Daniel Campos

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 264 de 320.

21/10/2009 - Renoir e a mulher do futuro

Caro Pierre-Auguste Renoir, para o deleite de seus olhos e pinceladas, a era das mulheres anoréxicas está chegando ao fim. Chega de modelos esqueléticas que se alimentam de luz e folhas de alface. O padrão de beleza está sofrendo uma mudança gradual que levará as novas gerações femininas a terem mais carne e menos ossos. Um terreno propício para suas pinceladas largas, fragmentadas e frívolas. E olha que isso não é coisa de revista de fofoca, mas de um estudo da "New Scientist". Você, que sempre deu muita importância à forma e buscou uma obra agradável aos olhos, deve estar ansioso. ...
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20/10/2009 - O presidente, o horário e o verão

Presidente, eu não sei se o senhor reparou, mas a última segunda-feira foi um dos piores dias de crise de todo o ano. Crise de sono. A força da preguiça superou em muito a força de trabalho da nossa gente. Houve uma tremenda invasão de olheiras pelas ruas. Muita gente acordou atrasada, saiu de casa sem tomar café numa correria danada, aumentando o índice de famintos e o número de acidentes de trânsito. Pudera, o relógio é impiedoso. O primeiro dia útil do horário de verão foi caótico. E pior, nem é verão. É primavera. É primavera com chuva de inverno e vento de outono. ...
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19/10/2009 - Jacy Afonso, cavaleiro de sonhos

Vivendo a riqueza das tradições mineiras, sua família partia em romaria cruzando os sertões brasileiros no lombo de um cavalo em honraria aos céus. Sem tempo para se dedicar aos costumes de Minas, ele corre, articula, aponta, discute, analisa, debate, mobiliza. Trocou o cavalo pelo avião e as veredas pela ponte aérea Brasília - São Paulo. Jacy Afonso de Melo foi uma das primeiras personalidades do peculiar mundo político da capital federal que conheci frente a frente, na época, diante de uma xícara de café nas mesas de uma casa de tortas com sotaque italiano. ...
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18/10/2009 - A mais artística das fórmulas

Aproveito o dia do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula-1 para lhe oferecer o tema à moda deste site...

A Fórmula-1 é a mais artística das fórmulas, sejam automobilísticas, motociclísticas ou de matemática. Antes mesmo de começar, há a tensão, a agonia, o suspense de um bom filme de Hitchcock. Em sua fase inicial, os carros realizam um balé pela pista e, assim, tem início um desfile de grifes que nos transporta às passarelas de Milão. Por todo o autódromo, são marcas e mais marcas esculpindo o nosso inconsciente coletivo. E a moda ditada ali é copiada nas ruas e nas arquibancadas por pessoas que gostam ou não da modalidade esportiva. ...
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17/10/2009 - Biografia cidadã

Todas as pessoas deveriam ter direito a uma biografia. Não precisaria ser extensa demais, tampouco ter edição de luxo. Bastaria ser fiel à história de cada um. Enquanto o senador Eduardo Suplicy defende o programa "renda cidadã" eu defendo o "biografia cidadã". Dentre tantas Propostas de Emenda à Constituição poderia existir uma que transformasse em direito fundamental o fato do cidadão ter sua vida relatada em livro. Afinal, pessoas nada mais são do que personagens do cotidiano. E já foi inventado algo mais rico do que o dia-a-dia?...
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16/10/2009 - Só sei que tudo sei

Eu sei que te amo, que te valho e proclamo como minha eterna namorada. Perna por perna, sigo-te como estrada e caio em teus braços, como se fosse um poço sem fundo. É o meu mundo, o primeiro e o último segundo do meu tempo. Por isso, sei que te amo a todo o momento num vai e vem de sentimento que me vira a cabeça entre o alívio e a doença desse amor sem cura: ao mesmo tempo que sangra, sutura. Eu sei que te amo e que amor assim querubim nenhum segura.

Eu sei que te amo, que te valho e proclamo como mulher amada, minha luz e cruz. Em ti eu me ilumino. A ti eu me prego. Mimo-te e me apego aos teus mimos. É o meu vôo cego e meu arrimo. Eu sei que te amo e por isso me privo do meu eu, sendo única e exclusivamente seu. Seu marido, seu poeta, seu anjo caído, sua fantasia secreta. Eu sei que te amo e por isso te chamo noite e dia, de forma ininterrupta e desejável, como doce hemorragia. ...
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15/10/2009 - Tempo feio

Nuvens pesadas e negras. Ventos assobiando. Gritos de trovão. Raios faiscando o céu. Antigamente, diante de um tempo feio, éramos obrigados a nos furtar de uma série de coisas. Aparelhos de televisão e de som tinham de ser desligados. Nada de tomar banho, falar ao telefone ou andar descalço. Usar talheres de metal? Nem pensar. Também não era permitido se sentar sob um bico de luz. Era condenável até o ato de se olhar no espelho. Proibido também era ficar perto de cachorros ou outros animais. Tudo podia ser motivo para se encontrar com uma descarga elétrica indesejável....
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14/10/2009 - Viver em cidade grande

Viver em cidade grande é ser tragado por um mar de gente. A toda momento você quer encontrar e fugir de pessoas. O telefone que chama é o mesmo que dá ocupado e que não quer lhe atender. Há sempre uma espera e uma vontade de correr. De correr mundo. Por todo lugar há um exército de pessoas com rostos diferentes, mas com a mesma falta de nome, de identidade, de sentimento formando um imenso rolo compressor. Na primeira desatenção, tal rolo esmaga os seus sonhos. E esmagados, os sonhos não são nada mais do que piche. ...
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13/10/2009 - A criatura amada e seus olhares

A criatura amada tem olhos de tsunami, capazes de lhe levar pelos ares, de lhe virar pelo avesso. Como são poderosos os olhares da mulher amada. Um poder metropolitano que lhe faz colônia em menos de três segundos. Fisicamente, eles incitam. Plasticamente, eles gritam. Poeticamente, eles palpitam. Como são tentadoras as pupilas da criatura amada. Urge o desejo de olhá-las até a morte. Creio que deva ser a mesma sensação dos soldados que optam por morrer com honra, em pleno campo de batalha.
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12/10/2009 - O dia mudou

Dia de Nossa Senhora Aparecida era um dia literalmente sagrado na minha pequena Mogi-Mirim de vinte anos atrás. Eu contava os minutos para os ponteiros do relógio se encontravam em cima do número 12. Era ao meio dia que uma salva de rojões cobria os bairros de ruas estreitas que, naquela data, se enchiam de cavaleiros que iam visitar uma imagem em uma fazenda. Ao som dos fogos, os cachorros corriam para debaixo das camas. Eram mais de dez minutos de barulho intenso. Meu pai soltava rojões no quintal com o auxílio de um cabo de vassoura. Já meu avô os colocava nas lanças da grade que cercavam a frente de sua casa. ...
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