17/01/2010 - Para além dos estádios
Domingo e estádios de futebol criaram laços difíceis de serem separados. Eu nunca fui apaixonado por gramados cercados por arquibancadas de concreto. Tanto que só entrei em um estádio ao longo de minha vida. E não foi Maracanã ou Morumbi, mas Wilson Fernandes de Barros. Um estádio para pouco mais de vinte mil pessoas erguido em uma cidade que tinha um público, no máximo, quatro vezes maior que isso.
O nome do estádio fazia referência ao principal patrocinador do clube – Barros Auto Peças. O seu Wilson, um português, tomou o time como seu e levou o sapo (mascote do clube) a grandes saltos. Levado por meu pai, eu vi Rivaldo marcar um gol do meio campo, vi os dribles de Leto, os chutes de Válber e ainda saboreei muito picolé de groselha e amendoim em casca.
Mas nem os sabores dos jogos ou dos picolés fizeram-me apaixonar por um estádio. Eu ia mais para agradar meu pai, que por pouco não se tornou um jogador de futebol. Mesmo não me sentindo em casa, chegava a torcer por gols do Mogi-Mirim. Isto era como torcer pelo meu pai. Mesmo indo a campo com essa missão, não devo ter entrado mais de uma dúzia de vezes naquele estádio que ficava a um bom estirão de nossa casa.
No entanto, teve um dia que adorei estar ali. Como aquele gigante de concreto ficava ao lado da escola, o professor de educação física nos levou para uma aula campal. E enquanto os alunos aproveitavam a oportunidade para bater uma bolinha naquele gramado que foi eleito um dos melhores do país, eu subi no degrau mais alto da arquibancada e dali eu vi o horizonte se perder para além de prédios, casas, árvores.
Por alguns minutos, entrei no clima do jogo e vibrei. Vibrei com a possibilidade de ao contrário de pés e pernas de craque, ter asas nos olhos.
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