Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 31 textos de janeiro de 2011. Exibindo página 2 de 4.

21/01/2011 - Sertaneja

Antes de se por, o sol entra pela rocha dos seus olhos, que vão mudando de cor, e tudo vai virando sertão. O coração de arenito bate forte e se esfarela ao vento em grãos de paixão. A maré de sentimentos enche, transborda, seu corpo mareia, oceana e sua boca vira refúgio, ilha de garças e beijos esgarçados.

Ao se por, o sol vermelho amarelo laranja vai morrendo em sua pele morena que arde em cheiro e sabor como pimenta sertaneja. E a beleza segue como cacto, resistente com espinhos se transformando em flor. O romance se pendura no varal dos seus cabelos, vira cordel e repete e se reinventa como cordel. ...
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20/01/2011 - Paixão despedaçada

Depois de muito tempo e de um tempo muito, sangro minha boca de uísque. Uísque caubói como um dia imaginamos ser. Aliás, como um dia fomos. Uísque para lhe chamar, para lhe invocar, para lhe encontrar... Mais do que nunca, é preciso lhe pedir perdão. Perdão por não ter honrado a promessa feita diante de seus olhos verdes de nunca deixar seu império se perder. Seu mundo particular, feito de terra vermelha e fantasia, depois de mais de setenta anos, passa para mãos que não tem seu sobrenome e que não conhecessem sua história. ...
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19/01/2011 - Pirenópolis

Eu a vejo entre ruas estreitas, ladeiras de pedra e beiras de janela debruçando seus peitos nos parapeitos. Eu a vejo passar, dançar, beijar bocas de vento e solidão. Eu a vejo muda e cor ao passar pelas fachadas coloridas das casas e casarões. Eu a vejo badalar no sino da matriz e a rezar e a pedir e a perdoar e a sorrir e a pecar. Eu a vejo chorar na beleza das quedas d’água. Eu a vejo em silêncio e conversando na língua dos viajantes do espaço e do tempo.

Eu a vejo sendo festejada e disputada pelas cavalhadas. Eu a vejo usando o artesanato local. Eu a vejo com lábios açucarados pelos doces de compota. Eu a vejo beliscando biscoitos e outras quitandas. Eu a vejo correndo pelo cerrado caça e caçadora. Eu a vejo como um retrato em movimento. Eu a vejo entre a cadeia de montanhas e numa fantasia tamanha. Eu a vejo passar pela ponte do rio das almas e pousar passaramente em uma de suas pousadas....
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18/01/2011 - Tão perto e tão longe do Natal

Ainda é janeiro e os papais-noéis sumiram das ruas, das lojas, das casas. Onde se esconde o bom velhinho? Pólo Norte? Lapônia? Belém? Tão pouco tempo nos dista do Natal e ninguém fala mais em presentes, em peru, e m árvores, em enfeites, em luzes que imitam estrelas, em espírito natalino.

É como se Noel nunca tivesse existido. Ninguém sabe dele, não há qualquer sinal de sua passagem. Algumas crianças brincam com brinquedos supostamente trazidos por ele, mas já pensam no que querem ganhar no próximo Natal. Tudo é de uma brevidade tamanha a ponto de transformar o Natal e seus feitos em itens completamente descartáveis. ...
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17/01/2011 - Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo...

Só a força do choro é tão forte quanto a força da chuva. As lágrimas rolam o rosto como as águas rolam os morros. A dor avança como avalanche, arrancando tudo, tomando tudo, arrastando tudo, devastando o mundo que há, ou melhor, que houve. Os deuses ganham os refletores. É a força dos deuses que são chamados, benditos e amaldiçoados. Há os que se conformam a partir dos deuses e os que se revoltam com os seres supremos. Ao longo desse cenário há quem busque estar ainda mais próximo ou ainda mais distante deles. ...
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16/01/2011 - Dúvidas literárias

Se Machado de Assis pudesse falar se Capitu traiu ou não Bentinho com Escobar? Se fosse para escolher um só, Colombina ficaria com o Arlequim ou com o Pierrô? Se o sol não fosse tão sertanejo será que Baleia viveria até hoje com Fabiano? Se Dona Flor não tivesse Dois Maridos seria ainda lembrada? Se Emília não fosse de pano seria boneca? Se Rapunzel não tivesse trança ganharia liberdade? Se Romeu e Julieta não morressem o romance teria o mesmo apelo? Se ao contrário de cravo e canela Gabriela fosse de pimenta e limão Jorge continuaria sendo Amado? Se Adão e Eva não se amassem nos jardins do paraíso bíblico, existiríamos? ...
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15/01/2011 - Falações sobre o amor

Éramos dois apaixonados entreolhados. Ambos amantes, convictos do mesmo fluido poético que alimenta o coração. Em longo flerte, entre afinidades e divergências casuais, ouvimos nossas vozes em uníssono: por que é que a saudade nasce antes e morre depois de um grande amor? Concluímos, resignados: que é o amor é utopia, quem falar o contrário pode ser apedrejado. Afinal, ninguém pode dizer que viveu o pleno de um amor sem antes ter seu amor de amar terminado. E amor que termina não é amor.
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14/01/2011 - Le Jeu de la Séduction

Sua alma é confeccionada em ouro branco, com navetes de rubis e diamantes. Espírito de seiva. Passado de marfim. Alma cortada com a exatidão de um deus ourives a partir da pureza das gemas que contrapõem seu design pouco inocente. Seu corpo físico é desenhado de forma onírica e com um detalhismo que mistura safiras azul, rosa e violeta com pavê de brilhantes. Seu coração é um broche atarracado ao peito e seus cabelos escorrem pelo pescoço como colares sutis que mudam de cor e textura ao sopro de um vento minerador. ...
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13/01/2011 - Se emenda vá

Bruxa mexeriqueira, leva-e-traz, fofoqueira, sai pra lá. Bruxa dissimulada, sonsa, condenada, não vem cá. Bruxa perguntadeira, falsa, mateira, se emenda vá. Como tem coragem de fazer esse papel? Deveria, ao menos, honrar seus corvos e verrugas. Que decepção. Quanta ilusão. Não tem perdão, não. Ninguém lhe contou que peixe morre pela boca, bruxa louca? Quando vem dessa bruxa toda miséria humana é pouca. Bruxa tirana, insana e carraspana.

Bruxa de araque que quer fazer do meu Éden o seu Iraque. Bruxa agourenta, das histórias a bruxa berebenta. Bruxa amaldiçoada que quer semear o fel na minha estrada. Sai pra lá. Não vem cá. Se emenda vá. Ela devia aprender com velhos ditados como: as máscaras sempre caem e a mentira tem perna curta. Sua língua tem cicuta. Matuta e ladina, faz do meu ouvido a sua latrina. Bruxa canina, caninana, ferina. Bruxa sorrateira, treteira, carniceira. ...
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12/01/2011 - Grama recém-cortada

O barulho daquelas máquinas cortadoras de grama enerva os miolos. Um barulho rasgado, desafinado e, muitas vezes, engasgado. São notas longas, acordes estridentes. E o pior é que quase nunca surgem desacompanhadas. São duas, quatro, seis máquinas gritando ao mesmo tempo aparando os enormes gramados que se esparramam lá fora. Levando esses braços de corte, homens vestidos com macacões grossos, óculos de proteção, botas e quase nada de dinheiro no bolso. As lâminas vão decepando a grama, sem dó ou piedade, a ponto de tombá-la num jardim sem rosas ou violetas. ...
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