Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

Arquivo

2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Encontrados 62 textos de agosto de 2014. Exibindo página 1 de 7.

31/08/2014 - Saudade do seu abraço

Tenho saudade do seu abraço. De poder passar dez anos de conforto em dez segundos em seus abraços. De sentir suas mãos buscando trópicos e meridianos em minhas costas. De suas mãos escrevendo em minha pele o quanto me gosta. De sentir que todos os meus sonhos cabem perfeitamente no seu colo. De não querer mais sair desse abraçamento. De ser enlaçado por seus calores e tremores de prazer e bem querer. De saber que de um jeito ou de outro quer me guardar consigo ao mesmo instante que me deseja como abrigo. De ter a certeza de que nosso encaixe é perfeito em formas, texturas e essências. De confundir braços com asas. De flutuar entre a malícia e a inocência. De me jogar e de lhe receber na mesma intensidade. Do seu abraço tenho saudade...


Comentar Seja o primeiro a comentar

31/08/2014 - O que eu tenho passado

Por mais que tente imaginar
Você não sabe o que eu sinto
Como tenho vivido de lá pra cá
Daqui pra lá, de zanzá até acolá
Sem que consiga lhe achar
Em qualquer lugar
No cálice do altar no copo do bar
Mesmo estando diluída no ar
Numa espécie de perfume
Que por nada há de passar

Por mais que tente imaginar
Você não sabe o que eu passo
Como tenho suportado a falta
Dos seus abraços e o ardume do aço
Das lanças dos senhores do tempo...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

30/08/2014 - Maltagliati

Meu coração maltagliati por suas mãos. Todo mal cortado em italiano. Sem qualquer preocupação com a métrica, servido al dente à passione que há em sua boca. Retalha os retalhos do meu tenro coração corado e serve a si própria sem qualquer pudor. Chega à mesa sob um ótimo pesto de sentimento. Mangiare, mangiare, mangiare meu coração maltagliati por suas mãos. Meu coração, meu coração, meu coração em pequenos pedaços distintos por tamanho, forma e espessura numa fome sem cura. Meu coração, meu coração, meu coração maltagliati visitando sua boca numa simplicidade moderna à moda de Anita Malfatti.


Comentar Seja o primeiro a comentar

30/08/2014 - Ponto cego

Mal me acostumei
Nunca me cansei
De ver refletido
No seu olharido
Tudo o que sou
Meu olhar beijou
O seu e lá ficou


Comentar Seja o primeiro a comentar

29/08/2014 - Arte do pretérito

Eu tenho um sonho antigo que você bem que poderia sonhar comigo. Eu tenho três quartas de terra num coração que sobe serra e do amor não se aparta. Eu tenho um céu de asa-delta que bem cabe essa sua curvatura de atleta. Eu tenho duas colinas exclusivas pras bandas do sonhador ideais pras suas pernas meninas e lascivas. Eu tenho uns trezentos vagalumes que são capazes de iluminar sua cama entre a luz e o perfume das damas da noite. Eu tenho direito a efeitos especiais, de neblinas às cortinas de fogaréu, perfeitos para casais. Eu tenho acertos e enganos que podem ser encarados à vista ou parcelados em milhares de planos. Eu tenho um pé de fantasia que dá de comer noite e dia em frutos de poesia. Eu tenho um mistério que nos leva ao futuro do presente mesmo sendo partes da arte do pretérito.


Comentar Seja o primeiro a comentar

29/08/2014 - Coração retirante

Meu coração retirante
Arruma malas avante
Pelas boleias da lua
Pelas colmeias da rua
Pelas plateias tão nuas
Meu coração retirante
Ora engolindo poeira
Ora atolado na lama
Abandonado sob viadutos
Sem salvo-conduto
Vai perseguido
Cai dolorido
“Ai” em dó sustenido
Meu coração retirante
Revira latas de sentimento
Para se alimentar de algum amor
Tropeça no adiante
Atravessa andante...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

28/08/2014 - Quem é essa?

Que mulher é essa que a todo instante me quer a caminhar na prancha de encontro ao mar alto dos tubarões que a todos tomam de assalto? Que menina é essa que constrói Muralhas da China entre o seu e o meu peito num profundo desrespeito ao amor sentido e não vivido? Que garota é essa que insiste numa outra realidade como se não fosse sujeita à saudade? Que criatura é essa que caminha em minha direção e me culpa como quem me multa por estar na contramão dos nossos destinos? Que beldade é essa que me leva a todo instante a querer ficar e a mudar de cidade numa calamidade de vontades? Que pessoa é essa que pensa que meu coração é o espaço mais à toa deste planeta ora lhe fazendo careta ora lhe vendo de luneta? Que fêmea é essa que reluta para separar os corpos de suas almas gêmeas?


Comentar Seja o primeiro a comentar

28/08/2014 - Sem míngua

Melindra
De linda
E finda
Sua língua
Na minha
Restinga
E pela linha
Da costa
Encosta...


Comentar Seja o primeiro a comentar

27/08/2014 - Quem vai, quem fica

Por maior que seja sua dor
Não chora por quem se foi
Chora pelos quem ficaram
Não pese de lágrimas
O espírito que precisa seguir
Por caminhos estreitos
E íngremes

Por maior que seja sua dor
Não tente segurar com você
Quem precisa ir embora
A morte está além das vontades
De quem vai, de quem fica
Não dificulte ainda mais
A transição entre os mundos

Por maior que seja sua dor
Compreenda que a morte é vida...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

27/08/2014 - A primeira de muitas quartas sem Dona Ofélia

Quarta-feira. Justamente no dia em que a senhora se sentava sempre no terceiro banco da direita da igreja com sua garrafinha de água e seu leque para acompanhar a Novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Hoje, os sinos da Matriz de São José estão se dobrando mais tristes. Dificilmente a gente se encontrava às quartas-feiras, justamente porque era o dia dedicado pela senhora à prática de um dos compromissos mais importantes que tinha com sua fé. Gostava de chegar cedo à igreja para participar da reza dos mistérios do terço. Perdi a conta de quantas vezes vi aquele terço de caroços de azeitona enrolados na sua mão. Quando criança, a senhora me benzia passando o terço três vezes pelo meu corpo. Desajeitado como sou, o terço volta e meia enroscava em meus pés. Fui crescendo, crescendo, crescendo até que fcou impossível eu passar dentro do seu terço. Mas a senhora continuou me benzendo pessoalmente ou à distância até que eu mesmo desse conta de lidar com minhas energias. A católica que acreditava em vida após a morte e reencarnação ficou orgulhosa deste neto aqui ter encontrado seu caminho espiritual e ter começado a trabalhar espiritualmente para o bem dos outros como ela sempre o fez. Desde seu AVC no finalzinho da última semana tenho procurado retribuir toda a dedicação que sempre teve para comigo, manipulando energias para que pudesse continuar sua jornada em busca da evolução do espírito. Dediquei e dedico muitas preces e mantras em favor da iluminação de seus caminhos. Não é fácil se desapegar da matéria, como conversei mentalmente com a senhora nesta última madrugada, mas é necessário ter a consciência de que a missão foi cumprida dando continuidade a nossa caminhada em outros planos. Por mais difícil é preciso praticar o desapego seja com nosso corpo físico seja com pessoas que amamos para podermos seguir o que nos é confiado. Não foi por acaso que nossas últimas conversas foram marcadas pelo assunto “morte”. E agradeço muito de a senhora, minha vó, ter confiado a mim parte da sua preparação para passar por esse desencarne. Foram longas e ricas conversas. E foi uma honra poder aconselhar quem passou a vida dando conselhos. Para além das cores e sabores que vivi com a senhora, guardo comigo esse mundo espiritual que dividimos de forma muito bonita nos últimos tempos. A felicidade de me ver encontrado e fortalecido espiritualmente me fez muito bem. Afinal, sempre admirei muito a sensibilidade que a senhora sempre demonstrou em diversos campos da vida, principalmente em relação à arte. Seja a arte de cozinhar, de bordar, de plantar, de viver a literatura, em especial a minha poesia, e de encarar e praticar a fé. Estou de luto sim, mas hoje não visto preto. Visto branco. Afinal, para além do choro da nossa separação neste plano físico, celebro a beleza de uma passagem sem sofrimento como a senhora sempre desejou. Nada de ficar numa cama, de dar trabalho a ninguém, de perder sua independência. A senhora, dentro de sua simplicidade, sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Está certo que a vida nunca lhe deu muitas oportunidades de a senhora realizar seus sonhos, mas seu modo de pensar e agir foram coerentes com sua natureza sonhadora. Nunca vou me esquecer das suas mãos envolvidas por aquele terço que hoje provavelmente estará mais uma vez junto delas, só que já sem vida, em sua despedida. E por falar em mãos, de mãos espalmadas ao tempo, envio a energia deste que por muitas vezes foi mais que neto, foi filho, em agradecimento e auxílio à jornada de seu espírito. Nem nesta nem em outras quartas vamos mais nos encontrar fisicamente, mas tanto eu quanto a senhora sabemos que há outras formas de continuarmos juntos. E como a senhora já se despedia de mim ao telefone: Salve Deus!


Comentar Seja o primeiro a comentar

      1  2  3  4  5   Seguinte   Ultima