Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 62 textos de julho de 2014. Exibindo página 3 de 7.

21/07/2014 - Amor trapezista

Sou artista de um amor trapezista que a cada salto leva à perda de fôlego, ao risco de se acabar no chão por querer voar sem contar com asas. Um amor que não se aquieta e que faz valer sua alma poeta querendo estar no ar, querendo mergulhar no impossível, querendo ganhar o plano mais incrível. Um amor que não precisa de redes para ser amparado. Um amor sem medo de se machucar. Um amor que acontece num céu de estrelas pintadas à mão, perto dos anjos de lona coloridos para esconder a tristeza do amor ao qual foram proibidos. Um amor de trapézio, que balança para se manter vivo no seu espetáculo interior. Um amor visto e vivido por muitos somente de longe, de muito longe, onde o leque de detalhes mais íntimos se esconde. Um amor que precisa de confiança para se sustentar, se misturar, se multiplicar nas alturas. Um amor que voa de ponta cabeça e até faz pirueta ignorando a lei da gravidade. Um amor que se joga independentemente de aplausos. Um amor que não faz conta de bilheteria, mas de viver um mundo de fantasia em plena realidade. Um amor que traz o que há de mais fundo à tona. Um amor com o poder de mexer com fortes emoções. Um amor de picadeiro sem medo de se expor de corpo inteiro. Um amor que arrepia de tantas formas. Um amor que não se conforma em ser o mesmo todo dia, pois quer desafiar o ontem, o hoje e o amanhã. Um amor que busca a cada ato o brilho do olhar pelo qual existe. Sou artista de um amor que chama atenção, que aflora sedução, que causa atração e ao mesmo tempo medra quem o toca a mão, pois para subir esse amor precisa cair, pois para agarrar esse amor precisa soltar, pois para voar esse amor precisa estar em queda livre.


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21/07/2014 - Sorriso de porta retrato

Eu amo pensar que esse sorriso
De lábios fartos
Nasce para mim
Não só nesse olhar fotográfico
Do porta retrato
Do meu quarto
Mas que você
Entre artes e afazeres
Do seu dia a dia
Feito um buquê
Cereja-champanhe
Sorri assim
Dessa forma
Desse jeito
Com essa medida
Ao se lembrar de mim
Um sorriso com gosto
Um sorriso bem posto
Quente e vívido
Que denuncia
De forma espontânea...
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20/07/2014 - Náufrago de amor

Sou náufrago em mar aberto de um amor que (não) deu certo. Há solidão por todos os lados com suas ondas bravias. Piratas passam com seus tapa-olhos rindo da minha paixão (mais) cega. Há gaivotas brancas, lindas com suas asas envergadas, que me beliscam a carne como se fossem abutres fedorentos. Todas as sereias que me rodeiam têm o rosto da mulher que amo. Todas elas cantam lindamente na minha língua ou em línguas desconhecidas. Essas sereias todas são a mesma pisciana que me quando quer me coloca na escuridão completa ou nos seus vértices luminosos numa espécie de colo estelar. Ora é metade mulher metade peixe, ora metade mulher metade estrela. O rei Netuno crava seu tridente em minhas costas com raiva por eu ter flertado com sua filha. O sol, aparentando ter milhões de vezes o seu tamanho normal, dá febre e delírios intensos. E no embalo dessas vertigens chamo pelo nome da mulher que amo. Sou náufrago de um mar tão, mas tão salgado que em muitas horas penso estar dentro dos meus olhos prantosos. Há ilhas de saudade que me dão acalanto fazendo-me por alguns instantes de miragem me desvencilhar do pesadelo real. E eu me pergunto naquele infinito de ausência se sou alguém que luta para sobreviver ou que não aceita a própria morte. Sou náufrago de um amor que deu certo.


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20/07/2014 - Nós dois, dois nós

Nós dois
Dois nós
Cegos
Que eram dados juntos
Apaixonados
Um sobre o outro
Hoje
Amarram-se sós
Num amor a sós
Num tempo só


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19/07/2014 - Tão só, mas tão só

Fiquei só. Tão só. Mas tão só... Cato frases de amor já não ditas espalhadas pelo chão pós-vendaval. Alimento-me dos pedaços de um passado tão apaixonado que não teve chance de ser presente, quiçá futuro. Ando entre o que fui e o que não pude ser, pois já não sou. Já não sou nada além de só. De um ser só. De só ser meu só. E, por favor, não tenha dó. E, por favor, não esmole amor. E, por favor, não me impeça de viver no ontem, pois o hoje não tem graça, pois o hoje não tem sentido, pois o hoje não tem valor algum a quem agora é só mais um nenhum. Eu colo fotografias rasgadas. Eu emendo as linhas do destino. Eu reúno previsões, profecias e desejos num espelho só. Eu tento entender na minha fraca filosofia, na minha ultrapassada ideologia, na minha cega fantasia, o que houve para ser assim: tão só quão fim. Fiquei só. Tão só. Mas tão só. Que minha poesia bate (e se debate) numa só nota: dóóóóóóóóóóó.


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19/07/2014 - Fala peito

Meu peito
Ronca
Como cuíca solitária
Na quarta de cinzas

Meu peito
Geme
Como carro de boi
Na estrada vazia

Meu peito
Grita
Como ave órfã
Abandonada no ninho

Meu peito
Chia
Como vela ao vento
Num cortejo só

Meu peito
Uiva
Como lobo apaixonado
À lua cheia de solidão.


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18/07/2014 - No seu lugar

Que eu sinta todas as suas dores. Que eu sofra por você, por mim, por nós. Que eu seja espinho e você flor, como deve ser, e espinho não alcança a flor. Que eu absorva todos os seus medos e preocupações. Que eu seja culpado por tudo e você absolvida sempre. Que tudo de ruim venha pra mim e nada sequer respingue em você. Que eu chore todo seu pranto. Que eu morra quantas vezes for preciso no seu lugar. Que eu carregue todo e qualquer peso em seu lugar. Que todos os problemas, mesmo destinados a você, batam na minha porta. Que eu caia no seu lugar. Que você esteja, por algum milagre operado por mim, isenta dos males dessa terra. Que tudo o que for para lhe adoecer, encontre abrigo em mim. Que as chicotadas do seu destino estalem nas minhas costas. Que suas dívidas sejam debitadas da minha conta. Que a sua corda arrebente toda vez em minhas mãos. Que todas as suas loucuras me invadam. Que eu seja destruído para que você possa ficar inteira.


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18/07/2014 - Dez poeminhas

Eu não me enganei
Em parte
Ou no todo
Eu amei
Amo e amaria
Novamente
Com arte
Quem me levou aos céus
E ao lodo
Com a mesma intensidade

***

É desesperador
Quando se busca consolo
Para o colapso de um amor
Por entre nuvens de confrei
E um anjo lhe diz
Eu avisei, você não escutou
Sonhou, sonhou, sonhou
E agora o sonho quebrou
E não há como ser feliz ...
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17/07/2014 - Perdão de amor

Perdoa
Perdoa esse meu estranho amor
Que é dado a loucuras
E não tem explicação ou freio
Quanto mais sofro mais asas ganho
Dos cupidos que me guardam

Perdoa
Perdoa se não tenho cura
Se meu amor é livre e tamanho
Que não cabe num baú de lembranças
Perdoa se eu morro antes da esperança
Se eu sou dado ao impossível

Perdoa
Perdoa se eu amo feito bicho
Que não sabe disfarçar a tristeza
Se eu me procuro no seu lixo ...
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17/07/2014 - Não deu tempo, Valentina

Não deu tempo de eu falar numa canção de ninar o quanto sonhei que os sorrisos de mãe e filha fossem iguais. Não deu tempo de você rir da minha cara de bobo assim como fazia sua mãe. Não deu tempo de você se orgulhar das histórias de amor que esse seu pai iria lhe contar. Não deu tempo de você engatilhar em minha direção e se sentir segura em meus braços feito sua mãe. Não deu tempo de eu desejar que você tivesse os olhos, as mãos, os pés, as pintinhas de sua mãe. Não deu tempo de eu ver você crescer na barriga que tanto me encanta. Não deu tempo de lhe contar em segredo boa parte das minhas loucuras apaixonadas. Não deu tempo de eu ganhar uns tabefes de sua mãe por lhe introduzir numa alimentação nada saudável. Não deu tempo de eu assoviar seu nome entre as cordas do violão que já chamou tanto por sua mãe. Não deu tempo de eu lhe ensinar a ler meus versos, poemas que desejei escrever pelo corpo de sua mãe. Não deu tempo de lhe vestir de rosa e tiara de diamantes, afinal filha de princesa, princesa é. Não deu tempo de lançar beijos aos olhos de sua mãe tendo você entre nós na cama. Não deu tempo de lhe dar um banho de ouro, tampouco uma chuva de pérolas. Não deu tempo de você descobrir o quanto sua mãe é digna de ser amada. Não deu tempo de você conhecer a teimosia de sua mãe. Não deu tempo de você me chamar de herói. Não deu tempo de eu levar junto a mim a miniatura de sua mãe. Não deu tempo de eu levantar da cama atendendo ao seu choro na ponta dos pés para não acordar sua mãe. Não deu tempo de lhe aconselhar sobre o amor. Não deu tempo de lhe presentar com uma coleção de bonecas inspiradas na sua mãe. Não deu tempo de lhe mimar sem deixar jamais de mimar sua mãe. Não deu tempo de eu ver qual a cor do primeiro esmalte que pintaria suas unhas. Não deu tempo de entrelaçar minhas mãos nas mãos de sua mãe durante seu parto. Não deu tempo de ficar contando dia após dias mais ela a sua chegada. Não deu tempo de embalar seu sono rumo ao mundo dos sonhos onde eu sempre vivi com sua mãe. Não deu tempo de lhe falar o quanto sua mãe me fez esperar. Não deu tempo de lhe contar nada sobre as estrelas que sua mãe me fez conhecer tão bem. Não deu tempo de lhe perfumar da primeira essência que encontrei em sua mãe. Não deu tempo de eu lhe levar de mãos dadas a reinos encantados onde sua mãe habita com desenvoltura. Não deu tempo de alegrar o seu choro. Não deu tempo de assim como sempre busquei fazer com sua mãe trazer pra mim todas as suas dores. Não deu tempo de não levar tudo tão a sério e me permitir a brincar com você. Não deu tempo de ouvir as ideias criativas de sua mãe para decorar seu quarto. Não deu tempo de lhe fazer surpresas (sua mãe certamente lhe contaria que eu adoro surpresas). Não deu tempo de saber quem seria mais menininha, você ou sua mãe. Não deu tempo de dizer que você tem a mais linda mãe desse mundo. Não deu tempo de você descobrir que é filha de um anjo torto. Não deu tempo de lhe dizer que nossa família está além do tempo. Não deu tempo de saber qual tatuagem sua mãe faria em sua homenagem. Não deu tempo de ver sua mãe dar o braço a torcer no assunto maternidade. Não deu tempo de você protagonizar capítulos do romance que lhe geraria. Não deu tempo de eu lhe ensinar que o impossível é possível. Não deu tempo de você se alimentar daqueles seios de devaneios. Não deu tempo de você ser uma bichinha preguiça tal qual sua mãe. Não deu tempo de lhe ver como espelho da sua mãe. Não deu tempo de ter com você um mundo tão próprio como com sua mãe. Não deu tempo de lhe colocar no balé. Não deu tempo de você me chamar de afoito. Não deu tempo de eu ceder a sua birra como me acostumei a fazer com sua mãe. Não deu tempo de despertar de uma vez em sua mãe o desejo de ter você. Não deu tempo de a gente ter na mesma intensidade por um tempo a mais esse querer. Não deu tempo de não lhe perder, de não lhes perder. Não deu tempo de você dizer as suas amiguinhas "sou filha de um amor de conto de fadas".


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