Ou exibir apenas títulos iniciados por:
A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todosOrdernar por: mais novos
Encontrados 3193 textos. Exibindo página 255 de 320.
20/01/2010 -
Todo dia
Todo dia. Todo dia. O relógio desperta. Há uma agenda a cumprir. Os jornais trazem más notícias. A chaleira apita. A faca corta o pão. O corpo se banha. Lá fora alguém passa apressado. O cachorro quer comida. Todo dia. Todo dia. O jardim quer água. No mesmo barco há um perdão e uma mágoa. Soldados e mocinhos brincam com balas de festim. E alguém se olha no espelho e diz: será que Deus tem pena de mim?
Todo dia. Todo santo dia. O sol insiste em ser quente. O pássaro canta em troca de alpiste. O tanque bate, o ferro passa e a mulher veste a roupa. Todo dia. Todo dia. O palhaço quer circo. O pobre sonha em ser rico. A mariposa ronda o abajur. A francesa faz beicinho para dizer bonjour. O dinheiro se vai. A conta vem. O mundo gira sem parar e diz: tudo continua no mesmo lugar....
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
19/01/2010 -
Corra, corra
Corra, corra e olhe a rua. Saia na sacada de seu apartamento. Esgarce as folhas de sua janela. Dependure-se nos muros. Drible as grades. Desça das masmorras. Ganhe as esquinas. Tenha olhos de binóculos. Abuse das lentes. Corra, corra. Pegue um táxi, um avião, um meteoro, mas corra, corra e olhe a rua.
Olhe a mulher de vestido jeans, com os joelhos descobertos como dois recém-nascidos, passeando pelas pedras do asfalto que a essa altura já vai alto, de bebida e loucura. Olhe as pernas que infernas tentam, torturam e provocam. Corra e olhe a mulher que tem ternura em seus apelos e uma caída perfeita em seus cabelos. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
18/01/2010 -
Porta-Retratos à moda Romero Britto
No primeiro dos porta-retratos ele tem os cabelos azuis, uma pinta roxa na bochecha e toca violão com uma mão de quatro dedos lilás. Ela, ao seu lado, tem cabelos louros tingidos de bolas alaranjadas, com mechas azuis e rosas listradas de pink. Ela também tem uma pinta violeta na bochecha e lábios de uva em forma de “v”. Ambos têm os olhos cerrados e um clima de romance no ar.
Já no segundo porta-retrato, ela tem um corte chanel em seu cabelo azul de listras, círculos e losangos. Ela tem uma face branca e outra rosa e ele, uma branca e outra azul. Ela tem um braço amarelo e ele, um alaranjado com roxo. Ele veste azul celeste e ela azul marinho. Ele tem uma faixa no cabelo e um sorriso sério. Ela tem uma mão dele em suas costas e um olhar secreto. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
17/01/2010 -
Para além dos estádios
Domingo e estádios de futebol criaram laços difíceis de serem separados. Eu nunca fui apaixonado por gramados cercados por arquibancadas de concreto. Tanto que só entrei em um estádio ao longo de minha vida. E não foi Maracanã ou Morumbi, mas Wilson Fernandes de Barros. Um estádio para pouco mais de vinte mil pessoas erguido em uma cidade que tinha um público, no máximo, quatro vezes maior que isso.
O nome do estádio fazia referência ao principal patrocinador do clube – Barros Auto Peças. O seu Wilson, um português, tomou o time como seu e levou o sapo (mascote do clube) a grandes saltos. Levado por meu pai, eu vi Rivaldo marcar um gol do meio campo, vi os dribles de Leto, os chutes de Válber e ainda saboreei muito picolé de groselha e amendoim em casca. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
16/01/2010 -
Perdas e traumas
Com as mãos sujas de terra um jovem chora pelas ruas de uma cidade destruída. Muros ao chão não cercam mais nada. Casas tombadas não guardam privacidade alguma. Estradas rachadas, construções condenadas. Rezar onde, se a igreja caiu? O homem não sabe para onde ir. Os bares estão fechados, os mercados foram saqueados. Há uma legião de desconhecidos caminhando por aqueles descaminhos.
São rostos estranhos que falam línguas mais estranhas ainda. A tragédia aguça a fome de uma gente faminta. Todos querem notícias, todos querem acordar do pesadelo, todos querem um pedaço de pão. Que bom seria se todos encontrassem seus mortos. Ao menos, para uma despedida. Mas como encontrar alguém entre os escombros e as pilhas de defuntos que são enterrados em valas coletivas?...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
15/01/2010 -
E outros mios
Pelo sol, você, com um vestidinho mi bemol, sujeita aos assovios e outros mios. A franja do horizonte escorrendo pelo laranja de seu vestido transpassado, fadado aos olhares dos meninos indiscretos que confessam a paixão de modo nada secreto. Até o vento anda soprando mais forte buscando descobrir algo ou alguém. Sua pele morena no contraste do laranja esbanja um brilho diferente, mais apaixonado e quente do que convém. Vem, vem, vem, ò morena dos olhos laranja, dar-me o amor que esbanja.
...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
14/01/2010 -
Discutir é tolice
Eu já lhe disse que discutir é tolice. Vamos viver em paz. Se para o bem ou para o mal, tanto faz. O importante é caminhar em conjunto, ser um só corpo, um só sentimento, um só defunto. Se chuva ou se sol, é indiferente quando se está junto. De que vale a solidão de um riso ou de uma lágrima? Vamos chorar em coro. Vamos sorrir conjuntamente. Sinergia, eis a palavra que deve nos guiar. Eu pensando seus pensamentos, você sentindo meus sentimentos, é assim que devemos ser, fazer, viver...
Não adianta divergir, debater, confrontar. O melhor é ceder, é aceitar, é compreender. Paciência é um dos principais pilares do amor em curso. Deixe as reclamações de lado. Deixe as desavenças no passado. Deixe o outro lhe ajudar com o fardo. Juntos, somos um mutirão. Temos a força de um batalhão. Para que fragmentar quando o ideal é somar? Não seja tão enfática, deixe de lado as implicâncias, a vida nem de longe é uma constância matemática. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
13/01/2010 -
O tempo como credor
Tenho andado em dívida com o tempo. Muitas cobranças e pouca coisa oferecida em troca. E pior, maldigo-o a todo instante. Isso sem falar que tenho sempre um pé atrás com ele, além, é claro, de tentar agarrá-lo sempre. Posso dizer que sou uma pedra no sapato do tempo. Vivo importunando-o com minha mania de quer mais e mais do que ele pode me ofertar. Pechincho demais, chego a ser chato com os ponteiros. E fazer o quê? É a vida que está em jogo.
Tento quase que diariamente flexionar o tempo, esticando o dia, empurrando a noite para debaixo do tapete. Chego a atrasar o relógio para ter a sensação de que fui agraciado com alguns minutos a mais. Pura ilusão. O tempo é arrogante e turrão, não se dispõe a conversar, tampouco fazer um acordo de cavalheiros. Para ele, sou apenas mais um. Mais um de seus escravos. Lá fora há uma multidão de pessoas acorrentadas, torturadas, condenadas ao tempo. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
12/01/2010 -
Cachorro de bolso
Quando Eduarda chegou ao seu quarto, tarde da noite depois de uma festa de aniversário, encontrou um cachorro minúsculo no chão do quarto. De pronto, pegou o bichinho e colocou no bolso do vestido. Adorava vestidos de bolso para guardar ali todo tipo de tranqueira. Só estranhou que o bicho se remexia muito. Devia ser pilha nova. Além do mais, tinha outros brinquedos que se remexiam tanto quanto aquele. Levou a novidade para a pracinha, para a escola, para a igreja. E contava para todos que o tal brinquedo mexia como se fosse de verdade. ...
continuar a ler
Comentários (1)
11/01/2010 -
Antes, antes, antes
Antes que grite por socorro preciso lhe fazer desmaiar. Seja com um beijo de éter, com um abraço que lhe falte o ar ou com um choque anafilático de desejo. Antes que corra mundo afora preciso lhe prender, seja entre quatro paredes, entre linhas de um caderno ou, até mesmo, cortando suas asas de ave de rapina. Antes que desista de mim preciso lhe fazer desistir de você. Antes de cair em si preciso lhe fazer cair em mim. Em meus sonhos, em meus projetos em meu chão, que não é chão e sim teto.
...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar