Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
Bem-vindo ao caos

Na mitologia grega, antes da criação do mundo, existia o caos. Milênios depois, eu acredito que voltamos ao caos. E nem vou falar do mundo em geral, onde mulheres e homens-bombas explodem o que restou de suas vidas. Vou falar do nosso país, onde o presidente se enche de discursos franceses, enquanto mulheres desse mesmo país, numa pobreza tamanha, trocam o absorvente pelo sabugo de milho. Caos, triste realidade.

O caos, ou seja, a bagunça, a confusão, a desordem é o resultado de uma falta de política. A nossa política sempre privilegiou uma parte minúscula da população. Uma política que visa o dinheiro. Pergunto: como sobrevivem os não ricos? Sobrevivem no caos.

O povo tem fome. Agora, responda-me leitor: a fome do povo pode ser sanada pela energia de uma usina termelétrica? Será que viramos andróides? Caos! E mesmo se o povo fosse alimentado por essa energia, certamente, não teria dinheiro para comprá-la. Anote aí caro leitor: os mega-projetos não são feitos para atender aos interesses do povo.

Falta educação pública. Porém, não adianta construir escolas para ganhar palmas no dia da inauguração se falta qualidade no ensino. A escola tem a missão de formar seres humanos e não máquinas que saibam assinar o nome no título eleitoral. Todavia, como motivar-se com as promessas de educação dos discursos políticos cheios de erros de português e com os erros públicos nos cálculos matemáticos, no caso das contas do município. Caos!

Falta uma política agrária que não beneficie somente aqueles que nunca pegaram na enxada. Não adianta exportar alimento se o país tem fome. O alimento que o pequeno produtor vende quase de graça na roça é o mesmo que o povo não tem dinheiro para comprar no supermercado. Caos! A única reforma agrária que fizeram foi para a elite.

Seqüestros, assaltos, estupros, roubos. Tamanho caos gera violência. O povo tem medo. O povo não tem como pagar guarda-costas. A solução não é uma cadeia de nome difícil. Só teremos paz quando nós não formos os verdadeiros presos. Que falta de política é esta onde um assassino anda solto pelas ruas e alguém que pára dez segundos em fila dupla é multado. Caos! Um preso custa, em média, oitocentos reais por mês. O salário mínimo é de...

Caos!!! Um médico no alto escalão político e os exames/consultas nos postos de saúde são marcados para daqui a não sei quantos meses. O povo não tem como para pagar um plano de saúde feito para a elite. É vergonhoso morrer numa fila, na espera de atendimento, por falta e incompetência de uma política de saúde pública.

Falta uma política de meio ambiente. Não se pode matar uma cidade em nome de um desenvolvimento selvagem. É preciso ponderar. O que vale mais: árvores, água potável, terras férteis ou milhares de chaminés? O povo não tem currículo para trabalhar em indústrias e não come fumaça. Caos! Falam num posto de recolhimento de embalagens de agrotóxicos, mas quem irá pagar o combustível dos pequenos agricultores, posto que eles terão que levar essas embalagens até o tal posto?

Sobretudo, falta uma política de necessidades básicas e vitais para qualquer ser humano. Tanta falta de política é gerada pela falta de políticos. Caos! Político não é: quem fala com um livro de religião debaixo do braço; quem se enche de gritos e gestos para impressionar quem o assiste; quem é o retrato de uma sociedade falida e feita de status; enfim, quem representa só alguns votos. Desses políticos a nossa política está farta.

Na mitologia grega os deuses acabaram com o caos. Hoje, quando tantos querem o papel destinado aos deuses, a solução (o milagre) parece estar cada vez mais distante. Caos...


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar