Daniel Campos

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Encontrados 254 textos. Exibindo página 2 de 26.

27/04/2016 - Poesia não morre

Nunca tive medo da morte. Sou frágil sendo forte. Sou do sul, do meio, de dentro, do avesso, do norte. Tenho porte de cavalheiro na alma. Sou espírito afoito à procura da calma. Sou dor sem trauma. Sou pescador de fantasias. Sou ladeira, eira e beira, fogueira, vias e mais vias inteiras. Sou lua vazia, sou lua cheia. Sou candeia. Sou texto, sou verso, sou poesia. E poesia não morre. Corre para acontecer. Corre, corre para viver. Abra a porta, não importa se vai sofrer. Todo botão sofre para florescer. Todo carrilhão sofre para gemer. Todo coração sofre para bater. Todo sonho peleja para se realizar, e se não pelejou não valeu à pena sonhar. Quem sonha, quem ama, quem vive e não se enfadonha, não morre, como poesia apenas escorre.


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01/04/2016 - Pro seu formigueiro

Segura no meu peito. Puxa meus cabelos. Se ajeita em mim do seu jeito. Dependura em meus braços. Fica perfeita na minha asa. Guia os meus passos para você. Suspira na minha lira. Mergulha no aquário dos meus olhos e se joga no meu eu. Nunca diga adeus. Parte meu ser em tantas partes até me carregar por inteiro, como formiga que leva mais dia menos dia uma árvore toda para dentro do seu formigueiro.


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26/03/2016 - Para reflexão

Se, por acaso, deixar de ver, qual deseja ser sua última visão, aquela que ficará para sempre gravada com uma nitidez absurda no fundo de suas retinas?

Se, ao acaso, deixar de ouvir, que barulho, que voz, que música, quer que continue ecoando pelos seus ouvidos como o último som que ouviu?

Se, num caso, previsto ou não, deixar de falar, qual quer que seja a sua última frase, a quem vai destinar o seu derradeiro texto, a sua palavra final?

Se, num ocaso, perder os movimentos, qual estrada quer que seja a última para seus pés trilharem, qual corpo quer guardar para sempre em suas mãos? ...
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23/03/2016 - Preparado estará?

Não importa quando vai chegar, mas o fato de que chegará. E quando esse dia chegar, preparado estará? E quando esse dia bater na sua porta ela ainda se colocará fechada? De nada vale desejar, querer, pedir se não está pronto para receber. É preciso ter merecimento e preparo. De nada vale uma vontade sem o trabalho para possibilitar essa vontade. É como querer colher girassóis sem preparar a terra. E, meu irmão, há muito há preparar em teu íntimo. A lavoura interior necessita de cuidados diários, de um intenso labor e da paciência com o tempo das sementes. Semente alguma desperta porque queremos, exigimos, sentenciamos. Porém, somos nós que damos as condições para que uma semente se torne algo além de uma semente. Tudo é parte de um mecanismo preciso. Há de ter medida para tudo, exceto para o amor que é desmedido por natureza. Ama e ama sempre mais porque mesmo demais o amor ainda será pouco.


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21/03/2016 - Pela não omissão

Por mais que não acredite, o meu caminho é mais do que um convite. É missão. É sina. É sacerdócio. É um reencontro com minha casa, comigo mesmo, com o que eu pedi para mim. Não espero que aceite, mas que respeite a minha escolha de ser. Sou do outro, para o outro, pelo outro. O outro é o meu sentido. Por isso, a minha doação, a minha entrega, a minha divisão entre o céu e a terra. Eu não sofro, não sinto dores, não tenho sofrimento algum no que faço. O meu passo é para frente buscando o que eu um dia pelas mais diferentes razões, deixei incompleto. O meu trabalho é o que me leva adiante, o que me dá sentido, o que me renova, fortalece, redime. Nada me oprime senão a falta de poder fazer algo por quem tem dores, horrores, pavores maiores do que os meus. Trabalho, trabalho, trabalho para que não volte a chorar pelas oportunidades perdidas. Pior, muito pior, do que chorar por uma despedida, pela perda de uma vida, por uma esperança partida, é chorar pelo que teve condições de realizar e não realizou. Pior, muito pior, do que errar por agir é errar por omissão.


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18/02/2016 - Pitangueira

A pitangueira floriu na quadra inteira. O perfume da pitanga batia na varanda. E a vida me mostrava que tinha uma carta na manga. De repente, as abelhas ficaram vermelhas. Os marimbondos ficaram doces. O ar se avermelhou. O dia deu sabor a quem debaixo da pitangueira passou. Pitanga que cheira. Pitanga que não é feira, pois acaba no pé. Pitanga pra quem puder. Pitanga de ladeira, que quando desce leva quem quiser. Pitanga de Aruanda. Pitanga de fé. Pitanga que avermelha e adoça o coração de uma mulher. ...
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14/02/2016 - Pra entrar na minha casa

Por favor, bate o pé para entrar na minha casa. É casa simples, mas de fé, e merece ser respeitada. Tira o barro e a poeira, bate o pé na soleira da porta, deixando pra fora o que não é de agradar. Pode vir com todo amor, com muita cor e até trazer um bocado de flor, até uma vitória régia, mas nada de inveja, de sentimento que aleija, de mesquinhez, de frieza, de indelicadeza, de sordidez... Tira, tira o peso, a culpa, as máscaras, para entrar na minha vida, no meu lugar, no meu aledá. Por favor, respeite a minha fé, bate o pé para entrar no que sou e aproveite, de coração aberto, o que dou.


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12/02/2016 - Poetas de pedra

Ah eles chegaram e se apossaram do que eu sou. Foram pegando a minha vida, os meus amores, a minha lida e nada mais ficou como era... feito canteiro antes e depois da primavera. Ah eles chegaram e mudaram o meu destino. Eu, o menino, soltador de pipa, papagaio, maranhão, fazer de gol, lançador de pião, tive que ser o puxador de caminhos, o linho que recebe calado a linha, o galo que abandona a rinha. Deixei de ser moleque, pivete, para ser algo a mais que eu não sabia. E quando tudo se apagou outro dia se iluminou e eu me vi poesia. Ah eles os poemas chegaram e se apossaram do que eu sou. Foram me tomando e me fazendo amar de um jeito que eu não podia imaginar. E eu descobri, senti e vivi sentimentos tão novos, intensos, propensos à eternidade que eu em pouco tempo cai em outra realidade. E depois da queda em mim, levantei meio assim-assim e vaguei pela cidade dos poetas de pedra.


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15/01/2016 - Peça da memória

Fruta do pé tem gosto de infância. Meus pés correndo pelas terras orvalhadas de uma chuva que invernava bem uns quinze dias. E as frutas, colhidas na hora, tem gosto, cor e cheiro maduros. Comer de se lambuzar. E a fartura, na cabeça criança, é de que aquele pé tem mais frutas do que se pode comer. Tira uma, nasce outra. Mágico. Lá se vão os anos e sempre que possível a memória me prega uma peça e me traz um perfume, uma textura, um sabor, um tom daquela época. Volto no tempo. Divirto-me novamente numa intensidade infantil. E depois sobra na minha boca um gosto indecifrável de saudade.


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09/01/2016 - Pela língua, pela boca...

Movimenta a sua língua na minha e pela minha boca. Raspa as palavras da minha garganta como quem tira o melhor do doce do fundo do tacho. Foge dos meus dentes que se caírem aos desejos do meu eu mais carente vão tirar pedaço de você. Vasculha a poesia que adormece pela minha boca esperando a hora certa de nascer. Toma para si os meus gritos e silêncios, os meus gostos e paladares, toca a minha campainha e escorre pelos meus lábios como abelha rainha no mel. E, antes de sair, vá ao céu da minha boca e acenda sua estrela para vê-la brilhar por você chegar.


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