Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 306 de 320.

Iroko i só! eeró! (trecho I)

"Iroko i só! eeró!
Ao contrário de um costumeiro olá, boa tarde, como vai... Iroko i só! eeró! É assim que aquela senhora de sorriso envelhecido como os óleos de uma natureza morta saúda e gosta de ser saudada. Só que essa saudação não acontece à capela e sim acompanhada do longo rangido de uma porteira, que mesmo com algumas de suas vértebras trincadas pelo tempo, dava acesso à entrada principal e única da chácara daquela mulher que leva um colar de contas verdes musgo e riscadas de marrom em seu pescoço magro. O cenário, com um quê de Hitchcock e outro de Dostoievski, é um prato cheio para os amantes do cinema e da literatura. ...
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Iroko i só! eeró! (trecho II)

"O sol continua escondido entre nuvens negras e longas quando ela me convida a entrar, agora dentro de sua casa. Mas o vento não dava indicações de chuva. Além de soprarem do sul, tinham um sabor seco. Ao terminar o último dos seis degraus, mais uma vez, minhas retinas se dividem entre luzes e sombras. Na sala da casa sem forro, dezenas e dezenas de velas. Velas coloridas. Toda aquela parafina queimada causa um cheiro que chega a queimar as narinas. Não consigo encontrar televisão, aparelho de som, abajur... Enfim, não consigo encontrar o menor sinal de energia elétrica. Apenas as velas. Uma poltrona forrada de pano verde e um sofá cinza de três lugares tratam de povoar a sala. Em destaque, sob um móvel escuro, uma escultura de Iroko, entalhada em madeira de gameleira. Iroko era o orixá daquela mulher que podia ter muitas preocupações, menos a de varrer a casa. Espalhadas pelo chão, uma infinidade de folhas secas da tal árvore da porteira. O vento deveria ser forte para trazê-las até ali."


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Iroko i só! eeró! (trecho III)

"Eu sou de Iroko
Iroko não falha
Eu sou de Iroko
Iroko não falha

Conforme a velha cantava, o vento trazia o som de tambores. Plutão, Vladimir, e os dois vira-latas, seguem atrás em feitio de cortejo. Não havia latido nem miados. Só um vento forte que deitava capins, levantava folhas e trazia sons de tambores. Podia ser batidas vindas do sítio vizinho, mas mãe Zizinha, depositando o vaso aos pés da árvore, garantia que aquele som vinha de um terreiro do Rio de Janeiro, onde ela era ialorixá. Ela havia fechado o terreiro para viver só com Iroko, mas os tambores continuavam. E aquele vento era a manifestação do amor de Iroko por ela. ...
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Iroko i só! eeró! (trecho IV)

"Bruxa, meia diabo, meia mué, Deus te dá cabo, dá cabeça aos pé. Na minha casa tu não hás de vir, nem onde nenhuma criança estiver. Em nome de Deus e de Nossa Senhora de Aparecida. Amém.

Era assim que Dona Leontina, uma senhora grandes olheiras, rezava toda vez que era obrigada a passar perto de mãe Zizinha.

Essa mulher é a coisa ruim em pessoa. Sinto minha espinha arrepiada toda vez que ela se aproxima. Uma vez ela passou lá em casa, vendendo seus bordados, eu não quis comprar. A expulsei de lá. Você acredita que no que ela virou às costas, um pé de rosa vermelha que eu tinha na frente de casa secou. Foi num piscar de olho. Nunca vi coisa daquela. Graças a Nossa Senhora Aparecida ela nunca passou do portão lá de casa. Sabe moço, teve gente que a convidou para entrar e a família inteira morreu"....
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Iroko i só! eeró! (trecho V)

"Com um vestido azul e uma sandália rasteira dona Olga pega um terço de contas grandes e começa a rezar. Silêncio. Falso silêncio. Os murmúrios de dona Olga parecem se comunicar com o choro da pequena Eduarda. Estamos todos em pé no centro da sala de dona Olga, que tinha um crucifixo de madeira na parede e algumas imagens de santo. São José. São Bento. Santo Antônio. São Francisco. E várias imagens da Virgem Maria. Ao lado de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora das Graças e Nossa Senhora Desatadora dos Nós. Embora de tamanhos e estilos diferentes, as imagens ficavam sob uma mesinha de pernas de pau em um dos cantos da sala."...
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Já pulsa um novo tempo

Já ouço os sinos ansiosos de um papai-noel assoberbado vindo em seu trenó de renas cantantes à procura de nossas chaminés imaginárias. Já vejo as crianças esperando ansiosas as respostas de suas cartinhas postadas ao Pólo Norte. Já vejo os trabalhadores sonhando com as férias. Já sinto o cheiro dos assados natalinos. Já plana no ar a voz do rei Roberto Carlos trazendo nossas emoções à flor da pele.

Já há quem deguste panetones, castanhas, uvas. Já há quem coloque seus planos no papel. Já há aquela menina sonhando com uma boneca e um menino desejando um carrinho. Já há quem mergulhe fundo na agenda do próximo ano. ...
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Jabuticaba

Jabuticaba. Talvez nenhuma palavra mexa mais com o meu imaginário do que essa. Um bosque. Um lago. Um desejo. As abelhas. As pessoas vindas de não sei onde com o mesmo objetivo. As bocas, grandes e pequenas, esganadas e delicadas, todas experimentando para ver em qual árvore a frutinha estava mais doce. Andava-se de um pé para o outro, sem parada certa. Mas quando decidia fazer do pé uma parda, subia-se, de forma experiente ou desengonçada, por aqueles galhos fechados. Aquela madeira centenária se vestia de negro. Como que quisesse vestir-se de glamour, vestia-se com um vestido de bolinhas de açúcar em um gosto que não sai da boca....
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Jardins de luxemburgo

Ela caminha como se caminhasse pelos jardins de luxemburgo, numa estrada submersa. Entre a fonte dos meninos de pintinhos de pedra e as árvores de quadris avantajados, ela se oferece às flores daquele jardim. Oferece sua cor, seu néctar, seu perfume e o que restara de sua última primavera. Mas ninguém a quer despetalar. Nem as flores, nem as estátuas, nem os passantes. Ninguém acredita que aquela mulher poderia trazer algumas doses de primavera em pleno outono.

Então, ela passa e aperta o passo e corre e atrás de si as flores vão perdendo a cor, os apaixonados vão se afastando se separando se largando e alargando a distância daquela mulher com aquelas pessoas que não acreditaram em sua primavera. E depois de tanto correr, ela tropeça nos ramos das flores tatuadas em seus pés e cai. Desavergonhado, o sol começa a bobinar por entre a pelagem alva daquela mulher desfalecida. Mulher que tombara como mais uma folha sob os pés de árvores avermelhadas alaranjadas rosadas. ...
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Latidos

O céu num azul sem nuvens. Os ponteiros se preparam para o encontro do meio-dia. Os pés, por mais que se esforcem, não conseguem deixar pegadas na terra batida da rua. Uma terra seca e dura. A ausência da chuva mancha o sapato de poeira. Os matos da encosta numa paisagem que remete a lugares que não aparecem no horário nobre da televisão. E com toda a poeira, com todo o mato, com todo o azul, os pés continuam a caminhada, em silêncio.

Passos e mais passos e a solidão de uma palmeira se esparrama pelo terreno. Conforme a posição do sol, a sombra das folhas alcança uma casa que surge em várias cores, na tentativa de divertir o cenário. Uma morada simples, onde o sol desliza pelo amianto até se acabar nos gestos de um Joaquim que é Antônio que é Pedro que é Raimundo fulano de tal. Um homem que transforma a própria história em gestos....
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Lua... aí vou eu!


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