Daniel Campos

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27/09/2011 - Ela voltou

Ela voltou. Ela voltou boemia, noite adentro, madrugada afora. Ela voltou calma e tranqüila. Ela voltou na ponta dos pés. Ela voltou leve e deveras perfumada. Ela voltou no meio de um vendaval. Ela voltou calando a terra. Ela voltou provocando cantorias. Ela voltou num clima de comemoração. Ela voltou com os olhos d’água do verão passado. Ela voltou com hálito úmido e corpo intimamente encharcado.

Ela voltou à boca miúda, sem estrondos ou holofotes. Ela voltou magra e fresca. Ela voltou no mesmo ritmo, dona da mesma sinfonia. Ela voltou apagando a poeira da saudade. Ela voltou beijando as flores em coma. Ela voltou declarando guerra aos pássaros secos. Ela voltou contínua, prometendo longa estadia. Ela voltou entre o sono e a fantasia. Ela voltou banhada de doce sem saber se veio por si ou se algo a trouxe.

Ela voltou aquietando o fogo doente de ardor. Ela voltou repentina, sapeca como menina. Ela voltou já tomando de conta. Ela voltou e percorreu cada canto, do jardim aos alvéolos. Ela voltou como um feito primaveril. Ela voltou lavando um tempo sujo e mal amado. Ela voltou com um longo vestido cinza, capaz de cobrir sol e lua de uma só vez. Ela voltou e a vida que já ia como perdida se refez.


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