Arquivo
2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan | fev | mar | abr | mai | jun | jul | ago | set | out | nov | dez |
Encontrados 31 textos de janeiro de 2011. Exibindo página 3 de 4.
11/01/2011 -
Chilihead
Cambuci, tabasco, pimenta-de-cheiro, jalapeño, dedo-de-moça, malagueta, pimenta-de-bode, chora-menino, red savina, biquinho, cumari...
A mulher amada é como pimenta. Quanto mais quente, mais suspiros e gemidos causa. Se fizer chorar então, é perfeita. Se arder, com a licença de Camões, será amor em fogo, aquele que arde sem se ver. Sem pudores ou hipocrisias, a mulher amada deve provocar suadouros e desmaios nos corpos alheios. Deve ser forte e queimar por inteira. Sua pungência deve ultrapassar os limites da escala Scoville. Em contato com a língua, há de causar lágrimas e fortes emoções. A mulher deve incendiar a boca e viciar a criatura amada. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
10/01/2011 -
Morrer de amor, demodê?
Antigamente, entre poetas e plebeus, morrer de amor era um gesto nobre, digno de aplausos e suspiros. O amor transcendendo da carne para o espírito numa atitude romântica, sublime e sobre-humana.
Hoje não basta só morrer de amor. É preciso ressuscitar por amor, reencarnar por amor, tornar-se anjo por amor. Juras terrenas são pequenas e o suicídio é breve demais diante da promessa de esperar a criatura amada em outro plano e lá amá-la por toda eternidade. Fazer valer essa história de alma gêmea não é para qualquer um. Exige esforço, dedicação e fé. Fé em vida após a morte e fé em si mesmo. Afinal o que está em jogo é uma existência física....
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
09/01/2011 -
Literatus
Se for mentir, Pinóquio. Se for aprontar, Emília. Se for duvidar, Capitu. Se for amar, Iracema. Se for provocar, Gabriela. Se for comer, Lobo Mau. Se for pegar no sono, Bela Adormecida. Se for amar além da conta, Romeu e Julieta. Se for voar, Mari Popies. Se for se apaixonar, Fantasma da Ópera. Se for roubar a cena, Baleia. Se for confundir vitória com batatas, Quincas Borba. Se for iludir, Maya. Se for se devorar, Narciso. Se for investigar, Sherlock Homes. Se for se aventurar, James Bond. Se for se espantar, o corcunda de Notre-Dame. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
08/01/2011 -
Belmont
Lembro das vezes que na calada da noite eu descia, vigiado pelos olhos de meu avô, a Rua São Miguel. Ia me espreitando pelas calçadas de pedras portuguesas e atravessava a esquina que dava acesso à Rua Santos Dumont guiando-me pelo som das tacadas das mesas de sinuca do bar do Furigo. Um bar feio, freqüentado por uma gente feia e por uma feiúra de espírito. As luzes amareladas iluminavam as garrafas velhas que ficavam empoleiradas sobre o balcão. Era naquele ambiente que buscava espaço entre um bêbado e outro me equilibrando na ponta dos pés para pedir uma carteira de cigarros. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
07/01/2011 -
art nouveau
Mulher de negócios, cosmopolita, vibrante, capital dos meus sonhos. Milhões e milhões de sonhadores habitam sua alma, desejam seu corpo. Mulher nascida em berço de ouro e criada nas ruas da ilusão. Mulher de beijo bilíngue, olhos escritos em francês ou monegasco, braços e pernas de compassos de aberturas mil. Mulher de pensamentos ultramodernos e fantasias pitorescas.
Mulher agradável nas noites de verão e essencial nas noites de inverno. Quantos baristas, floristas, cosmonautas, escafandristas, toureiros e turistas tatuam sua pele passando para lá e para cá num correr sem fim. Passam com lamparinas acesas e quartos de lua imersos no suspense de uma penumbra. Mulher de leitos e tumbas. Mulher de emoções fundas. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
06/01/2011 -
Certos dias
Certos dias a gente se avizinha e briga como bons vizinhos. Certos dias a gente se encontra e apronta como se não fosse ocorrer reencontro. Certos dias a gente promete só para aumentar a coleção de promessas não cumpridas. Certos dias a gente acorda com vontade de fazer isso e aquilo, mas não sai da cama. Certos dias a gente jura amor eterno e depois se desconjura. Certos dias a gente se ama só porque se odeia. Certos dias a gente se odeia só porque se ama.
Certos dias a gente se achega, aconchega-se e depois chora. Certos dias a gente se despede antes mesmo de ir embora. Certos dias a gente rompe os limites e depois se corrompe. Certos dias a gente se enxerga lado a lado e depois se nega. Certos dias a gente vai além do casual e depois se pega num ato normal. Certos dias a gente inventa mundos e pessoas e depois mergulha num sono profundo. Certos dias a gente é nobre noutros vagabundo. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
05/01/2011 -
Mulher Jerusalém
Jerusalém é uma cidade com vida própria, ou melhor, uma mulher que ganhou vida. Uma mulher que coloca aos seus pés as três principais religiões monoteístas do mundo. Uma mulher que faz com que homens sintam-se as próprias reencarnações de São João Batista. Uma mulher que deixa qualquer um, crente ou não, atônico diante de sua beleza, da sua religiosidade, da sua tensão política. Uma mulher que é alvo de milagres e que faz pecar.
Jerusalém é a mulher velha, com quatro mil anos de história, com limites e muralhas, da época do Rei David. Pelas entranhas dessa mulher, a via-crucis, o muro das lamentações, o jardim das oliveiras, o santo sepulcro. Mas Jerusalém é também nova, mais moderna e laica. Uma mulher com bares e jovens e música eletrônica. Uma cidade alto-astral. Mulher alta, 750 metros acima do nível do mar, perto do paraíso. Mulher de baixa umidade, purgatório e inferno. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
04/01/2011 -
Mulher dos olhos de dry martini
Ah! Como é existencial para qualquer vida o encontro com a mulher dos olhos de dry martíni. Olhos milimétricos, canônicos, eternos feitos, como que por um alfaiate, com quatro gotas de vermute Noilly Prat debruçadas sobre uma dose de gim em bastante gelo na coqueteleria. Depois de misturado e mexido, coa-se o gelo de seus olhares e seus olhos são serviços numa taça de cristal de 100 ml.
Não há nada mais elegante que um cavalheiro segurar seus olhares de dry Martini. Sente-se como David Nive, Fred Astaire, Sean Connery. Diante de seus olhos não há de se ter pressa, tampouco pensamentos paralelos. É preciso sintonizar a cabeça com a freqüência exata de seus coquetéis de globos, retinas e meninas dos olhos. Um coquetel finamente elaborado. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
03/01/2011 -
Reza mulher
Reza mulher de crenças e ritos. Reza mulher que em nome da fé rompe conflitos, interesses, etnias. Reza mulher que nega a própria emancipação em favor de um Deus dominante. Reza mulher de tantas feridas e quantas saudades não vividas. Reza mulher numa reza que poda suas asas de pássaro. Reza mulher entre a angústia e o bucólico. Reza mulher e mostra-se mulher perfeita de joelhos ao chão e lábios ao crucifixo.
Reza mulher de crenças e ritos. Reza mulher que em nome da fé rompe conflitos, interesses, etnias. Reza mulher que nega a própria emancipação em favor de um Deus dominante. Reza mulher de tantas feridas e quantas saudades não vividas. Reza mulher numa reza que poda suas asas de pássaro. Reza mulher entre a angústia e o bucólico. Reza mulher e mostra-se mulher perfeita de joelhos ao chão e lábios ao crucifixo. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
02/01/2011 -
Mulheril
Foi de ilusão eu sei que meu destino desaguou no que sonhei. Tão logo previ, encontrei. Tão logo sorri, chorei. Tão logo morri, dancei. Dancei nos seus braços, tropeçando em meus passos. E o cansaço da noite escura foi me deitando em sua formosura. E entre fogos de artifício, pirilampos explodindo no céu, fiz do meu louco a sua loucura. Os carros batiam, os navios naufragavam, os aviões caiam com todo o magnetismo que houve entre meu corpo e seu corpo.
Suores e lágrimas de prazer e de torpor. Folclores de amor e de sofrer. Calor escorrendo pelas costas e frases de bendizer tecendo nos ouvidos. Foram gritos e bramidos. Sua pele se comunicando com a minha em fá sustenido. Namorada e namorado, esposa e marido, amantes. Mulher de papéis e rapéis. Mulher de cachoeiras e corredeiras. Mulher de ar e da falta de ar. Mulher de um vôo cego e da cruz que me prego. Mulher que desejo e medro num amor varonil. Mulher mulheril.
Seja o primeiro a comentar