, ela esperou, ela esperou e dançou com o tempo que seus olhos caramelizou. Sinhazinha não estava grávida, mas ardia numa vontade parideira que faz a desejosa subir e descer ladeira dia após dia até matar as lombrigas que brigam e fazem intriga e desdém em torno da fome do que não se tem. Passaram fulanos, ciclanos, beltranos sem que ninguém oferecesse maçã alguma à salivação crescente da sinhazinha que estava acostumada a viver sozinha. Passaram-se horas até que a menina chora e um tal moleque, longe de ser pivete, aproximou-se e enxugou aquelas lágrimas com um beijo certeiro daqueles que desmancham o coração por inteiro. Sinhazinha ficou pasma, faltou-lhe o ar como numa crise de asma, e suas maçãs do rosto ficaram coradas, avermelhadas como as maçãs-do-amor que ela tanto queria e pedia. Coisas da poesia.


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