Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
07/12/2010 - Chorar pelo leite derramado

Depois de hoje só restará amanhã. E amanhã já será tarde. Tarde para colocar nossos sonhos em prática. Tarde para fazer valer nossos desejos. Tarde para chorar pelo hoje. Tarde para querer o que não corremos atrás no passado. Tarde para comer o que não foi semeado. Tarde para perder o que não foi achado. Tarde para cantar a letra que não foi composta. Tarde para silenciar o que foi falado. Tarde para ninar o filho que não foi gerado. Tarde para chorar pelo leite derramado.

Ouça as sirenes do tempo. O dia de hoje é urgente, pois amanhã já será tarde. Tarde para reconstruir um caminho. Tarde para negar o destino que ajudou a forjar. Tarde para esconder o que não tem esconderijo. Tarde para ter medo do perigo que sempre lhe rondou. Tarde para remediar um coração sem remédio. Tarde para esquecer o que não dá para esquecer. Tarde para cumprir a promessa que não foi feita. Tarde para colorir o passado. Tarde para chorar pelo leite derramado.

O relógio volteia meia volta, volta, volta e meia. Se deixar para amanhã, amanhã será tarde. Tarde para se afastar do que sempre esteve próximo. Tarde para sorrir do que não teve graça. Tarde para rezar pelo que nunca acreditou. Tarde para se reencontrar com quem já não está. Tarde para mudar o que não tem mudança. Tarde para confessar o que não tem culpa. Tarde para ter saudade do que não idade. Tarde para se safar do que está fadado. Tarde para chorar pelo leite derramado.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar