23/02/2008 - Os seis primeiros meses
"Nossa vida é decorrência dos seis primeiros meses". Quando ouvi esta frase do doutor Dioclécio, presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, eu, simplesmente, emudeci. É como se eu mergulhasse em queda livre horas e horas a fio. Mas, no tempo real, foram alguns segundos. Percebendo o meu silêncio, ele frisou: "Daniel, a vida do ser humano é conseqüência direta do que aconteceu nos seus primeiros seis meses de existência".
É nessa fase que ocorre o maior e mais intenso desenvolvimento cerebral. É o período em que as células nervosas estão se ligando, construindo nossa inteligência, nosso comportamento, nosso emocional. Estudos científicos ratificam que as pessoas que tiverem alimentação correta (aleitamento materno) e uma boa dosagem de estímulos afetivos (contato com mãe e pai - entenda-se: carinho) são mais tranqüilas. Os bebês que sofreram, durante os seis primeiros meses, algum tipo de prejuízo em relação a essas necessidades básicas serão, provavelmente, jovens violentos e agressivos.
Mergulhei numa crise existencial coletiva. Olho lá fora e vejo mulheres tendo filhos como máquinas reprodutoras, pais que desaparecem no ar, babás que maltratam por maltratar, futuras mamães expulsas de casa pelo velho preconceito, pais e mães que trabalham mais e mais se ausentando demais, bebês que aparecem boiando nos rios ou em latas de lixo...
Confesso que fiquei preocupado com essa geração que está nascendo e crescendo sem ter amor, no mínimo, nos seis primeiros meses. Brasil, meu Brasil brasileiro, aproveita essa nova licença-maternidade que está prestes a ser aprovada na Câmara e desperta sua gente. É mais do que hora de amadurecermos para uma cultura de maternidade.
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