14/08/2008 - Os volteios do sol
Escandalosamente quente, o sol cai derretido feito calda de chocolate. Chega a causar enjôos e grudar na pele. Aquele calor todo na moleira faz a cabeça latejar. Em meio aos desejos de sombra e água fresca, os médicos advertem para os perigos do astro rei. A insolação me sufoca e me obriga a folgar o nó da gravata. Deveria ser proibido andar de terno em um calor como esse.
Os carros passam de vidros fechados, gozando do frescor do ar-condicionado. Os motociclistas falecem um pouco mais a cada quilômetro debaixo dos capacetes. Os ciclistas abrem os braços para se refrescar. E os pedestres se viram como podem, procurando a copa de uma árvore aqui, uma água-de-coco ali. É uma gente que anda se abanando, suando, escaldando de tanto calor. O sol, impiedoso, espanta, assombra, apavora.
Tranqüilo a tudo isso, um senhor de idade avançada passa de calça social, chinelo, camisa de mangas curtas e um guarda chuva escancarado ao céu. Ah! Como desejei aquele guarda-chuva. Não havia o menor sinal de chuva e o sol chicoteava o pano negro que cobria aquele homem que não dava a mínima para o que os outros iam dizer de seu companheiro inseparável. Aos risos e assovios, passava tranqüilo com seu guarda-chuva à procura de Mary Poppins.
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