Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 30 textos de setembro de 2011. Exibindo página 3 de 3.

10/09/2011 - Consulta à telefonista

Alô! Telefonista? Por favor, me ligue com a bruxa disponível, com o mago em atividade, com a feiticeira mais próxima. Ah?! Eu quero falar com alguém do setor de magia. Não! Não serve cartomante, vidente, cigana, babalorixá. Se preferível, quero ser atendido por algum descendente dos celtas. Preciso falar com alguém que entenda de magia branca, magia negra, magia azul. Pode ser do hemisfério norte ou do círculo sul...

Não, não telefonista, não me importa se ela for velha, nariguda e encarquilhada e gargalhe assustadoramente durante o telefonema. Também não me preocupo com o preço. A necessidade me obriga a queimar todas as minhas reservas. Pode fazer um interurbano para alguma vassoura em pleno vôo, para o mais sombrio dos pântanos ou para um castelo europeu. Rápido. Não tenho muito tempo. ...
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09/09/2011 - Se for

Se for para me tirarem o ar, que seja por meio de um beijo asfixiante. Se for para me tirarem o chão, que me levem para bem alto. Se for para me tirarem o paladar, que me deixem intacto, ao menos, o sabor de um uísque. Se for para me tirarem o brilho, que não matem as estrelas que me habitam. Se for para me tirar a saúde, que minha dor seja nobre. Se for para me tirarem o olfato, que eu não passe incólume pelo perfume dos anjos. Se for para me tirarem o sonho, que me engravidem de ilusão.
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08/09/2011 - A mulher, o cacto e o mar

Entre o mar e o deserto, um sorriso róseo que, por si só, se destaca naquele marrom-acinzentado tornando-se, assim que surge, uma caça em potencial. Mas como surge? O sol grita e a mulher nasce daqueles cactos corpulentos. Nasce ferida pelos espinhos, manchada pelo sofrimento de um amor mexicano. Seus olhos, ora áridos ora marejados, têm bordas infinitas que desobedecem as regras da perspectiva.

Sai pelo deserto afora e dança, entre rochas e areia, os passos de uma seresta de mariachis. Mulher de um calor abrasador, cujo hálito é refrescante como os ventos do Pacífico. Pelos seus pensamentos rodopiam tormentas tropicais e casamentos zodiacais. Não há como acertar a previsão climática, sentimental, astral dessa mulher que muda corpo e espírito com a mesma freqüência e facilidade de grãos de areia ao vento. ...
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07/09/2011 - Sete setembros

Eram sete pedros, sete gritos, sete cavalos, sete ipirangas. Era sete dúvidas, sete desejos, sete mentiras, sete libras esterlinas. Eram sete coroas, sete chacotas, sete personagens, sete botas. Eram sete verdes, sete amarelos, sete riachos. Eram sete príncipes, sete espadas, sete ilusões. Eram sete independências, sete mortes.

Eram sete contestadores, sete guerras, sete iluministas. Eram sete napoleões, sete destinos, sete fugas. Eram sete colônias, sete políticas, sete acordos, sete pecados. Eram sete famílias, sete amores, sete traições. Eram sete contradições, sete escravocratas, sete sonhadores. Eram sete prosas, sete territórios, sete purgatórios. ...
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06/09/2011 - Quero mudar

Quero mudar. Mudar de ares, de pecados, de existência. Mudar de estilo. Mudar de endereço. Mudar de expressão. Mudar de telefone. Mudar de identidade. Mudar de carro. Mudar de rota. Mudar de estrada. Mudar de disputa. Mudar de tempo. Mudar de deus. Mudar de tempero. Mudar de rosto. Mudar de espelho. Mudar de tom. Mudar de roupa. Mudar de geometria. Mudar de perfume. Mudar de perguntas e respostas.

Quero mudar de destino, de bebida, de email, de fotografia. Mudar de herói. Mudar de sorriso. Mudar de sotaque. Mudar de terra. Mudar de dimensão. Mudar de estrela. Mudar de visão. Mudar de opinião. Mudar de autor. Mudar de canção. Mudar de número da sorte. Mudar de verso. Mudar de arquitetura. Mudar de eixo. Mudar de conjuntura. Mudar de cenário. Mudar de nota. Mudar de rotação. ...
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05/09/2011 - Do inverno à primavera

O inverno, seco e frio, rigoroso e bravio, está prestes a morrer nos braços perfumados da primavera. O gigante das geadas e estiagens caindo aos pés da dama das flores. Flores de algodão, de colibri, de meia-estação. O gado magro voltará a ganhar carne. O mendigo poderá dormir tranquilo, sem o pesadelo de sofrer uma hiportemia no meio da rua. Os leitos dos rios, rachados se sol, ganharão a revisita das águas. Os canteiros empoeirados serão coloridos naturalmente por tons fortes e femininos.
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04/09/2011 - Refeição literária

Amanheceu e não tomou o café da manhã de costume. Torradas, sucos, geléias, pães, frutas ficaram sobre a mesa. Intocáveis. Estava sem fome. Ao menos, sem fome de comida. Ao menos, daquele tipo de comida. Sua mulher estranhou. Ofereceu-lhe então ovos mexidos, bolos de cenoura, pães de mel. Ele torceu o nariz. Estava entojado daquelas iguarias. Ela ainda tentou mais uma vez: champanhe? O não veio como num estouro de rolha, alto e seco.

A filha, aproveitando da situação, sugeriu que o pai pedisse uma pizza. Ele riu e saiu da mesa às pressas. Pegou um paletó e saiu dizendo que ia comprar comida. A esposa não entendeu nada e a filha lamentou a falta da pizza. Horas depois chegou com sacolas e mais sacolas. Mas não eram sacolas de supermercado com legumes, verduras, carnes, frios, enlatados supérfluos... Eram sacolas de livrarias. Pelo menos cinco delas. Nem sinal de comida. ...
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03/09/2011 - Onomatopéico

Toc Toc! Quem é? Atchim! Saúde. Au au! Se esconda. Bi bi fom fom! Shhhhhh. Não vá perder o piuí piuí. Vá acudir o unhe unhe. Toc toc! Quem bate? Nhecc! Piiiii. É o guarda. Booom. Se proteja. Há há há! Não achei graça. Fiu fiu! Que linda. Tchibum! Que calor. Blém blém! O padre está chamando. Cof cof. Não estou bem. Méee. Muuu. Béee. Que confusão no quintal. U u á á. Uga uga. Será macaco ou índio? Nhac Nhac. Crunch. Quer um pedaço? Sei não. Hmm. Que pena. Aiai. Burp. Desculpe. Argh! Que nojo. Ssssssss. Mata o mosquito, mata! Zum zum. O mel deve estar perto. Clap, clap! Bravo, bravo! ...
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02/09/2011 - Reconsiderações

Mande seus medos para a masmorra mais distante de seu reino. Acorrente suas frustrações de modo que elas não consigam voltar a sua cabeça. Alimente bem cada um de seus sonhos, dos mais próximos aos mais impossíveis. Eduque-se para o amor e também para a guerra. Reescreva seu destino quantas vezes for preciso. Traia para continuar sendo fiel aos seus valores. Peça perdão as suas dores.

Diga o silêncio sempre que não tiver nada lírico ou revolucionário para dizer. Ame sem posologias, precauções e sem contra-indicações. Chore para limpar os olhos e lavar as escadarias da sua alma. Guarde as lembranças do que não teve coragem de fazer no fundo do baú. Revire seus pensamentos, desarrume a ordem vigente. Quebre expectativas, iluda o espelho, encaracole desejos em seu cabelo. ...
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01/09/2011 - Senna, mais do que um sobrenome

Um sobrenome diz tudo e, ao mesmo tempo, nada. Por maior que seja a tentação, não se deve criar expectativa em relação a um sobrenome, a uma linhagem, a um laço consangüíneo ou genético. Ninguém é a continuação idêntica de alguém. Os reinados, as virtudes, os olhares, os feitos, enfim, tudo muda de pessoa para pessoa. Muitos – por serem indignos dele - não deveriam sequer fazer uso do brasão da família.

No circo da Fórmula-1 os sobrenomes são maiores que os próprios nomes. O que soa mais forte: Juan, Jack, Alain, Niki, Jackie, Nigel ou, respectivamente, Fangio, Brabham, Prost, Lauda, Stewart, Mansell? O problema é quando filhos, netos, sobrinhos ousam trilhar o caminho de seus parentes famosos. Nelsinho Piquet, Nico Rosberg, Ralf Schumacher, Jackie Villeneuve, Damon Hill são exemplos de que o sobrenome não faz o mito. Ajuda muito fora do carro, dentro dele não faz mágica. ...
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