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Encontrados 254 textos. Exibindo página 3 de 26.
24/12/2015 -
Pirata espacial
Sou pirata do mar agreste. Navego pelos destinos da lua. Meu signo é lunar. Sou corsário cruzando as linhas de Tordesilhas, de Greenwich, dos trópicos, do Equador, das ciganas do ar. Roda saia pra lá, gira saia pra cá, gira a roda da vida, vida que roda na gira, cigana ê, cigana ah. Vou navegando, balaçando lá e cá, amando no mais inteiro significado do verbo amar. Dobro estrelas, busco cometas, fujo dos buracos negros e acho sossego nas constelações onde a Ursa Menor se deita com os escorpiões sob os olhos de Sagitário. Sou pirata que navega no aquário dos olhos da amada sem encontrar pouso, parada, tendo nas ondas do universo minha estrada. ...
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18/12/2015 -
Pontos e pespontos
Chega-se a mais um ponto. Não importa se final, de exclamação ou de interrogação. Se vírgulas, dois pontos ou ponto e vírgula. E ainda, se três pontos. O importante é que mais um capítulo é pontuado e a página virada, recebendo outra totalmente em branco, sem margens ou pautas. Mas antes de se jogar na próxima página, curta o seu ponto, seja lá qual for, por inteiro. Seja maior ou menor, um ponto é só uma pausa. E pausas são essenciais à continuidade da vida, feita de pontos e pespontos.
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08/12/2015 -
Pra refletir
Não importa o tempo quanto já há o entrelaçamento do que nos forma. O coração que informa do nascimento da paixão é o mesmo que deforma a imaginação. Falta certeza, sobra beleza. E vem o senhor das estradas e diz que somos tudo e nada. Ser feliz é viver cada amor como se fosse o derradeiro. Ser feliz é viver por um triz de corpo inteiro. Ser feliz é colher uma flor-de-lis onde plantou um coqueiro. A vida é o que nos surpreende, o que nos rende, o que nos apreende quebrando nossa expectativa. A semente só brota quando se quebra. Para chegar lá é preciso viver a queda. Só é feliz quem não medra. Não importa o tempo quanto já há o entrelaçamento do que nos forma. Só é feliz quem toma e permite ser tomado ao mesmo instante. Cante a felicidade e como o elefante não se esqueça dos seus. Dos seus dias, das suas euforias, das suas fantasias, das suas poesias. Do seu deus. De que tudo é ditado e sacramentado pela distância que há entre seu coração e sua mente. De repente, nada poderá separar o que ficou pra sempre.
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07/12/2015 -
Pássaro preto
Pássaro preto cantou na amoreira, lambuzou-se de amora, voltou pra casa e apanhou da passarinheira, que achou que ele a traiu com alguma biscateira.
Pássaro preto chorou a noite inteira, expulso do ninho, pousou num galho de goiabeira e toda a redondeza ouviu a beleza da sua choradeira.
Pássaro preto cantou na roseira, perfumou-se de rosa, voltou pra casa e se declarou para passarinheira, que teve a certeza de que ele estava numa zoeira.
Pássaro preto vou, vou até Madureira e na Portela seu choro rendeu samba e até enredo de carnaval. Pássaro preto cantou, desfilou, sambou e seu choro deu no jornal. ...
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18/11/2015 -
Pequeno grande aprendizado
Não precisamos de um naco a mais do que temos. Não merecemos nada além do que nos é dado. Não nos é ofertado uma semente do que não foi plantado por nós. Não saímos vencedores ou perdedores, apenas com as marcas do que fizemos. Não chegamos ao terceiro degrau sem ter passado pelo segundo. Não nos encontramos com ninguém por acaso. Não passamos por um caminho sem uma razão. Não realizamos ação alguma sem gerar uma consequência. Não mentimos ou enganamos, ou ainda iludimos quando o assunto é a nossa própria vibração. Não dormimos culpados e acordamos inocentes ou vice-versa. Não chegamos a lugar algum sem trabalho. Não há força alguma mais forte que a emanada pela simplicidade do amor.
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06/11/2015 -
Pedaladas
De bicicleta ela pelada pelas ruas sem medo, sem grades, sem regras demais. Avança sinais, sobe em calçadas, corta jardins, faz suas próprias estradas. Passa por senhoras, por bandidos, por crianças, por padres fazendo seu ritmo. Não sabe quantos aros tem suas rodas nem tampouco quantas voltas já deu, mas sabe que se chamasse Julieta já teria o seu Romeu também vindo de bicicleta. Não gosta de poesia nem de poeta. É mais do rock e se amarra no croc-croc da mudança de marcha. Acha que tudo é matemática, física, química, vida exata. Porém, no selim da bicicleta faz festa e joga tudo pro ar. São novos teoremas e não importam mais os velhos dilemas. Apaixonar-se? Casar-se? Pra que? Com dois, por mais que seja por vezes divertido, fica mais difícil se equilibrar na bicicleta. E esperta como só não quer seguir a passeio, pedala e mostra a que veio.
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16/10/2015 -
Pra gente ser feliz
Pra gente ser feliz é preciso tão pouco que a gente nem acredita e por isso continua no sufoco. Felicidade não é troco, troca é. Felicidade não tem caroço nem se guarda no bolso e está entre o que eu digo e o que eu ouço. O feliz pende pro lado da simplicidade, da honestidade, da ingenuidade. A criança que ainda não conhece e o velho que já se esqueceu das regras do jogo têm mais chance de ser feliz sem engodo. Pra gente ser feliz basta se jogar no escuro, deixar pra lá o inseguro, pular o muro e não se importar se o destino tem furo. Ser feliz é pedir bis sem se importar se isso está dito ou escrito, se é piegas ou bonito. Ser feliz é se esquecer das armaduras, legiões e brasões, estradas e cruzadas, e se deitar sobre flor, flores-de-lis, e rolar, e beijar, e amar mais até do que o sonho nos quis. Pra gente ser feliz é preciso querer e fazer o que sempre quis o coração. Que tal a gente se esquecer do chão, da lei da gravidade, da lei da saudade, da lei da idade e se perder na gente mesmo sem chegada e sem partida, sem coisa proibida. Pra gente ser feliz é preciso deixar clarear a noite e escurecer o dia, pois é no encontro que se dá a poesia da felicidade. E a felicidade o que é senão nossa cidade interior a piscar igual vagalume, pirilume, cardume de luz num clarão, num ardume, numa encantação tão breve quão leve. E quem é que não se atreve à felicidade? Todo mundo pode, todo mundo deve ser feliz porque assim em seus mandamentos de sentimentos deus nos quis. Eu quero te fazer feliz para me fazer feliz pra gente ser feliz.
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11/10/2015 -
Paz na guerra
Um dia saio do mundo
Noutro eu caio na vida
Giro em torno do eixo
Vou fundo na ferida
Encaro tudo de frente
E de ventre a ventre
Eu me deixo
Deixo-me em beijos
Arrepios e rios
De desejos e mais
Beijos e paz
Eu me deixo em paz
No meio da sua guerra
Nascendo na sua terra
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18/09/2015 -
Pensando ser pipa
Pensando ser pipa, o moleque subiu. Subiu na cadeira, na escada, na laje. Abriu os braços e esperou pelo vento. E quando ventou forte, correu, como que empinando a si mesmo, e pulou. Caiu. Quebrou o braço. Levou uma pisa da mãe. Perdeu o ano na escola. Mas não desistiu. Insistiu que queria ser pipa. Fez vareta. Caprichou na rabiola. Engomou o papel de seda. Pulou do barranco do macaco e quebrou a perna. Ficou de castigo. Levou um fora da Rosinha, que não queria namorar maluco. Passou um tempo e dando estirão no asfalto tentando pegar embalo com o vento para subir no céu da zona sul foi atropelado por um ônibus. Deu em tudo quanto é jornal. Três meses na UTI. A mãe fez promessa. O menino acordou. Um empresário se comoveu com a história do menino que queria ser pipa e o levou para voar de avião, de helicóptero, de asa delta. O menino ficou agradecido, mas não gostou. Queria mesmo era ser pipa. Cresceu frustrado prometendo para a mãe nunca mais fazer loucura. A mãe morreu. Num dia de vendaval se animou novamente, sentiu que podia. De um arranha-céu, onde trabalhava como pedreiro, correu, abriu os braços e pulou. Fechou os olhos e se sentiu pipa. O vento o sustentou por alguns segundos que pareceram anos inteiros. Não importava se seria seu último voo, se ia se acabar no chão ou nas mãos de algum ladrão. Pipa não pensa, apenas luta para se manter no céu.
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04/09/2015 -
Pisadas cegas
Meus pés me levam por estradas que eu não sei, mas que hei, por amor, de seguir e me descobrir a cada passo entregando-me ao tempo com a coragem do aço. Piso na falta de chão, bailando com nuvens sob os olhos da Lua de João, ou seria de Jorge o matador de dragão? Meus pés tateiam cada sentimento que o vento traz ao meu caminho e eu me espinho porque andar e não sangrar é igual a amar e não perdoar. E eu me alinho com as rosas que desabrocham pelo estradão como as prosas que adoçam, como açúcar mascavo, como mel de jataí, como minha boca a sorrir no seu peito, como torrão de coração. Meus pés - cavaleiros do infinito - vão volteando pelos seus cabelos e voltam cada vez que escutam ou enxergam seus apelos. As passadas vão vivendo o destino de procurar a amada tal e qual o menino procura o doce pelo mar de sal. Meus pés sabem as suas direções, porém se jogam aos labirintos das suas intenções e assim caminham cegos pelos pregos e ilusões de um amor sem fim. ...
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