31/12/2009 - É preciso ficar nu
Hoje é o último de muitos dias. O ideal seria passar o dia de hoje nu. Nu de roupas, pensamentos e sentimentos. Ah! Como seria bom se fossemos como os armários que podem ser completamente esvaziados. Hoje precisamos de uma arrumação. Tirar de si todo sim, todo talvez, todo não. Ficar completamente vazio. Hoje é um dia que não se devia ganhar nada, apenas dar. Afinal, hoje é o dia do desprendimento, do desligamento, do divórcio do velho com o novo. Hoje não existe presente, apenas um vácuo entre dois tempos vorazes e impiedosos.
Portanto, que bom seria se pudemos nos desvencilhar de nós, de tudo que acumulamos ao longo desse ano que esta prestes a morrer. Se banhos de ervas, retiros ou minutos de silêncio forem proveitosos a esse processo, siga em frente. Afinal, hoje é o dia internacional do descarrego. Vamos limpar a memória. Vamos desafogar o coração. Hoje é um dia de separação. Um dia doloroso, mas fundamental para a construção do tempo que está prestes a ser iniciado. Uma a uma, arranque de si todas as gavetas.
(...)
Tente ficar o mais leve possível. Não meça sacrifícios para conseguir isso. Afaste. Jogue fora. Apague. Exorcize-se de você mesmo. Que seu corpo, seu coração e sua mente possam estar preparados para receber o novo. Que o velho seja queimado. E se houver alguma coisa que queira dar continuidade, que a renove imediatamente. Nada de problematizar, tampouco sonhar. O dia de hoje é prático. Se for preciso chorar, chore. Se houver necessidade de quebrar tudo, quebre. Se tiver necessidade de morrer, morra.
E se achar que vale a pena, faça o favor de renascer ao primeiro instante de amanhã.
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