17/10/2009 - Biografia cidadã
Todas as pessoas deveriam ter direito a uma biografia. Não precisaria ser extensa demais, tampouco ter edição de luxo. Bastaria ser fiel à história de cada um. Enquanto o senador Eduardo Suplicy defende o programa "renda cidadã" eu defendo o "biografia cidadã". Dentre tantas Propostas de Emenda à Constituição poderia existir uma que transformasse em direito fundamental o fato do cidadão ter sua vida relatada em livro. Afinal, pessoas nada mais são do que personagens do cotidiano. E já foi inventado algo mais rico do que o dia-a-dia?
Já imagino uma biblioteca erguida em uma bela e vasta planície, ao lado de um rio chamado tempo e repleta de biografias. Seria a antítese do cemitério. Afinal, ali, cada pessoa teria direito a ocupar um espaço que lhe concederia a vida eterna. Pobres e ricos, negros e brancos, democratas e republicanos... todos dividiriam as prateleiras sem espaço para preconceitos. E ali poderia ser lida a verdadeira história de uma cidade, de um país, de uma nação. Morrer sem uma biografia é o mesmo que desaparecer por completo.
Tive essa idéia lendo o romance "Leite Derramado", de Chico Buarque. Nele, o autor desenvolve as memórias de um personagem centenário, que está internado em um hospital e carente de alguém que ouça e dê valor as suas memórias. E ele não foi cantor, jogador de futebol, presidente dos EUA, foi apenas um homem comum que acumulou muitas histórias. É por essas e outras que defendo uma biografia aos personagens do cotidiano, aqueles que se dividem entre o estrelato e o papel coadjuvante de suas próprias vidas...
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