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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 217 de 320.
09/12/2010 -
Para isso, aquilo
Para uma estrada sem fim, pés por asas de querubim. Para um amor se limite, homens e mulheres também sem limite. Para uma fruta madura, água na boca. Para uma realidade tediosa, uma noite louca. Para um vento solteiro, uma ventania. Para um sabor esquecido, uma lembrança. Para a falta de esperança, uma criança. Para um vestido, um nu. Para um girassol, um sol a girar. Para uma lua, um balão que flutua.
Para lábios ausentes, o conselho dos sábios. Para um carnaval fora de época, uma atitude sapeca. Para um edifício, um precipício. Para um naufrágio, um sufrágio. Para um sentimento que não se estanca, a eternidade. Para uma reza, a cura. Para um quadro de amor, um fado. Para uma prateleira de livros, olhos. Para um barzinho e um violão, o espanto da solidão. ...
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08/12/2010 -
Partes e apartes
Parto. Partilha. Partner. Pelas partes do mundo eu vou. Pelas artes do fundo eu sou. Pelos fraques do moribundo eu estou.
E em que parte do todo ou em que todo da parte está você, filha de Sartre com Afrodite.
De champanhe em uísque, de pedra de gelo em pedra de vulcão, de cálice em taça eu tomo. Eu a tomo; tomá-la-ei. De beijo em abraço, de desejos em ensejos, de carne em espírito eu como. Como, cama, coma. De mordedura em rugido, de fera em louco, de primavera em gemido eu domo. Eu a domo dama minha. ...
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07/12/2010 -
Chorar pelo leite derramado
Depois de hoje só restará amanhã. E amanhã já será tarde. Tarde para colocar nossos sonhos em prática. Tarde para fazer valer nossos desejos. Tarde para chorar pelo hoje. Tarde para querer o que não corremos atrás no passado. Tarde para comer o que não foi semeado. Tarde para perder o que não foi achado. Tarde para cantar a letra que não foi composta. Tarde para silenciar o que foi falado. Tarde para ninar o filho que não foi gerado. Tarde para chorar pelo leite derramado.
Ouça as sirenes do tempo. O dia de hoje é urgente, pois amanhã já será tarde. Tarde para reconstruir um caminho. Tarde para negar o destino que ajudou a forjar. Tarde para esconder o que não tem esconderijo. Tarde para ter medo do perigo que sempre lhe rondou. Tarde para remediar um coração sem remédio. Tarde para esquecer o que não dá para esquecer. Tarde para cumprir a promessa que não foi feita. Tarde para colorir o passado. Tarde para chorar pelo leite derramado. ...
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06/12/2010 -
Penduricalhos de natal
Pendure seus sonhos mais bem guardados nas galhas da árvore de natal. Pendure suas esperanças e o sorriso das crianças. Pendure as lembranças dos natais passados e o que colheu em suas andanças. Pendure as flores de Noel e as tranças da Rapunzel. Pendure os projetos prediletos, os planos de anos e as luas das ruas por onde passou. Pendure o que ficou depois de tantos balanços, retrocessos e avanços. Pendure música e dança e até mesmo a estrela que não se alcança.
Pendure o beijo que arde nos lábios e as teorias dos astrolábios. Pendure bolas tão redondas quão o mundo. Pendure o que encontrou depois do poço sem fundo. Pendure abraços e passos. Pendure as frutas da estação e um sabor temporão. Pendure velas e aquarelas. Pendure as poesias que colecionou. Pendure a promessa que vingou. Pendure a santa e essa força tanta. Pendure as meias e o medo que ainda receias. Pendure cartas e loucuras fartas. ...
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05/12/2010 -
Mulher de Copenhague
Castelos, reis e rainhas habitam a mulher que leva um buque de rosas de Copenhague. Rosas de seiva. Rosas de sangue. Rosas de chocolate. Quantos filmes, desenhos e histórias nascem da língua açucarada dessa mulher que tem um quê dos contos de fadas de Hans Christian Andersen. O amor que nela habita é monárquico, tão glamoroso quão autoritário. No entanto, as paixões que nutre são tão destruidoras como os vikings que um dia correram seu território.
O que se vê pela alma da mulher amada é uma mescla de construções antigas com prédios de design moderno. Diante da mulher de Copenhague há troca de guarda, entre guardiões do passado e solados do futuro. Ela vem de uma família real embora tenha tantos sonhos mundanos. É o sagrado e o profano duelando por sua dinastia. É o patinho feio se tornando cisne. É a dona dos sapatinhos vermelhos. É a pequena sereia habitando seus mares escandinavos. ...
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04/12/2010 -
Saídas
Não há o que discutir, é preciso sair. Sair do tempo, do firmamento, da pauta, da fragata. Sair da casa, do trabalho, da asa, do atalho, da brasa. Sair da rua, da lua, da nua. Sair da estrofe, da tosse. Sair do passo, do traço, do aço. Sair do mundo, do fundo do poço, da boca da menina, dos olhos do moço. Sair da vida, da estada. Sair do ritmo, do íntimo. Sair do tom, do batom, do tom sobre tom. Sair da cama, da lama, da trama.
Sair. É preciso sair. Sair da novela, da tela. Sair da roupa, da louca. Sair do caminho, do destino. Sair da história, da memória. Sair do prato, do fato, do mato. Sair do rio, do frio, do assovio. Sair da brecha, da mecha. Sair do pranto, do encanto, do canto. Sair do telefonema, do poema, do teorema. Sair da política, do ridículo, da titica, do monociclo. Sair do tédio, do prédio, do médio. Sair da água, da mágoa, da anágua. ...
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03/12/2010 -
A cor da saudade
Naquela mulher as linhas se alinhavam em destinos e desatinos como numa confecção particular. O maquinário moderno se mistura ao pedal da velha Singer que ficou num canto. Olhos de algodão. Palavras de tricoline. Braços de fita. Passos de gorgurão. Entre um ponto e um pesponto, as tesouras vão tentando cortar as cenas tristonhas e as fitas métricas vão medindo a saudade enquanto alfinetes se acumulam naquele coração que ora é de tecido ora é de carne.
Como é duro admitir que a vida fora do ateliê não é feita sob medida, tampouco cabe em moldes pré-desenhados. Os pais colocaram o pé na estrada deixando-a sem abraço sem boneca. Além do que um dos filhos habita outro mundo, a cachorra deixou de latir e o sogro já não vem. Os sonhos tiveram que ser reformados, remodelados, remendados, porém na sua camisa, de agora em diante, sempre hão de faltar alguns botões. Mas é preciso enfrentar essa vida que um dia é de seda, noutro de juta. ...
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02/12/2010 -
Quando a gente
Quando a gente saiu, eu entrei. Quando a gente se foi, eu voltei. Quando a gente acabou, eu comecei. Quando a gente beijou, eu mordi. Quando a gente parou, eu dancei. Quando a gente curou, eu feri. Quando a gente falou, eu calei. Quando a gente secou, eu chovi. Quando a gente prendeu, eu fugi. Quando a gente acreditou, eu menti. Quando a gente fechou, eu abri. Quando a gente achou, eu perdi. Quando a gente semeou, eu colhi. Quando a gente chorou, eu engoli. Quando a gente sorriu, eu amei. Quando a gente caiu, eu cantei. Quando a gente ligou, eu desliguei. Quando a gente ficou, eu jurei. Quando a gente ofertou, eu me dei. ...
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01/12/2010 -
O mundo das batatas
Já ouviu falar do planeta dos macacos? Pois bem, agora vivemos a era do planeta das batatas. Homens e mulheres batatas que pensam e agem como tal. Homens e mulheres que saem da terra para serem amassados, cortados, descascados, lavados, fritos, assados, cozidos, enfim, consumidos como batatas. Batatas grandes ou pequenas, claras ou escuras, lisas ou cascudas, mas sempre batatas. Batatas peruanas, inglesas, francesas, mas sempre mundanas.
Humanidade tão gostosa quão gordurosa. Humanidade uniforme e maçante, como a massa das batatas. Humanidade abundante, porém pouco nutritiva. Humanidade com formato arredondado irregular. Humanidade transgênica, batatada cênica. Humanidade agrotóxica, tão agro quão tóxica. Salada de sentimentos. Purê de neurônios. Sopa de atitudes. Bolinhos de fé. Suflê de olhares. Nhoque de relações. Receitas de humanidade, homo sapiens nu e cru. ...
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30/11/2010 -
Macumbeia
Os caminhos estão fechados, truncados, amarrados. Deixa estar. A pomba gira está girando no meio do terreiro. E aviso desde já que o caboclo desce cada dia mais faceiro. Que venha o gato preto cruzar a nossa frente enquanto o feitiço apura no caldeirão. É olho gordo, é engodo. É azar, é mal-estar, é agouro. É a língua do louro. Língua afiada, língua amaldiçoada. Tudo isso é a praga da praga que estão a nos rogar. Que os santos anjos se ponham em guarda para nos livrar de tantos quebrantos. Vem para cá, vamos macumbar. Vamos lá, fazer encanto no canto da lua de pimenteira. Êê, feiticeira me conta o segredo do seu bruxedo. Êê, fada arteira me ponha medo no seu ritual mais ancestral. ...
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