Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 50 textos de outubro de 2014. Exibindo página 1 de 5.

28/10/2014 - Nada do que já foi

Toma seu rumo e parta já daqui. A porta está aberta esperando você partir de uma vez. Meu caminho é nascente e não quero nada nele que nele lembre o poente. Uma nova vida noiva comigo. Subo ou não com ela ao altar? Será que me caso com o desconhecido ou rodo-rodo no mesmo lugar? Só sei que na minha estrada não cabe nada do que já passou por mim e nada deixou.


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28/10/2014 - Lixo do lixo

Você não merece nada do que é meu
Você é apenas o lixo do lixo do lixo
Você me usou como seu bicho
E depois me jogou no lixo do lixo
Você só leva de mim meu adeus
Meu sinto muito e a afirmação:
Nunca mais quero estar junto
De quem só me trouxe
Destruição, solidão e sofreguidão


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27/10/2014 - Eu Dostoiévski

Em dias de sol faço neve
Faço pedra virar vime
E me realizo
Como Dostoiévski
Vivendo entre o crime
E o castigo


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27/10/2014 - Caboclo daqui

Eu sou o caboclo daqui. Essas matas têm a cor dos meus olhos. Esses ventos dizem o que eu quero dizer. Cavalgo nas estrelas. Tudo o que me mandam de ruim o riacho carrega pro mar. Piso em terras astrais. As penas que me enfeitam são de espíritos que cantam e têm asas. Meu sangue é guerreiro. Meu coração derrama seiva. Meu corpo é fechado como o cerne das árvores milenares. Trago uma sementeira nas palavras. E meu grito quebra pedreira, rasga céu, sacode mato. O relâmpago me clareia. Minha alma é de fazer revoada. Minhas terras não se cercam. Minhas flechas me guiam. Minha razão é forte e minha paixão verga a morte.


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26/10/2014 - Fazendo-me ostra

Você me viu como ostra
Reduzido assim
E por isso me machucou
Dia após dia
Fazendo-me sofrer
Além do próprio sofrimento
Para lhe produzir
O que lhe interessa
Pérolas pérolas pérolas


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26/10/2014 - O barco e dona Mocinha

O barco da morte chega pra perto dos zóio de dona Mocinha, que espia tudo de sua cadeira encostada no pé da janela. E ela vai vendo aquela embarcação engolindo as ruas de pedras, as beiradas das casas, os cachorros vira-latas que são cortados pelo casco daquele navio antes mesmo de latirem seu latido de fome. Dona Mocinha não tem medo. Já enfrentou de tudo nessa vida, de tuberculose a marido beberrão. É pequenina, dos ossos tortos, mas valente que só. É como vela que queima enfrentando a boca do vento. E depois de tanto choro derramado e queimado, desses que queimam por dentro chamuscando a alma, ela vê sua chama se esvaindo. O barco com os corsários negros se aproximam. Na proa, gente que ela não via desde o caixão. E estão lá, felizes, acenando para ela. Fica ressabiada, mas acena de volta. Sabe que não vai poder fugir daquelas águas. E mesmo se quisesse suas pernas já não têm firmeza para correr. Também não há para quem gritar socorro. As filhas já cuidam dela pelo amor de deus. Mesmo com céu limpo, dona Mocinha enxerga a tempestade que traz aquele barco. Seus olhos se enchem de uma água salgada, as mãos firmam nos braços da cadeira e ela suspira lembrando que quando mocinha queria ser marinheira das histórias de pirata que ela ouvia dos livros que nunca soube ler.


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25/10/2014 - Olhos, boca, ação!

Eu amo
Cada fio do seu cabelo
Cada torço do seu tornozelo
Cada quadro dos seus olhares
Que me colocam em movimento
Movimentação
Olhos, boca, ação!
Ou estático
Como lembrança que importa
Fotografia da poesia
Num porta retrato fantástico


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25/10/2014 - Mato luzido

Descobri que não sei nada de mim. Desconheço minhas vontades. Não me reconheço no espelho. O que eu quero agora, logo mais desquero. Não sei o que serei. Tenho medo de saber quem sou e descobrir que nada sou além do sonho que ainda não veio. Eu era fantasia, mas ontem ela foi embora sem se despedir. Sou a poesia que ainda não escrevi. Sou o que nunca vivi. Eu não sei se sou de chorar ou de sorrir, cada hora me dou de um jeito e tem dia que tenho certeza de que eu não tenho mais jeito. Sou cheio e vazio ao mesmo tempo. Sou o futuro-do-pretérito-mais-que-imperfeito. O eleito da solidão. Lágrima por lágrima, sou o que carrego. E muitas vezes, eu me assumo e eu me nego, vindo de arrasto. Sou mugido que ecoa no pasto deserto. Sou o que está longe e o que está perto. Sou mato luzido, crescido e não sabido.


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24/10/2014 - Beijos na cozinha

Esqueça sua boca na minha
E entre açúcares e talheres
Ama-me na cozinha
Numa receita inconfundível
De milhares de mulheres
Em uma só
Beijos em caldo
Beijinho em pó
Beijaços em fatias
Beijões em fardo
Beija aos bocados
Minha boca vazia
A espera da sua
Língua nua


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24/10/2014 - Seres cíclicos

Tudo na vida terrena tem fim, afinal a vida é cíclica. É fundamental se compreender isso para conseguir ser feliz. Nossos corpos têm fim. Nossos bens materiais têm fim. Nossos sonhos mundanos têm fim. Por que a lua nos envolve tanto? Simplesmente porque ela é como nós, cíclica. Inventamos os calendários e relógios justamente para nos sentir confortáveis em ciclos. Tudo nesta vida de encarnados tem um começo, um meio e um fim. E isso é inevitável. Mesmo os relacionamentos jurados para sempre acabam sendo interrompidos pela separação do casal por meio da morte de um deles. Eu acredito na imortalidade, no infinito, no eterno, mas em relação ao espírito. O nosso espírito que é o conjunto de vidas que tivemos ao longo da história e reúne em si todas nossas experiências, inclusive, todas nossas almas. Portanto, não se iluda de que algo ou alguém não vai acabar mais cedo ou mais tarde. Lembre-se dos mais velhos que diziam que tudo é passageiro. Portanto, quanto mais cedo você entender que a vida terrena é cíclica, praticando o desapego e compreendo as perdas, mais fácil será alcançar a felicidade. Tudo o que vivemos tem uma razão, por mais misteriosa que seja. Quando nossa missão com alguém, por exemplo, chega ao fim, a tendência é nos desligarmos dessa pessoa e procurarmos realizar outras missões. Não estamos a passeio, mas a trabalho. Temos de buscar fazer nossos resgates e encarar a vida que nos foi concedida como uma série de tarefas a ser realizada. Não dá para se acomodar. É de extrema necessidade tentar cumprir, com êxito, o maior número de ciclos possível. Somos, enquanto encarnados, seres cíclicos e isso é inconteste. ...
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