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Encontrados 30 textos de setembro de 2011. Exibindo página 2 de 3.
20/09/2011 -
Longe daqui
Longe daqui, ela caminha pelas curvas de seu corpo curvilíneo curvando olhares. Caminha entre pés de jatobá, com pés quase descalços, numa paisagem mágica, como que flutuando a alguns milímetros do chão. Bóia no ar como uma lua de sol, trocando suspiros e rugidos como se tivesse ascendente em leão. Vai como que levada pelo vento agreste, pela canção do entardecer, pela mensagem de algum mestre interplanetário. E, com influência de aquário, se enche de água mineral e nada em pensamentos que estão acima do bem e do mal. ...
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19/09/2011 -
Santos ouvidos
O santo, cansado de tantos pedidos, tapou com suas mãos seus santos ouvidos. Basta, gritou aos devotos que não param de pedir. Há quem peça por meio de orações, rezando terços e ladainhas. Há quem vai direto ao assunto, sem rodeios, botando o dedo na cara do santo, exigindo um milagre. Há quem peça chantageando o santo com promessas de velas, de flores, de mudanças de comportamento, de sacrifícios. Há quem peça em jejum e quem cobra de barriga cheia.
Um único santo e milhões de pedidos engavetados em seus ouvidos. Um único santo promovido à última saída para diversos problemas. Cada um quer se salvar usando a condição de santo daquele homem escolhido por Deus. Querem agora que o santo, promovido a tal, se vire para curar doenças, arranjar emprego, arrumar casamento, conseguir dinheiro, proteção e perdão divino. Querem que ele derrame seu santo suor como uma espécie de poção milagreira. ...
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18/09/2011 -
Rancho coração
Meu coração é como um rancho caipira, com canteiros de cheiro verde, moinhos de pedra, flores de erva doce, ninhos de galinha e fogão à lenha. Tem espaço para sanduíche de mortadela, para bolo de fubá, para roça de mandioca amarela. São sacas e mais sacas de arroz agulhinha, de feijão guandu, de açúcar mascavo. E por falar no doce da cana caiana, tem rapadura, melaço e batida de tacho.
Tem pé de goiaba vermelha, pé de jabuticaba sabará, pé de manga rosa, pé de sabiá. Tem jatobá, castanheira, abacateiro e jacarandá. Tem ipê roxo, amarelo, rosa e branco. Tem terreiro, procissão e dia santo. Tem varanda, terra batida e riacho. Tem porteira, cancela e cerca de arame farpado. Tem algodão, girassol e muito gado. Tem lavoura de milho, um bocado de trem e estribilho de cantador. ...
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Comentários (1)
17/09/2011 -
Conan
No mundo das histórias em quadrinhos fui Tio Patinhas, fui Asterix, fui Conan. Além dos discos e dos livros, meu pai me emprestou seus gibis. As histórias do bárbaro da Ciméria sempre me seduziram. Uma literatura de fantasia que me conduzia pelos territórios da imaginação. Eram contos de espada e de feitiçaria, de violência e de poesia. Poesia heróica, construída entre o humano e o divino. Uma lenda com sangue correndo em suas veias. Página a página, naquele preto e branco, meus olhos se enchiam de magos, de demônios e de outras criaturas perdidas no tempo e em civilizações caídas no esquecimento. Pela coleção de quadrinhos de meu pai, fui me confrontando com a realidade que me açoitava. ...
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16/09/2011 -
Quando eu era pequeno
Quando eu era pequeno, não me lembro. Quando eu era pequeno, sonhava em morar na lua. Quando eu era pequeno, tinha medo de crescer. Quando eu era pequeno, empinava sonhos. Quando eu era pequeno, zombava da morte. Quando eu era pequeno, acreditava que as bruxas não eram capazes de sair dos livros. Quando eu era pequeno, acendia vagalumes como quem acende abajures antes de dormir.
Quando eu era pequeno, me vestia de chuva. Quando eu era pequeno, sentia-me protegido por anjos sem rosto. Quando eu era pequeno, ficava invisível. Quando eu era pequeno, queria ser muitos em um só. Quando eu era pequeno, era parte de uma espécie de mitologia particular. Quando eu era pequeno, era íntimo dos senhores da imaginação. Quando eu era pequeno, meus silêncios tinham outro som. ...
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15/09/2011 -
Presença da ausência
Pelo restante dos meus dias caminharei a sua procura num vício sem cura. Acordado ou dopado de sono, em pé ou tombado de abandono, com uma multidão de eus ou sem dono, hei de segui-la. Pelo restante dos meus dias rumarei pelos seus passos sofrendo e provocando embaraços de terceiro grau. Pelo canavial, pelo astral, pelo carnaval, pelo temporal hei de procurar suas marcas, suas pistas, suas evidências...
Pelo restante dos meus dias lutarei para me lembrar do que foi hoje, ontem, anteontem e do que será amanhã. Vencer a amnésia e o ceticismo que se fortalecem com o passar dos dias. Pelo restante dos meus dias buscarei cada detalhe seu, cada minúcia, cada gesto e palavra pendente no ar. Hei de colecionar em uma tatuagem sentimental suas bobagens, suas imagens, suas paisagens, suas chuvas e suas aragens....
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14/09/2011 -
Fugas de pesadelo
Ela acordou de um pesadelo real ou imaginário. Às vezes quanto mais absurdo o espanto mais palpável o medo vivido durante o sono. Seja o que fosse, perdeu o sono e ficou pensando naquilo que tanto a assustara. Seus olhos secaram como que inteiramente tomada por uma estiagem particular. Não quis ler, tomar um chá, engolir um remédio, fazer um telefonema, ligar a televisão... Ela não gritou, não suou, não tossiu, apenas ficou paralisada no seu canto da cama como que enfeitiçada por uma espécie de presságio maléfico, inevitável e tão concreto quão sua insônia. ...
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13/09/2011 -
Insolação
Fugir do sol deixou de ser um capricho assim como viver às sombras, na sombra de algo ou alguém, não é mais motivo de crítica. Escapar do brilho do astro é uma necessidade fundamental. Um fator vital para a continuidade da espécie. Os raios violetas castigam, ferem, matam. O calor sufoca. Há um abafamento generalizado solto por aí.
Ao contrário dos corpos dourados, a moda evidencia os corpos pálidos. Enquanto o desejo esquenta, as cores frias refrescam os olhos alheios. O que está em alta é a refrescância das mulheres drops de hortelã. Para os corações de uísque, incluindo os dos caubóis, pedras e mais pedras de gelo. Entram em cena os perfumes cítricos. ...
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12/09/2011 -
Quando ela, eu...
Quando acordou, eu não vi. Quando calou, eu sorri. Quando chorou, eu tava aqui. Quando falou, não ouvi. Quando passou, bem-te-vi. Quando escapou, eu caí. Quando amou, eu vivi. Quando se entregou, não fugi. Quando precisou, eu lhe assumi. Quando negou, me abati. Quando fechou, eu abri. Quando assoviou, fui prali. Quando voou, voou colibri. Quando pecou, eu encobri. Quando provocou, frenesi. Quando multiplicou, dividi. Quando secou, flori. Quando chamou, lati. Quando recuou, eu rompi. Quando foi sol, fui jaci. Quando se perfumou, patchuli. Quando avançou, peraí. Quando amaldiçoou, benzi. Quando ensinou, desaprendi. Quando beijou, mordi. Quando soprou, ardi. Quando me achou, me perdi. Quando chegou, me despedi. ...
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11/09/2011 -
Mulher paisagem
Olhos coloridos como chita. Destinos trançados como vime. Boca de cumbuca. Sentimentos artesanais. Mulher dos vilarejos, dos beijos naturais. Suas costas são como falésias, desafiadoras, solitárias e assassinas. Mulher de olhares chuvosos, alma forte e corpo sinuoso. Tem um bafo úmido de calor, como se estivesse em febre constante. Mas, pelos seus cabelos, reina um vento noroeste que tem efeito de refresco de caju com três pedras de gelo.
Mulher das aventuras e do sossego. Mulher do agito, do grito, da paquera. Mulher de um quê bonito e de um querer de fera. Mulher da natureza, da franqueza, da era das águas. Mulher da contemplação, da solidão, das mágoas. Mulher das provas, das trovas, das covas. Mulher, lua alaranjada, nua de suas anáguas, subindo por entre o lilás e o azul escuro da noite. Mulher do açoite, do coiote, do trote. Mulher das ruelas e da areia fofa, sem endereço e sem luz elétrica. Mulher sagrada e cética. ...
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