Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 30 textos de novembro de 2011. Exibindo página 1 de 3.

30/11/2011 - Mundo peçonha

Sem conseguir vislumbrar o horizonte, sigo de arrasto como serpente por esse chão áspero e pedregoso. Serpenteio movido não por sangue, mas por veneno. Veneno alheio. Minhas presas estão sempre preparadas para o pior. Provoco gritos, alvoroço, pavor. Não tenho piedade ou compaixão. Afinal, forjaram-me assim. Não sou víbora porque quero, mas porque preciso. Não tenho saída. É a maneira que encontrei para continuar vivo, ou melhor, sobrevivo. Porque cobras não vivem, sobrevivem.

Serpentes não desfilam, seguem camufladas, escondidas, sorrateiras. Sigo me arrastando por ali e por aqui como sinal de castigo. Sou culpado por um pecado que não é meu. Porém, pertenço a uma raça condenada ao sofrimento. E é preciso ter cuidado com todos, sem distinção, quase não há diferença entre uma cobra coral falsa e a verdadeira. Não tenho pernas, ao menos não pernas visíveis aos olhos cotidianos. Aliás, meus sentimentos, meus desejos, meus quereres também são invisíveis... ...
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29/11/2011 - Longe deste mundo

Longe deste mundo há outro mundo mais profundo para se viver sem medo. Um mundo onde o amor não seja considerado um ato vagabundo, tampouco quem ame seja cacundo de suportar tanta dor. Um mundo bem mais fecundo de sonho e prazer, onde as alegrias brotem pelas frestas como ervas daninhas e onde a realização se prolifere como coelhos jacundos em véspera de Páscoa. Um mundo sem submundo.

Longe deste mundo existe outro mundo bem mais fundo para se jogar de corpo e coração. Um mundo onde o gostar não seja um pecado imundo, mas um verbo sagrado praticado por deuses e demônios com a mesma intensidade. Nesse outro mundo a solidão desaparece num nanossegundo como num truque de mágica. Ninguém de lá é iracundo e tudo lá é oriundo do bem-querer entre criador e criatura.


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28/11/2011 - Os ares de Ayres Britto

Ares verbis, ares movimentu, ares juris et de jure. Ar, Ares, Ayres Britto. Ar manso e revolucionário, vento, ventania, vendaval de ideias e ideais, de versos métricos e livres, de quadras e sonetos, de abstrações e anotações. O gabinete do jurista-poeta ora é biblioteca viva ora sala de recepção onde leis, capítulos, versículos, artigos, personagens reais e fictícios bailam pelos ares de Ayres. A fala envolvente no contexto dos gestos desenhando textos no ar e nos ares de Ayres Britto.
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27/11/2011 - Não pense

Se você tiver vontade, atire-se de corpo inteiro. Se você tiver medo, feche os olhos e siga. Se você chorar, fuja para o primeiro sorriso que encontrar. Se você cair, mude o olhar das coisas e encare o chão como se fosse o céu. Se você sonhar, sonhe sempre por dois, por três, por mil. Se você cantar, cante na língua dos pássaros. Se você se perder, ao contrário de tentar achar o caminho de volta invente outro destino. Se você sentir amor, ame até a última gota do seu juízo.

Se você quiser partir, caminhe sem deixar rastro. Se você quiser casar, antes de qualquer coisa, doe um pedaço seu. Se você quiser beber, que cada garrafa seja um brinde. Se você quiser conversar, as nuvens têm ouvidos aguçados. Se você quiser acreditar, há um anjo em cada esquina. Se você cansar da caminhada, imagina que logo mais à frente vive um sonho bom pronto para ser vivido. Se você pegar no sono, viaje pelo mundo inconsciente que lhe habita. Se você perder tempo, o tempo vai perder você...


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26/11/2011 - O contrário

Se telefonar eu não atendo. Se bater eu não abro. Se abusar eu denuncio. Se chegar eu grito. Se pedir eu não faço. Se mandar eu esconjuro. Se dormir eu corro. Se bobear eu fujo. Se achar eu perco. Se entender eu complico. Se seguir eu atalho. Se subir eu desço. Se perdoar eu peco. Se chamar eu silencio. Se prender eu escapo. Se embarcar eu desembarco. Se iluminar eu escureço. Se ligar eu desligo. Se escrever eu não leio. Se colorir eu desboto. Se viver eu morro.

Se chorar eu sorrio. Se beber eu não engulo. Se comer eu não mastigo. Se cair eu sigo. Se ofender eu ignoro. Se pintar eu bordo. Se endireitar eu entorto. Se for eu fico. Se ficar eu vou. Se ensinar eu erro. Se vier eu disfarço. Se quiser eu não quero. Se acenar eu não vejo. Se secar eu molho. Se limpar eu sujo. Se curar eu machuco. Se beijar eu mordo. Se separar eu caso. Se semear eu não colho. Se cuidar eu descuido. Se desistir eu continuo. Se sim eu não.


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25/11/2011 - Assaltos, roubos, furtos e expropriações

Lamentável! Além dos políticos não apoiarem a poesia e a literatura brasileira, tem senador de fino trato, juiz que enche a boca para falar de justiça e deputado fanfarrão metendo a mão no texto alheio. É isso mesmo! O que tem de autoridade se apropriando indevidamente de linhas e versos de terceiros em seus discursos não é brincadeira. Aliás, é coisa muito grave. Afinal, além de cair de boca no dinheiro público essas criaturas devoram, sutil ou descaradamente, palavras que não escreveram, tampouco compraram (no caso delas estarem à venda). ...
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24/11/2011 - Trago-me

Mãe, mais uma vez olha eu aqui me trazendo aos seus pés em prova de amor, em prova de fé. Mais uma vez trago flores de pensamento, velas de esperança e terços de sonhos. Trago aos seus pés um rosário de coisas para agradecer. Trago pedidos vindos de longe e também de dentro de mim. Trago angústias e aflições. Trago um desejo de colo. Trago um amanhã ainda em formação. Trago dúvidas, incertezas e mãos para que me conduza em sua direção. Trago palavras nunca ditas e uma história tão bonita...
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23/11/2011 - Constatações

E se não fosse mais seria menos e se não fosse ontem seria agora e se não fosse último seria começo e se não fosse pecado seria santo e se não fosse a fome seria a sede e se não fosse o ciúme seria a saudade e se não fosse o tédio seria o estresse e se não fosse o gato seria o cachorro e se não fosse o parto seria o adeus e se não fosse o céu seria o mar e se não fosse o herói seria o bandido e se não fosse a esperança seria a tragédia e se não fosse a casa seria o ninho e se não fosse a semente não existiria o fruto. ...
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22/11/2011 - Que dia, que dia, que dia?

Pode me dizer que dia é hoje? Hoje é dia de semear canteiros com flores, com frutas ou com corpos de heróis? Hoje é dia de cantar canções de amor demais ou de dançar a valsa do adeus? Hoje é dia de embarcar numa viagem ao espaço ou ao centro da Terra? Hoje é dia de contar quantos dias faltam para a realização de um sonho ou contar histórias passadas? Hoje é dia de brincar de roda ou de brincar que não somos mais crianças? Hoje é um dia de calendário ou um dia criado pelo imaginário?

Que dia, que dia, que dia é hoje? Hoje é dia de falar de esperança ou de saudade pelas esquinas? Hoje é dia de tentar entender ou simplesmente de viver o tempo em cada uma de suas dimensões? Hoje é dia de se jogar aos quatro ventos ou de se guardar em total segredo? Hoje é dia de andar pelo caminho de sempre ou de inventar um atalho, uma estrada paralela, uma contramão no destino? Hoje é dia de procurar alguém que se perdeu nas ruas ou no fundo do espelho?...
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21/11/2011 - Conversando com deus

Piedade, grande deus, tenha piedade dos que sentem saudade, dos que caminham sofrendo as intempéries do coração pelas ruas da cidade e dos que acreditam na pureza do frade. Misericórdia, grande deus, tenha misericórdia dos que não ainda não alcançaram o estado de concórdia e vivem em discórdia com seus pares. Clemência, grande deus, clemência dos que procuram de olhos acesos a inocência de um amor, dos que se deixam levar pela malemolência da dor, dos que excomungam a indecência da vida como se deus também não tivesse criado o pecado. ...
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