Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 50 textos de agosto de 2015. Exibindo página 3 de 5.

21/08/2015 - 50 anos de jovem guarda

Meu pai era menino do interior de um tempo de tantos nascimentos e renascimentos. Menino das peladas de dribles desconcertantes e dos gibis que passavam de mão em mão. E na televisão que meu pai via na casa de um vizinho, ainda com imagem tremida e cores resumidas ao preto e branco, nascia, em um programa de auditório, a Jovem Guarda. O tremendão, o rei e a ternurinha em meio a um tanto de músicos e cantores e grupos numa batida diferente do yê-yê-yê. As tardes de domingo de meu pai e de tantos outros jovens, de corpo ou de espírito, nunca mais foram os mesmos. E o vocabulário deu lugar a "broto", “papo-firme”, "carango" e a "é uma brasa, mora?". A moda mudou, a forma de falar de amor mudou, o mundo ganhou em espontaneidade e liberdade. Cinquenta anos depois não há mais jovem guarda nas tardes de domingo da televisão, mas o ritmo da juventude continua inspirando e levando vidas. Assim como muitos os que assistiram esse nascimento, como meu pai, ficaram marcados por uma espécie de elixir da juventude quando provaram o mais jovem de todos os tempos e ritmos – a jovem guarda.


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21/08/2015 - Rendeira

Sinhá rendeira
Me enreda no seu oiá
Deixa eu admirar
Seu ponteio de cá a acolá

Sinhá rendeira
Renda-me de tanto amar
Nas suas rendas me faz voar
Assovia pro seu sabiá


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21/08/2015 - Outra chance

A lua chegou
O dia terminou
O mundo se abriu
E a distância entre eu e você
No espaço sumiu
Como num cometa
A esperança passou
E tudo o que se foi, voltou
O coração se recriou



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20/08/2015 - Reza o beijo

Quando você voltar para mim não se esqueça de trazer todos os beijos guardados. Traga de volta à boca o beijo que amarelou, que enferrujou, que amassou, que rasgou, que desbotou, que embolorou... Beijos passados que não passaram. Beijos perdidos que se encontraram. Beijos dormidos, esquecidos, banidos, proibidos agora são permitidos. Beija-me. Beija-me numa ladainha de beijos, numa procissão de beijos, num confessionário de beijos. Reza o beijo. Que cada beijo se reavive no próprio desejo de ser beijo sem mais ensejos. ...
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19/08/2015 - Atreva-se e viva!

Nenhum de nós sobrará para contar o que fomos e ainda somos. O mundo se abrirá e nos engolirá de uma só vez. Não existirá mais talvez, apenas a certeza de que tudo acabou. Seremos extintos pela nossa incompreensão. A partir do momento em que deixamos de ser humanos quebramos as regras do jogo. Até mesmo aqueles que já foram pássaro, pedra e árvore serão tragados pelo fim. Nada restará por inteiro. E mais dia menos dia até mesmo nossos pedaços de nós mesmos desaparecerão. Nossos rastros se apagarão. A natureza poderá voltar a reinar sem maiores interferências. E toda ciência de nada adiantará. Uns ainda se guiarão pela fé rumo a outros mundos, mas a maioria sucumbirá à escuridão. E quem acenderá as velas? Olha, olha do tudo a janela, pois daqui a pouco poderá não existir mais mundo a ser visto, cheirado, ouvido, quisto. Atreva-se e viva!


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19/08/2015 - De você

No seu colo eu me aninho
No seu rosto eu me pinto
Nas suas pernas me animo
Aos seus olhos não minto
Em seus braços me deito
Em suas costas me desenho
No seu vou eu me venho
Na sua boca eu me ajeito
Aos seus pés me atarraco
Por você eu morro e mato
Nos seus cabelos me tranço
Cada sorriso seu eu alcanço
Eu me afundo e vou fundo
Pela sua pele, alma, mundo
Juntos, somos cólera e unguento
A você dou todo o meu tempo...
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18/08/2015 - Corsário pierrô

Olhos de pierrô
Boca de tulipa
Língua que antecipa
O chororô do amor
Mãos de estradeiro
Pernas de maré alta
Que puxa a fragata
Do coração inteiro
De onde vem?
Pra onde vai?
Será que tem?
Será que trai?
Olhares de tragédia
Beijos de enciclopédia
Corpo planetário
Olhos de corsário


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18/08/2015 - Viramento

Vira mais uma de amor. Estamos a oito mil rotações por minuto. Tudo gira. E a cada beijo eu sinto parar no alto da roda gigante de um parque iluminado de lua cheia. Rodeia-me enquanto rodo o seu corpo no meu. Sou seu catavento. Roda, roda, roda seus olhos nos meus olhos enquanto nossas peles misturam seus óleos. Rodopia sobre mim. Faz viramento de mim. E vamos nos virando e nos amando e nos encontrando nas voltas desse carrossel. Faz seu circulador em mim. Corrupia-me com seus passos, braços, traços, percalços, estardalhaços, compassos. Volteia-me com suas voltas sem volta virando sempre mais uma de amor.


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17/08/2015 - Continuo aqui

E eis que eu volto
De onde nunca sai
Pode não ter me visto
Mas eu não escapuli
Um segundo de milímetro
Sequer daqui

Eu vivo aqui
Faço desse terreiro
Minha casa física e abstrata
Minha terra, céu e ar
Faço desse local
Meu paradeiro andante
Minha passagem fixa
Minha árvore com asas

Minhas raízes são aéreas
Minhas nuvens deitam
E rolam pelo chão
Como crianças sorridentes...
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17/08/2015 - Carne de cajá

Minha alma anda amarelo cajá como peito de sabiá. Meus braços têm traços de todos os espinhos que enfrentei para chegar às rosas que tanto beijei. Eu ando rico de natureza, pois todas as forças andam confluindo em mim de um jeito pra lá de tupiniquim. E eu, como passarim, esqueci do meu peso físico e cármico e voei longe, voei alto, voei pros braços de quem me chamou de seu. Por Deus, que as estrelas se apaguem todas de uma vez para que eu não ache o caminho de volta e fique perdido nesse amor doído. Deve estar inscrito em alguma escritura esquecida que amor que não dói não é amor. Minha alma anda ensolarada, guardado todo o seu exotismo, como carne de cajá. Quem há de ter coragem de provar? Que venha logo, que venha logo, pois se pode acabar.


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