Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 150 de 320.

20/04/2016 - Lavore

Há tanto para se fazer. Olha para os lados e ralha com você. Olha, olha quanto há por fazer. Não há tempo a perder. Trabalha. Valha por dois ou três. É a sua vez. Não deixa passar o tempo, pois o tempo é o que há de voltar. Segura o momento. Lapida o sentimento. Vá atrás do que é realmente importante. Faça diferente. Se reinvente. Não tente, faça, consiga, conquiste. Se não puder ser as asas, seja o alpiste do pássaro. Dobra o aço. Firma o passo. Corta todo e qualquer laço que te prenda ao sofrimento. Não fique isento à felicidade. Não ignore aquilo que o invade. Não se permita ao papel de observador. Seja o lavrador do seu campo. Nem pecador nem santo. Há tanto para se fazer. Deixe de doer e lavore o amor.


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14/01/2011 - Le Jeu de la Séduction

Sua alma é confeccionada em ouro branco, com navetes de rubis e diamantes. Espírito de seiva. Passado de marfim. Alma cortada com a exatidão de um deus ourives a partir da pureza das gemas que contrapõem seu design pouco inocente. Seu corpo físico é desenhado de forma onírica e com um detalhismo que mistura safiras azul, rosa e violeta com pavê de brilhantes. Seu coração é um broche atarracado ao peito e seus cabelos escorrem pelo pescoço como colares sutis que mudam de cor e textura ao sopro de um vento minerador. ...
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26/04/2016 - Leia-me

Leia-me antes de dormir e ao acordar. Leia-me na hora do café, do almoço, do jantar. Leia-me andando, malhando, amando. Leia-me para se apaixonar ou para se manter apaixonado. Leia-me de pé, com fé, para (des)entender a mulher. Leia-me nas horas de solidão e nas que os sentimentos se alvoroçam feito multidão aí dentro de você. Leia-me com ou sem porquê. Leia-me de todas as formas, jeitos, trejeitos, sem lei, sem normas. Leia-me vestido ou nu, bem-passado ou cru, deitado, de quatro, plantando bananeira. Leia-me em qualquer posição. Fetal, sexual, de meditação. Leia-me por fora e por dentro, pelo avesso, pelo começo, pelas beiradas, pelo fim, pelas horas mais curtas ou mais alongadas. Leia-me a sua moda. Leia-me numa reta, numa curva, numa roda. Leia-me na sacada, na varanda, no quintal, na praia, no campo, na montanha, no espaço sideral. Leia-me na crescente, na cheia, na minguante, na nova. Leia-me em prosa, em verso, em trova. Leia-me em silêncio ou cantando. Leia-me no papel, no computador, no celular. Leia-me em todo canto, em qualquer lugar. Leia-me fazendo crochê, fazendo comida, fazendo amor. Leia-me seco e molhado, chuvoso e ensolarado, aberto e fechado. Leia-me na primavera, no verão, no inverno, na meia estação. Leia-me no quarto, na ladeira, no parque, leia-me todo de parte em parte. Leia-me de óculos, de binóculos e cegamente. Leia-me com luzes frias ou quentes, no nascente ou poente, calma e desesperadamente. Leia-me pelo amor demais, pela paixão à primeira vista, pelo sentimento malabarista. Leia-me para se vestir de palavras. Leia-me para se cobrir de lava. Leia-me como se fosse acabar. Leia-me sem conseguir me deixar. Leia-me entre quatro paredes, no balanço das redes, azul, vermelho, rosa, verde. Leia-me independentemente se feio ou bonito, mas no rito de ler o amor em sua intensidade, em sua vitalidade, em sua profundidade. Leia-me como quem lê o amanhã, o hoje, o passado. Leia-me querendo ser amado, mas não num amor qualquer. Leia-me o quanto puder. Leia-me e deixa vir o que vier. Leia-me desfolhando-me bem-me-quer, malmequer, bem-me-quer, malmequer, bem-me-quer.


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14/06/2015 - Lendas do rouxinol

O buraco sem fundo é onde se esconde o melhor do mundo. No caco de vidro alguém se sangra e dá seu destino como lido. No fato ocorrido há sempre um inocente e um parente comovido. Na fenda da agulha passa linha, mas não passa trem. À fagulha da vela vem a alma que convém. Diz a lenda que é na lua nova que sobra desdém. Porém, se quiser algo novo basta dizer ao além: eu louvo a minguante também. O pano das costas é o mais alvejado. A inveja e olho-gordo andam lado a lado. A cobiça enguiça seu futuro e seu passado. Cuidado com os botões, pois no ato do abotoamento há sempre um casamento. O vão da vida é uma ode à despedida. Pela ponte estreita quem não se sacode não se endireita. Preste atenção, coração é curvo como anzol para fisgar amor e perdão até em mar turvo ou dias sem sol. Tudo isso quem me contou foi o menino rouxinol que hoje canta junto da santa de olhos de farol.


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28/02/2016 - Leva meus bois

Oô Oô carreiro, leva o que restou dos meus bois junto das suas juntas porque de agora em diante vou esperar pela vida, pois a morte eu já bem conheço vestida ou despida. Oô Oô vou sentir saudade do meu gado andante, do meu carro ligeiro que geme e chora, do sereno campeiro, mas minha lida daqui até outrora será pela minha senhora, a vida. Eu já duelei no norte, provei que fui mais forte, já morri e renasci inúmeras vezes, mas cansei, entrego os pontos, viverei de contar meus contos a quem quiser escutar. Toma toda a minha rês. Leva meus bois, ô leva carreiro, e daqui para frente pode me chamar de violeiro. Oô carreiro, das dez linhas do destino que já atravessei, do menino ao homem, fiz dez cordas de viola que selei junto ao peito em sinal de respeito aos bois que eu te dei. E agora toda vez que eu canto cada corda vibra, a boiada solta aquela mugida, o carro estica a gemida e lá vem a vida.


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14/03/2014 - Levá-la no colo

Que meus braços sejam chamados de andor, porque eu lhe carrego por onde quer que for. Meus braços carregaram a pureza da santa, a beleza que é tanta, o mistério que encanta e uma fé que se agiganta. Que meus braços sejam imortalizados com você sendo sustentada por eles, suspensa em pleno ar como flor ao vento. Seu corpo tatuou a minha pele, o meu sangue, a minha alma, com a história de um amor sagrado. Meus braços ainda sentem a sua leveza, que mais parecia ser feita de pluma do que de carne, tendo bolhas de sabão no lugar dos ossos. ...
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12/03/2013 - Leva-me daqui

Leva-me daqui sem perguntar para onde. Leva-me daqui num beijo bom. Leva-me daqui sem pedir autorização. Leva-me daqui sem se importar com tempo ou caminhos. Leva-me daqui usando pés, asas, nadadeiras. Leva-me daqui ajudando-me a carregar o peso dos sentimentos que seguem comigo. Leva-me daqui arrastando meu coração. Leva-me daqui urgentemente. Leva-me daqui sem paradas para descanso. Leva-me daqui sem deixar pistas. Leva-me daqui sem utilizar mapas ou bússolas. Leva-me daqui passando pelos reinos das histórias de ninar. ...
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27/11/2009 - Leveza é fundamental

Gosto de lhe ver caminhar com essas pernas ariscas de sol. Gosto de mordiscar romances inteiros em seus ouvidos escondendo-lhe apenas o final da história. Gosto de acompanhar seus olhos caminhando na direção contrária ao tempo. Gosto de tentar entender essa sua tristeza incompreendida. Gosto de lhe fazer carícias e me entregar a sua malícia ingênua de ser. Gosto de lhe ter o mais próximo possível, mesmo sabendo que existe um cânion entre nós. Afinal, anjos e demônios são díspares por natureza. E eis aí nossa beleza....
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23/05/2011 - Liberté, liberté

Todo dia a gente nasce; todo dia a gente morre, um pouco. O corpo é só o corpo, por isso envelhece, fenece, apodrece. A alma amadurece como cachaça, a cada dia fica mais curtida, mais doce, mais querida e rejuvenesce a cada sonho. Rugas são depósitos de lembranças, cada traço abriga um sem número de crianças. Não fique triste o tempo não existe para além da nossa cabeça.

Enterre suas angústias, despeça-se de seus dramas, vele suas derrotas e comemore a chegada dos novos ciclos. Numa hora você é verão, noutra é outono. Agora você é quarto crescente, logo mais será quarto minguante. A vida é movimento. Abra os braços ao destino, aceite o tempo, sinta o vento. Dance nos braços de Merlin os passos de uma música que não tem começo nem fim....
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23/02/2013 - Liberte-se

Chega de escravidão, de submissão, de resignação. É hora de quebrar as correntes, de entortar os grilhões, de fugir as prisões reais e imaginárias. Basta de se curvar aos senhores de escravos, dos mansos aos bravos. Basta de ter seu destino traçado. Basta de viver feito pássaro engaiolado. Asas foram feitas para ser abertas. Liberdade foi feita para ser vivida e não mantida em cativeiro em constituições empoeiradas. A escravidão na vida, na religião, na rua, no trabalho, no coração, judia, castiga, chicoteia, esfola, mata......
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