Daniel Campos

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Encontrados 278 textos. Exibindo página 23 de 28.

26/02/2013 - Olhações

Olhos de fumaça que não me enxergam. Olhos de garça que se abrem para o céu numa envergadura de deixar qualquer um boquiaberto. Olhos de pirraça que só enquadram o que bem querem. Olhos cheios de graça que brilha e encantam, e cantam e brilham. Olhos no meio da praça entre sombras, coretos e árvores. Olhos de massa de modelar ganhando formas nas mãos de criança. Olhos de arruaça e de pintanças, cheios de meninices e danças. Olhos de amaçam, que de repente cercam como cortinas de teatro. Olhos de massa, servidos como um prato de espaguete....
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25/09/2008 - Olho obeso

Tem gente de olho no nosso pão. Tem gente de olho no nosso chão. Tem gente que tem olho de cão. Cão vira-lata, fura-saco, pidão. Zóio ruim, zóio gordo, zóio de seca pimenteira. É a marvada inveja que ralha e atrapalha. É o pecado capital que ninguém segura, que não tem cura, que chega a dar tontura. É uma mistura de raiva e tristeza no desejo de ter o que o outro tem, de ser o que o outro é, de fazer o que o outro faz. Cuidado, o mal olhado é o sentimento do ressentimento que nem o vento joga pro lado. ...
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04/09/2010 - Olhos de brisa

Seus olhos são cursos d’água. Sentimentos e palavras correntes pelos contornos urbanos do seu eu. Olhos de rios. Olhos de lagos. Olhos oceânicos. Olhos submersos, escondidos a mil léguas submarinas. Olhos ilhados, boiando nos meus. Olhos doces, néctar das gaivotas. Olhos de sal, saudade da cidade lateral. Como é bom sentir seus olhos respingando nos meus. Quantas braçadas são necessárias para cruzar seus olhos? Como eu faço para levar meu barco ao seu porto? Será que basta fechar os olhos e esperar seus ventos me soprarem seus segredos? ...
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05/03/2013 - Olhos de bromélias

Ela tem olhos de bromélias. Olhos que acumulam lágrimas e nas estiagens da felicidade alimentam-se da própria tristeza. Olhos de bromélias, selvagens, mas com facilidade de serem domesticados. Olhos amarelos, rosas, vinhos, roxos, vermelhos. Olhos de bromélias, apaixonantes e perigosos como pétalas de espinhos. Olhos longos e estreitos, mas extremamente macios, como as folhas dessa planta que dá de ombros para a seca. Olhos de bromélias abertos como um coração comestível. Olhos tropicais e exóticos. Olhos hospedeiros por natureza, criadouros de ilusão. Olhos que abusam de sua inflorescência. ...
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30/10/2008 - Olhos de peixe morto

Os olhos tristes do peixe na banca da feira são tão profundos quão o mundo que está ao nosso redor. Olhos de uma tristeza que aflora às escamas. Olhos parados, cansados de tanta guerra. Olhos vidrados, que não enxergam o anzol por detrás da isca. Olhos molhados, cujas lágrimas de sal nunca foram vistas. Olhos enlaçados por redes, cortados pela lâmina fria de um sangue que já não jorra. Olhos de peixe grelhado, ao molho, ensopado, ao azeite, assado, cru. Olhos de peixe cru. Olhos de peixe morto. ...
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21/12/2008 - Olhos de terra

O trator, na magia das rodas-gigantes, vai rodando pela terra que nos leva a rodar com ela. Sentado na carenagem do pára-lama vou de passageiro, de aventureiro e de companheiro de um tempo que já longe se vai. E ali, naquele altiplano, vou pela estreita estrada de terra escorrida entre árvores, plantações e o desfiladeiro da linha do trem. Na direção, como capitão daquelas terras, segue Liberato Barbosa, também chamado por Líbio ou vô. A estrada é curta perto do risco que nos rodeia. O sol, feito um pássaro de luz, pousa na palha dos chapéus e fica por ali, cantando seu canto de calor. ...
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27/02/2014 - Olhos não mentem

Ai, quantas borbulhas brincando em seus olhos. Sim, seus olhos são como duas taças de champanhe que me olham como se brindassem um novo tempo recém-começado. Borbulhas de felicidade, de esperança, de ansiedade. Olhos de champanhe, que embriagam num primeiro olhar numa intensidade que me leva a girar, a dançar, a cantar. Ah! Olhos que me puxam para o fundo, para o profundo do seu eu mais íntimo; segredos secretos e revelados.

Seus olhos bailam como uma espiral de infinitos tons, que se misturam numa loucura do mais refinado açúcar. Olhos que me prendem em seu brilho ao mesmo instante que se soltam no ar, flutuando como bolhas de sabão tão perto de mim quão em outra dimensão. Olhos livres. Olhos que trazem ondas de nuvem e mar num mesmo drinque. A sensualidade e o significado do champanhe borbulhando em seus olhos de sol e de lua. ...
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05/05/2012 - Omolu, rege minha saúde, Obaluaê

Atotô, atotô, Obaluaê, atotô, atotô ajuberú, Omolu. Palmas para Obaluaê, rei, senhor da terra. Palmas para Omolu, filho e senhor. Obaluaê é moço, é caçador, é guerreiro. Omolu é velho, é guardião, é feiticeiro. Eles são a mesma força da natureza, têm o mesmo significado e ligação. Omolu é Obaluaê, êê. Obaluaê é Omolu, atotô ajuberú.

Ninguém pode se atrever a ver o que se esconde detrás da palha de Obaluaê. Ninguém pode sequer imaginar encontrar Omolu nu. As palhas escondem o brilho do sol e o mistério da morte. As palhas ocultam o senhor das pestes e das moléstias. Obaluaê está no funcionamento do organismo. Omolu está na dor, na agonia, na aflição que sentimos. É o orixá que traz e leva as doenças. ...
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11/12/2008 - Onofre, nofeeeee

Sem quaisquer avisos, seu Antônio, um camponês de olhos doces e barriga avantajada, apareceu na vila, que fica lá detrás do mundo, trazendo um casal de bezerros recém desmamados. Até aí, nada de anormal. O intrigante dessa história é que uma menina de dois anos chamada Maria se apaixonou perdidamente pelos bichos, principalmente por Onofre. Isso mesmo, por distração ou pirraça, seu Antônio batizou o boi caramelo com o nome do coronel mais temido do local. E se dependesse da empolgação de Maria, o cabra saberia logo do acontecido e seu Antônio pagaria o pato. Mas como a história não é nem de cabra nem de pato, vamos dar a palavra ao Onofre. ...
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03/09/2011 - Onomatopéico

Toc Toc! Quem é? Atchim! Saúde. Au au! Se esconda. Bi bi fom fom! Shhhhhh. Não vá perder o piuí piuí. Vá acudir o unhe unhe. Toc toc! Quem bate? Nhecc! Piiiii. É o guarda. Booom. Se proteja. Há há há! Não achei graça. Fiu fiu! Que linda. Tchibum! Que calor. Blém blém! O padre está chamando. Cof cof. Não estou bem. Méee. Muuu. Béee. Que confusão no quintal. U u á á. Uga uga. Será macaco ou índio? Nhac Nhac. Crunch. Quer um pedaço? Sei não. Hmm. Que pena. Aiai. Burp. Desculpe. Argh! Que nojo. Ssssssss. Mata o mosquito, mata! Zum zum. O mel deve estar perto. Clap, clap! Bravo, bravo! ...
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