Daniel Campos

Prosas

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08/04/2014 - Amor maior que o meu

Nenhum amor é maior que o meu. Podem me chamar de convencido, de metido, de pretensioso, de tendencioso, de louco, mas jamais me rotulem de “pouco” para se referir ao que sinto. O meu amor é incontável, incomensurável, infinito. E não se trata de qualquer amor grande ou gigante, mas de um amor sem variante totalmente dinâmico e parabólico em sua forma de existir. Um amor de altos e contrabaixos, sempre pronto a romper a estratosfera cotidiana e fazer muito barulho para oferecer o que tem de melhor em matéria de novidade e intensidade a quem ama. ...
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23/08/2011 - Amor ou amor...

O amor é a lei suprema ou a quebra da lei. É o endereço ou o avesso do kharma. O amor existe ou insiste em não existir a olho nu. É a permanência ou impermanência do ser. O amor é infinito ou a condição finita de todas as coisas mundanas para alcançarmos as coisas sobre-humanas. O amor é plural ou a brusca experiência da singularidade. O amor é uma flor da consciência ou a faculdade da inconsciência.

O amor é a vontade de continuar amor ou a condução expressa para alguma coisa nova. O amor é concreto ou especulação. É a promessa de cristo ou o filho do anti-cristo. É a aceitação da escravidão ou a difícil tarefa de superar a condição egoísta de quem ama. O amor é a antítese ou a teoria paradoxal, é elitista ou proletário, é guerra ou paz. O amor vai de canção em canção ou se esvai em silêncio. ...
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06/04/2014 - Amor poeta

Não que seja maior e/ou melhor, mas o amor poeta tem suas particularidades. Em primeiríssimo lugar, basta dizer que o poeta vive inteiramente, integralmente e incrivelmente por seu amor e morre por ele se preciso for sem qualquer questionamento. O amor poeta é um amor marcado pela entrega total e sem volta, o poeta se dá a criatura amada de olhos fechados e coração escancarado. E o poeta não se intimida com o tamanho do sofrimento que esse amor pode lhe causar simplesmente porque ele não encara esse amor, por mais difícil ou impossível que seja, como um ato de sofrer. Pelo contrário, o poeta enxerga beleza até mesmo na tristeza que diz respeito a esse sentimento que o faz transcender e ficar acima das dores físicas. Muitas vezes adoece, definha, enlouquece, mas anestesidado pela fantasia contida nesse amor. A fantasia é a morfina do poeta, que acredita piamente que tudo mais dia menos dia vai se resolver a seu favor. O poeta pode ser triste, mas é otimista de essência. Se o poeta não crê na realização do amor não é poeta, é filósofo ou qualquer outra coisa que não coloca o coração à frente de tudo e de todos. O amor poeta é indiscreto, pois não consegue disfarçar suas intenções e sensações. O amor poeta não poupa esforços, seja lá qual for a natureza desse esforço, para buscar o apaixonamento contínuo, com direito a aprofundamentos e alargamentos sem limites, da criatura amada. Sim, por mais improvável que isso possa parecer, o poeta busca sempre mais e mais e mais amor e consegue oferecer isso à mulher que é dona de seus caminhos. O poeta consegue conhecer o amor da sua vida à primeira vista e não pensa em nada para vivê-lo. O amor poeta é aquele que mesmo quando junto de seu amor tem saudade do que passou e do que ainda não chegou. Isso porque o amor poeta quer viver tudo de uma vez, de maneira inconsequente, posto que se trata de um amor duradouro, mas urgente. Aliás, é bom frisar que o coração poeta tem urgência urgentíssima em amar. Pode esperar, em estado apaixonado, cinquenta anos pelo seu grande amor desde que possa ter certeza de que ele existe e de que vai chegar mais cedo ou mais tarde. O amor poeta vive para fazer feliz a criatura amada. O amor poeta é capaz das mais loucas loucuras para conquistar e manter conquistada quem ama. Não há espaço para mentiras, fingimentos, ilusões no amor poeta, uma vez que ele é o que há de mais verdadeiro e sincero que possa existir. Isso porque o poeta é regido pelo signo da emoção. E a emoção, nesse caso, é como uma fratura exposta. Tudo o que é sentido por ele esta nítido aos olhos de todos. O poeta deixa de se compreender para compreender a criatura amada, fazendo dela sua linha de partida e de chegada. O amor poeta redimensiona a existência fazendo tudo ganhar outro sentido. O poeta vive o que é macro e o que é micro em relação a esse amor com a mesma intensidade. Tudo vale à pena ao coração poeta quando se trata da mulher amada. O que importa é o segundo de agora junto de sua inspiração, pois o segundo passado ele sonhou estar com ela e o segundo futuro ele vai fazer de tudo para passar mais ela. Só existe algo que supera o valor de infinito agregado ao universo – o amor poeta. O poeta não se faz rogado a chamado algum do seu amor. Está sempre pronto para amar e ser amado das mais variadas formas e maneiras. O amor poeta, por mais que possa assustar um pouco no começo, dá conforto e segurança em razão de sua força e solidez. Nada nem ninguém acaba com o amor de um poeta. Por mais que chore, o poeta vai sempre sorrir, mesmo que afogado em pranto, ao seu amor. Sim, porque, como dito, o amor poeta alimenta-se de uma esperança que brota, quando menos se espera, de seu corpo poético. O amor poeta não tem restrições, contra-indicações, subtrações... é um amor sem preconceito, sem fronteiras, sem quaisquer condições. O amor poeta é espontâneo, flui naturalmente e até o fato de transbordar é natural. E atenção: não há nada que segure ou que impeça um amor poeta de seguir seu destino.


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07/02/2015 - Amor pra vida inteira

Quando da Portela, ela esnobava o malandro que roubava seus olhares do alto de sua janela. Quando da Imperatriz, ela confessava que por mais que amasse e se entregasse não era feliz. Quando da Grande Rio, ela desfilou com todo respeito ao estandarte, mas num sorriso vazio como se sua cabeça estivesse em Marte. Quando da Mocidade, ela foi destaque, verdadeira obra-de-arte no abre-alas, vestida de saudade. Quando da Vila Isabel, ela ganhou o nobel da imaginação, pensando que Noel pra ela entregava o seu samba-coração. Quando da Estácio de Sá, ela beijava para lá e para cá querendo se reencontrar. Quando da Império Serrano, ela saiu na comissão de frente querendo fazer diferente mas foi tudo engano. Quando da Beija-Flor, ela teve tanto glamour quanta solidão que olhava pro malandro dizendo bonjour como se nem pisasse no chão. Quando da Viradouro, ela dizia que amava deus e o mundo mas lá no fundo ela escondia o ouro. Quando do Salgueiro, acreditou que o sentimento que doava era lhe entregue de modo inteiro. Quando da União da Ilha, ela foi a muitas milhas do que poderia ir e no meio da avenida chegou a cair. Quando da Caprichosos de Pilares, ela batia os bares e os altares com a mesma intenção. Quando da Mangueira, novamente, ela chorou copiosamente, pedindo perdão ao malandro pelos meandros de um verso que admitia a traição e assumia a agremiação pela vida inteira.


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10/12/2011 - Amor que medra

Deixe de lado esse medo latente de amar. Já dizia o poeta que amor e sofrimento caminham parelhos por uma estrada cheia de armadilhas. Então, não se acovarde. Dispa-se de todo e qualquer receio. Fique nua como uma lua de sentimento. Uma lua que dá a cara à tapa. A saudade é um pêndulo que na ida ou na vinda vai lhe pegar. Ame fazendo planos, mas sem se preocupar com o amanhã. Projete-se prioritariamente no dia de hoje. Trate de seu amor como se trata de um santo de altar. E jamais confunda amor com felicidade. Nem todos os prazeres oferecidos pelo amor são propriamente felizes....
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29/03/2010 - Amor querubim

Amo e de tanto amar me faço assim: um apaixonado sem fim. Quantos momentos brincando em mim, palpitando no confim de um coração querubim. Eu, anjo do amor voando pelo seu céu lilás. Tanto tempo faz do nosso primeiro beijo e o desejo continua demais como a canção fugaz: amar é bom. Amar é o som do querer mais cantando na chuva, debaixo do chuveiro, na noite turva, pela estrada, por entre as flores do canteiro e ao pé do ouvido da criatura amada.

Amo-te mais e mais, mas nunca o bastante. Amo-te como infante e com toda a enfática necessária. Amo-te de forma lunática, por entre cometas e luares. Amo-te aqui, lá, ali, acolá, em todos os lugares. Amo-te até mesmo no vácuo. E nesse amor não me empaco, pois mesmo revivendo nossas poesias, amo-te sempre à frente. Amo-te com o mesmo sentimento, mas de um modo sempre diferente. Amo-te num amor navegante: descobridor e avante. ...
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15/11/2011 - Amor republicano

Proclamo-a diariamente como uma espécie de república em minha vida. Meus sonhos, cidadãos de mim, elegeram-na democraticamente para governar meus sentimentos. Uma paixão vitoriosa a partir do voto livre e secreto de cada uma das minhas esperanças. E republicano que sou vivo esse amor maquiavélico delegando todos os poderes sobre mim as suas mãos. Você é a chefe do meu estado, a minha rainha, a minha divindade pós-contemporânea e clássica, enfim, o meu republicanismo pelo direito e pelo avesso.
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14/11/2015 - Amor sem estepe

Coloca sua chave no meu contato. Liga-me. Dê a partida. Roda-me. Coloca-me em movimento. Seja meu combustível. Abasteça-me de desejo. Acelera-me. Jamais me freia, me breca ou me segura seja com os pés ou com a mão. Abra as minhas janelas. Leva-me pelas suas estradas. Faça-me conhecer seus caminhos. Tenha prazer em me dirigir, guiar, pilotar, conduzir. Leva-me deixando eu te levar. Afivela o cinto amarrando-se em mim. Ajeita-se no meu couro. Veja-se nos meus espelhos. Abuse da minha suspensão. Tira o máximo desse motor chamado coração que é feito de explosão. Limpe minhas velas. Corrija a minha cambagem. Recarregue minha bateria. Deixa a minha correia dentada te morder. Beijos aditivos são bem aceitos. E muito cuidado porque no nosso amor não há estepe.


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26/08/2015 - Amor sem-vergonha

Por tudo o que é mais sagrado não faça do nosso amor o seu pecado. Nem sempre uma maçã mordida pode ser considerada comida. Larga de inocência, pois não existe segredo quando tudo é praticado aos olhos da nossa própria consciência. Até onde vai a sua querência? Um terço de reza ou um quarto de carne? Morro ou mato por esse amor sem-vergonha que ronrona pelo que quer não se deixando saber até onde dá pé? Que o nosso destino seja o que Deus quiser ou o que o primeiro demônio lhe der em troca de mim que ando bobo com cara de querubim.


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06/06/2010 - Amor solto, south áfrica.

Quero lhe amar entre o Índico e o Atlântico azul, no sul da África do sul. Amar-lhe por entre os vestígios do amor humano que há mais de 100 mil anos se ama por ali. Quero falar que lhe amo em Bantu. Amar-lhe seguindo os elefantes. Quero lhe amar pelas minas de diamantes. Amar-lhe numa diversidade de culturas, idiomas e crenças religiosas. Quero lhe amar infinitamente, pois o índice de expectativa de vida nos obriga a amarmos hoje todo o amanhã. Amar-lhe com a devida licença dos orixás. Quero lhe amar em pinturas e esculturas tribais. Quero falar seu nome nas onze línguas oficiais reconhecidas pela Constituição sulafricana. Quero lhe amar na beleza e na pobreza da south áfrica num amor solto. ...
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