Daniel Campos

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Encontrados 278 textos. Exibindo página 26 de 28.

24/01/2017 - Os olhos do amor

Eu preciso de dieta, de drenagem linfática, de plástica... calma! O espelho não revela muito sobre você. O corpo físico é só um dos três reinos de nossa natureza. Além da matéria (que é o corpo), temos a alma e o espírito.

Por isso, por aí muitos dizem que o amor é cego. Na verdade, o amor permite que enxerguemos com outros olhos. Podemos até achar essa ou aquela pessoa linda plasticamente falando, e até mesmo nos sentirmos, num primeiro momento, atraídos por ela, mas isso não tem nada a ver com amor. O amor está além da física, da beleza estética, da beleza que o espelho nos permite enxergar. ...
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30/06/2008 - Os pandas estão de dieta

Era só o que faltava: os pandas, aqueles tradicionais ursos chineses, estão de dieta. Mas não pense que eles têm que emagrecer para serem aceitos em seu mundo social assim como a ditadura da beleza tem obrigado mulheres e homens a fazer. Não, eles não querem ficar esqueléticos como as top-models que ganham milhões a custo de uma magreza sofrível. Afinal, os ossos expostos andam tão valorizados pela mídia que o Esqueleto está quase virando herói e o He-man, bandido.

Mas voltando aos ursos, a dieta deles é forçada por conseqüências drásticas. Depois do terremoto, que devastou boa parte da China, as florestas de bambus sumiram do mapa. Ou seja, esses animais que se alimentam dessa vegetação que é símbolo de força e flexibilidade estão sofrendo com o racionamento. Racionamento de bambus. Os pobres animais estão fazendo dieta à base de ração e fruta. Resta esperar que isso não seja a gota d`água para sua extinção. ...
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26/06/2008 - Os pés da mulher amada

Seus pés deslizam em minhas retinas como duas conchas pequeninas vindas de um mar onde Netuno anda a assobiar canções de amor. Lá estão eles, pelas pedras do caminho, brincando de esconder nas frestas da sandália como crianças arteiras. Andam quase que totalmente expostos. São de uma semi-nudez que só aguça os fios da minha imaginação. No entanto, são tímidos como eles só. Em seu dorso, um ramo e algumas flores. Ali, a primavera é eterna. Seus dedos, pequeninos, simétricos, avizinham-se perfeitamente, convivendo em grande harmonia. Se fizer silêncio, é capaz de ouvi-los cochichando alguns versos. Suas unhas, afrancesadas, fazem biquinho antes de aceitarem seguir em frente. Puro charme!...
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23/02/2008 - Os seis primeiros meses

"Nossa vida é decorrência dos seis primeiros meses". Quando ouvi esta frase do doutor Dioclécio, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, eu, simplesmente, emudeci. É como se eu mergulhasse em queda livre horas e horas a fio. Mas, no tempo real, foram alguns segundos. Percebendo o meu silêncio, ele frisou: "Daniel, a vida do ser humano é conseqüência direta do que aconteceu nos seus primeiros seis meses de existência".

É nessa fase que ocorre o maior e mais intenso desenvolvimento cerebral. É o período em que as células nervosas estão se ligando, construindo nossa inteligência, nosso comportamento, nosso emocional. Estudos científicos ratificam que as pessoas que tiverem alimentação correta (aleitamento materno) e uma boa dosagem de estímulos afetivos (contato com mãe e pai - entenda-se: carinho) são mais tranqüilas. Os bebês que sofreram, durante os seis primeiros meses, algum tipo de prejuízo em relação a essas necessidades básicas serão, provavelmente, jovens violentos e agressivos. ...
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12/04/2008 - Os sete passos de Buda

Reza uma lenda que o nascimento de um menino trouxe para o mundo uma chuva nunca dantes vista. Do céu, caíram gotas doces, como néctar. Como em uma re-criação da humanidade, o mundo se enfeitou de flores para receber aquele menino. O menino? Ele se chamava Sidarta Gautama. No entanto, no decorrer da história, ficou mais conhecido como Buda. Mesmo com toda essa especialidade, sua mãe morreu durante o parto. O menino, que atingiu o nirvana e trouxe caminhos a serem seguidos por aqueles que querem se aperfeiçoar espiritualmente, tão logo nasceu saiu andando num caminho de sete passos. ...
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02/11/2010 - Os seus mortos

Chora por quem morreu, por quem se perdeu, por quem se esqueceu. Chora os mortos de carne e osso e os mortos de sonho e desejo. Chora por mortos conhecidos e também pelos desconhecidos, mas, sobretudo, chora pelos mortos que teve que enterrar. Neste dia dedicado aos mortos, faça uma lista de quantos sonhos você matou por necessidade e quantos sonhos você deixou morrer por omissão. Quantos futuros recém nascidos, já crescidos e até mesmo em fase de concepção morreram a partir de uma atitude sua? ...
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07/12/2009 - Os sinos não chegam ao Afeganistão

O final de ano chega com várias promessas, embora a maioria delas seja bastante antiga. Há muitas bocas falando em amor, paz, prosperidade. Há pessoas enfeitando árvores, paquerando presentes, planejando ceias. Tudo gira em torno de confraternização, de união, de paixão. Papais e mamães-noéis se abraçam pelas praças num abraço confidente. A cidade se ilumina. O novo tempo surge como redentor, capaz de perdoar todos os pecados de humanidade que, sobretudo, erra.

Paralelamente, trocando coros de jingle bells por palavras de ordem, exércitos marcham no e para o Afeganistão. O território destruído, improdutivo de sonhos, vai substituindo os fogos de artifício pelo barulho dos canhões. Pobres afegões que acreditaram nas promessas de paz de presidentes, de líderes mundiais, de seus ancestrais. O final do ano é apenas a continuidade de uma guerra constante e, quiçá, eterna. Dizem as lendas que o Afeganistão nasceu do ventre da guerra....
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28/05/2010 - Os tentáculos do câncer

Poderia ser apenas o nome de um crustáceo que caminha de lado, ou de um dos doze signos zodiacais, ou de uma das 88 contelações escritas na noite escura ou do trópico situado a norte do Equador, no entanto, é mais... É mais intenso, é mais assustador, é mais complexo do que animais, estrelas e coordenadas geográficas. É câncer.

Ele já mata mais do que a Aids, a malária e a tuberculose juntas. Os números assustam e evidenciam, como nenhuma outra doença, a vulnerabilidade humana. De fato, somos falíveis. O câncer faz com que coloquemos os pés no chão e enxerguemos que toda cultura tecnológica desenvolvida até então não consegue nos salvar de nós mesmos. ...
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24/11/2012 - Os truques de Seu Antônio

Seu Antônio, em sua última passagem pela Terra, era um homem cheio de truques e mistérios. Pouco se sabia sobre sua vida. Ele praticamente não falava de sua infância, de sua adolescência, de suas aventuras. Suas histórias sempre falavam sobre outros personagens. O segredo, para conhecê-lo, era ir juntando em seus causos e piadas pedacinhos dele. Como todo autor de boas histórias, coloca pitadas de si e do que o rodeio em suas narrativas.

Ele era o menino da história que nunca brincou. Ele era a criança tratada como bicho pelo pai. Ele era aquele de corpo franzino que carregava e descarregava mil caminhões de lenha por dia. Ele era o aluno que não pode estudar. Ele era um apaixonado pela dança. Ele era o jovem que teve que abrir mão dos bailes. Ele era o recém-casado que saia de casa com uma enxada nos ombros a procura do pão de cada dia. ...
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14/08/2008 - Os volteios do sol

Escandalosamente quente, o sol cai derretido feito calda de chocolate. Chega a causar enjôos e grudar na pele. Aquele calor todo na moleira faz a cabeça latejar. Em meio aos desejos de sombra e água fresca, os médicos advertem para os perigos do astro rei. A insolação me sufoca e me obriga a folgar o nó da gravata. Deveria ser proibido andar de terno em um calor como esse.

Os carros passam de vidros fechados, gozando do frescor do ar-condicionado. Os motociclistas falecem um pouco mais a cada quilômetro debaixo dos capacetes. Os ciclistas abrem os braços para se refrescar. E os pedestres se viram como podem, procurando a copa de uma árvore aqui, uma água-de-coco ali. É uma gente que anda se abanando, suando, escaldando de tanto calor. O sol, impiedoso, espanta, assombra, apavora....
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