11/12/2008 - Onofre, nofeeeee
Sem quaisquer avisos, seu Antônio, um camponês de olhos doces e barriga avantajada, apareceu na vila, que fica lá detrás do mundo, trazendo um casal de bezerros recém desmamados. Até aí, nada de anormal. O intrigante dessa história é que uma menina de dois anos chamada Maria se apaixonou perdidamente pelos bichos, principalmente por Onofre. Isso mesmo, por distração ou pirraça, seu Antônio batizou o boi caramelo com o nome do coronel mais temido do local. E se dependesse da empolgação de Maria, o cabra saberia logo do acontecido e seu Antônio pagaria o pato. Mas como a história não é nem de cabra nem de pato, vamos dar a palavra ao Onofre.
"Por que Onofre não fala, mamãe"? "Como será que ele faz para conversar com a mãe dele, mamãe?" "Tem que levar ele no médico, mamãe"? Ela não gostava de gado, tinha medo, mas como Onofre era pequenino como ela, tratou de selar uma trégua com os bovinos. Até montar nas costas do bicho ela montou achando tudo uma boniteza só. Ainda sem saber pronunciar direito as palavras, a pequena Maria não falava em outra coisa senão de Nofeeeee. Queria dar leite para o bezerro e segurá-lo no colo como se fosse um filhote de gato ou cachorro. Deixou de lado até seus coelhos de estimação para cuidar do boizinho. Não deu mais sossego a seu Antônio, que tinha de se ver as voltas com Onofre. Tirava-o das rodas de conversa e o levava para o curral, já que tinha de cuidar da criação.
Mal acordava e já corria pro curral e à noite, dava um jeitinho de espiar o boizinho, nem que fosse por sonho. Deixou em segundo plano a bicicleta, as bonecas e até os pais para dedicar sua atenção ao Nofeeeee. Em razão do ubre avantajado e de ser bem mais arisca, Maria não dava muita importância para Chulinha, a mulher de Onofre. Tem que comprar milho pro boi. Tem que colocar o boi para dormir. Tem que conversar com o boi, visto que ele tem saudade da mãe dele. Tem que levar uma coberta pro boi para ele não pegar resfriado. Seu Antônio nunca trabalhou tanto. Mas estava feliz com aquela neta rodeando seus pés. Aproveitava cada segundo daquela festa, pois Onofre cresceria transformando o amor de Maria em medo. Mas por enquanto, o destino era segredo, ao menos, para os pequeninos.
Comentários
Nenhum comentário.
Escreva um comentário
Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.