Ou exibir apenas títulos iniciados por:
A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todosOrdernar por: mais novos
Encontrados 3193 textos. Exibindo página 112 de 320.
Ela fuma jonhn player special
As pedras do isqueiro se esfregam como dois amantes e a chama, que não é vermelha, incendeia um cigarro manchado por um batom pouco. Batom que também não é vermelho. Cigarro aceso, as mãos de unhas afiadas e dedos longos levam e tiram o cigarro dos lábios escorregadios. Lábios tão claros que quase somem na pele daquela mulher. O cigarro queima. Ela sai. Caminha. O cigarro arde. E são tantos violamentos, pedidos de perdão, esquecimentos, declarações e uma lista de outros atrevimentos que ficam submersos na fumaça daquele cigarro. ...
continuar a ler
Comentários (2)
07/08/2011 -
Ela não era do mar
E foi então que ele entregou seu maior segredo na frente das câmeras, em rede nacional, no horário nobre, no intervalo do jornal. Ela titubeou, gaguejou, fez olhos de choro, envermelhou as maçãs do rosto. Não conseguiu dizer que era mentira. Diante de tanta indelicadeza, assumiu, sem qualquer vaidade, sua fraqueza, sua fragilidade. Ela tinha medo do mar. Era uma espécie de sereia da areia. Não suportava as ondas da maré cheia. Dizia até que o sal do mar deixava-a feia. Mas não havia desculpa que desse jeito na situação. Um tremendo mal-estar. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
16/12/2014 -
Ela passou
Ela passou e nem me olhou. Ela passou fingindo não me conhecer. Ela passou e me ignorou. Ela passou com tanto a dizer não dizendo nada. Ela passou num tão grande sofrer. Ela passou e me fincou sua decepção. Ela passou e mesmo calada me disse um tamanho não. Ela passou sem me descobrir como se eu fosse um camaleão. Ela passou e me deixou tantas mágoas. Ela passou como um rio passa com suas águas – sempre em frente. Ela passou e nem me abraçou. Ela passou e nem me pediu um beijo. Ela passou e nem se lembrou de tudo o que fomos, o que somos. Ela passou e me revirou sem encostar um dedo em mim. Ela passou e esburacou meu jardim do sossego. Ela passou e nem se dignou a perguntar como estou. Ela passou como um vento que passa sem tomar conhecimento do que está na estrada. Ela passou deixando um perfume de angústia. Ela passou cega ao meu coração. Ela passou dando nós em minha garganta. Ela passou evocando minhas lágrimas num ritual sem explicação. Ela passou materializando a saudade que de tão concreta pesou sobre meu corpo. Ela passou mortal como bala de canhão. Ela passou dramática, enfática, bombástica. Ela passou roubando-me o ar. Ela passou pisando firme mesmo sem saber que caminho seguir. Ela passou e me confundiu. Ela passou e, querendo ou não, certeiramente me atingiu. Ela passou como um cometa que não se sabe quando vai passar novamente. Ela passou e nem sorriu. Ela passou honrando seu luto. Ela passou intensa até demais. Ela passou como os amores passam, deixando rastros de dor e vazio.
Seja o primeiro a comentar
17/06/2011 -
Ela que passa
Os homens, os bichos, as plantas suspiram, inspiram e se reviram todos quando ela passa. Seres feitos de carne, de seiva, de concreto, de vidro dobram-se diante de seu passar. As águas param de correr, as aranhas deixam de tecer, o pássaro se recusa a voar quando ela passa. Até mesmos os mais secos, os mais duros, os mais fechados se derretem e se abrem e se molham ao seu passar. Até os mais fieis cometem o pecado de acompanharem um ou dois ou três de seus passos. Até os padres param de rezar, os chefes deixam de cozinhar, os ceifeiros se negam a matar diante do seu passar. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
17/06/2013 -
Ela se aninhou
Ela não sai do ninho. Ela não quer painço, alpiste, girassol. Ela tem medo da alface, faz cara feia para o jiló e corre da goiaba. Ela perdeu o apetite, por amor. Ela não canta, não assovia, não coloca pra fora qualquer demonstração de alegria. Ela se internou no ninho desde que se apaixonou. Ela não se dependura no poleiro, não fica de ponta cabeça, não pede para ir ao viveiro. Ela se isolou do mundo inteiro para viver a sós seu amor profundo.
Ela não sai do ninho. Ela não quer água para beber ou para se banhar. Ela não deixa seus aposentos nem para espiar o sol. Ela não se espia no espelho. Ela não penteia seus cabelos. Ela não conversa com os vizinhos. Ela não abre seu coração. Ela não tenta fugir. Ela amou. Ela enviuvou. Ela se reapaixonou. Ela aninhou. Ela perdeu a noção do tempo. Ela não mais abriu suas asas ao vento. Ela se culpou. Ela se condenou. Ela se trancou.
Seja o primeiro a comentar
18/04/2016 -
Ela se foi e ficou
Ela pegou os sapatos e saiu descalça, sem vestido nem calça. Ela me amou e ignorou as consequências. E se foi farta da minha paciência. Condenou-me culpado, em olhares transitados e julgados, sem se permitir ouvir a minha inocência. Não pedi clemência, mas uma última e eterna sobreposição de destinos. Mais uma vez fui o seu menino. E ela, arteira como sempre, foi de uma só vez flor, fruto e semente. Intensa em sabor, em cor, em furor. Abriu os braços e o vento a levou. Porém, o melhor dela, aquela que foi Bela Adormecida e Cinderela, num conto de fadas contado de forma reinventada, ficou. Ela pegou os sapatos e saiu descalça, sem vestido nem calça. No entanto, suas asas de garça, continuam na minha graça. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
21/11/2015 -
Ela virou vagalume
E ela se desprendeu da mão do pai e correu no meio dos vagalumes, como se eles fossem estrelas beirando o chão e ela uma menina, apenas uma menina, imersa, totalmente imersa, na imensidão. O pai achou graça da menina dançando, saltando, cantando, rodando por entre os vagalumes. Foi alegria, contentamento, euforia, sentimento, perfume. Ela falou que seria vagalume, o pai não deu atenção. Achou besteira, bobagem, coisa de que não tem idade ou própria vontade. O pai se distraiu, a menina se abstraiu e ninguém viu o caminhão que cortou o estradão sem farol, sem buzina, na banguela, na surdina. O pai gritou, chorou, esperneou e a menina nem escutou. Por mal ou pro bem, ela cumpriu sua sina e virou vagalume também. O pai achou que ela acabou, mas ela, na verdade, iluminou.
Comentários (2)
27/09/2011 -
Ela voltou
Ela voltou. Ela voltou boemia, noite adentro, madrugada afora. Ela voltou calma e tranqüila. Ela voltou na ponta dos pés. Ela voltou leve e deveras perfumada. Ela voltou no meio de um vendaval. Ela voltou calando a terra. Ela voltou provocando cantorias. Ela voltou num clima de comemoração. Ela voltou com os olhos d’água do verão passado. Ela voltou com hálito úmido e corpo intimamente encharcado.
Ela voltou à boca miúda, sem estrondos ou holofotes. Ela voltou magra e fresca. Ela voltou no mesmo ritmo, dona da mesma sinfonia. Ela voltou apagando a poeira da saudade. Ela voltou beijando as flores em coma. Ela voltou declarando guerra aos pássaros secos. Ela voltou contínua, prometendo longa estadia. Ela voltou entre o sono e a fantasia. Ela voltou banhada de doce sem saber se veio por si ou se algo a trouxe....
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
17/06/2008 -
Ela voltou a nos assombrar
As histórias de lobisomem e mula-sem-cabeça parecem ingênuas se colocadas frente a frente com outra assombração, que parecia adormecida nos últimos anos: a inflação. Eis que como a encenação cinematográfica dos morto-vivos, ela retorna só pelo prazer de nos assombrar. E quanto mais nós temos medo, mais ela cresce. Em uma pesquisa recente feita pelo IBGE, sete em cada dez produtos estão bem mais caros.
Vou adaptar um ditado popular para dizer que depois da bonança, sempre vem a tempestade. E prepare os guarda-chuvas, posto que os economistas já tremem diante das supostas metas inflacionárias. Já há quem ande escutando o barulhinho das máquinas de remarcar preço trabalhando a todo vapor. Pudera, a inflação já está acima das previsões mais pessimistas dos economistas. E, diante desse medo, o Banco Central aumenta os juros. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
22/02/2016 -
Ele ainda está vivo
Se tudo terminasse agora eu mesmo assim não iria embora porque não aceito o fim do que não chora. E eu ainda sorrio, você ainda gargalha como se sentisse cócegas na alma que te avacalha. Não há o frio entre nós do vazio. O amor não encalha quando a calha do nosso sonhadeiro ainda dá pro estrangeiro. Ninguém é prisioneiro de ninguém, olhe às cordas do violeiro e entenda que as modas vão e vem. Se tudo terminasse agora e o cupido assinalasse com sua flecha torta o ponto final da nossa história eu mesmo assim gritaria “maldita escória” de anjos sem memória que acabam com amores como se nunca tivessem sido pecadores. E eu, mesmo a contragosto do céu, mesmo desobedecendo o meu papel e outros anseios, manteria o gosto de te amar do meio jeito roto, pois o amor que há, ligando meu peito aos seus seios, não está morto. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar