Daniel Campos

Prosas

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 3193 textos. Exibindo página 37 de 320.

18/11/2015 - Pequeno grande aprendizado

Não precisamos de um naco a mais do que temos. Não merecemos nada além do que nos é dado. Não nos é ofertado uma semente do que não foi plantado por nós. Não saímos vencedores ou perdedores, apenas com as marcas do que fizemos. Não chegamos ao terceiro degrau sem ter passado pelo segundo. Não nos encontramos com ninguém por acaso. Não passamos por um caminho sem uma razão. Não realizamos ação alguma sem gerar uma consequência. Não mentimos ou enganamos, ou ainda iludimos quando o assunto é a nossa própria vibração. Não dormimos culpados e acordamos inocentes ou vice-versa. Não chegamos a lugar algum sem trabalho. Não há força alguma mais forte que a emanada pela simplicidade do amor.


Comentar Seja o primeiro a comentar

17/11/2015 - Colo orvalhado

O colo orvalhado da mulher que se deu à noite é de um frescor que os pulmões se enchem de um ar perfumado diante da visão. As gotículas daquele sereno bom vão num pontilhado aleatório dando maior ou menor resolução ao colo da mulher orvalhada dependendo da reação de quem o enxerga. Essa espécie de suor ou choro noturno, como bem preferir, dá beleza à mulher que sai pelos quintais com o colo à mostra, como que oferecido aos anjos noturnos. E não são raros os que querem acender velas ao passar dessa mulher para pedir milagres ou apenas melhorar a imagem daquele colo que foi feito à contemplação. Colo que desponta à noite com seios estrelados e gotas de um néctar que atraí vagalumes com complexo de beija-flores.


Comentários (1)

16/11/2015 - Entre o real e a ficção

E de repente, a claridade do dia ficou restrita apenas a dois olhos caribenhos. Ela, vestida como quem vai ter com o mar, recebeu-me na penumbra dos seus desejos. Velas, perfumes e liras de Caetano. E como numa lei física, atraímo-nos. E como numa equação química, reagimos. E como num verso de Pessoa, existimos. Entre beijos e abraços aproximamo-nos tanto a ponto de executarmos um perfeito eclipse. O coração bombeava eu te amos e as mãos buscavam ter certeza de que os corpos existiam para além da fantasia criada. Os lençóis eram tão virgens como o momento desfraldado. E quando os corpos se fundiram, Caetano se calou e as ondas do mar bateram forte revirando olhares de modo que as visões dali por diante ficaram fora de seus lugares. E não se soube mais o que era real e o que era ficção.


Comentar Seja o primeiro a comentar

15/11/2015 - Cigarra cantou chuva

A cigarra cantou e a chuva chamou pra perto de nós. Cigarra quando canta nuvem de chuva se alevanta. A cigarra cantou e o chão molhou, e o rio correu, e a árvore verdejou. Cigarra quando canta a chuva é certa, a chuva é tanta. A cigarra cantou e o aguaceiro se esparramou pela roça que deus caipira abençoou. Cigarra quando canta a terra de junta almoça e janta. A cigarra cantou e o céu chorou sobre todos nós. Cigarra quando canta criança dorme de manta. A cigarra cantou e o cachorro rolou na lama, o sabiá pulou na laranjeira e a galinha da cama de palha não levantou. Cigarra quando canta bole com as trovoadas e os olhos do lavrador pela invernada se encanta. A cigarra cantou chuva e o céu pretejou, relampeou e a água rolou.


Comentários (2)

14/11/2015 - Amor sem estepe

Coloca sua chave no meu contato. Liga-me. Dê a partida. Roda-me. Coloca-me em movimento. Seja meu combustível. Abasteça-me de desejo. Acelera-me. Jamais me freia, me breca ou me segura seja com os pés ou com a mão. Abra as minhas janelas. Leva-me pelas suas estradas. Faça-me conhecer seus caminhos. Tenha prazer em me dirigir, guiar, pilotar, conduzir. Leva-me deixando eu te levar. Afivela o cinto amarrando-se em mim. Ajeita-se no meu couro. Veja-se nos meus espelhos. Abuse da minha suspensão. Tira o máximo desse motor chamado coração que é feito de explosão. Limpe minhas velas. Corrija a minha cambagem. Recarregue minha bateria. Deixa a minha correia dentada te morder. Beijos aditivos são bem aceitos. E muito cuidado porque no nosso amor não há estepe.


Comentar Seja o primeiro a comentar

13/11/2015 - Grife ainda...

Não vou mais ao cinema. Não peço mais pizza nem guaraná. Não compro nada sem antes consultar os teoremas. Não voo mais. Não ando demais pra não achar pedágio. Não ligo o rádio, escuto de graça o sabiá. Não compro mais livros. Não como uma colher a mais do que me mantém vivo. Não sei mais o que é um banho de rei. Não passo nem perto do teatro pra não cair na tentação de espiar ao menos um ato. Não compro mais camisa, meia ou calça. Não pago para andar na praça. Não tomo mais café. Não custeio a minha fé. Não aposto mais em jogos de azar. Não me dou ao desfrute sequer um torresmo de bar. Não tenho ar condicionado. Não tenho outra viagem senão para o meu passado. Não me rendo às grifes. Não me vendo ainda, grife ainda.... ...
continuar a ler


Comentários (1)

12/11/2015 - Não sou moleque

Eu não sou moleque para dispensar você. Eu não chiclete para me desgrudar de você. Eu quero você a todo instante, a cada hora. Eu quero você de um jeito novo ontem, amanhã e agora. Eu sem você sou carro sem breque, cocheiro sem charrete, chacrinha sem chacrete, inglaterra sem elizabeth. Eu não sou de perder o que eu quero. Eu não sou céu de quero-quero. Eu não sou de ficar no lero-lero. Eu sou o alvo, você é a flecha. Eu sou a lei, você é a brecha. Eu sou o queijo, você a ratazana. Eu sou o campo, você a urbana. Eu sou a paixão, você a ohana. Somos ying yang, bang bang, mar, mata e mangue, seiva e sangue. Somos o que não se separa, peixe e vara, cara e tara, anjo e odara. Eu sem você sou revolver sem bala, grito sem cala, viagem sem mala, língua sem fala, cigana sem leque. Eu não sou pivete para brincar com o seu coração. Eu não sou trompete para soprar a nossa separação.


Comentários (1)

11/11/2015 - Bate no peito caboclo

Bate no peito caboclo que é. Pede respeito, grita sua fé. Bate no peito índio cacique pajé. Avisa que chegou e que a luz já raiou. Não deixa mal algum de pé. Bate no peito e faz trovoada. Leva todo ódio, olho-gordo, maldição a bater em revoada. Bate no peito com seu jeito próprio. Bate no peito para despertar todo amor que há. Bate no peito e faz estrondar. Faz o seu canto e com o seu encanto jaz o meu pranto. Evolução do guerreiro que bate no peito se fazendo inteiro. Bate no peito como quem bate numa árvore acordando sua natureza. Bate no peito como quem bate na pedra chamando o que há para além da sua dureza. Bate no peito como quem bate no coração evocando sua pureza. Bate no peito caboclo que é. E não é caboclo qualquer. Bate no peito levantando toda vida dos ninhos, dos leitos, das fogueiras, das cachoeiras, das pedreiras, das matas inteiras, dos caminhos de deus. Bate no peito e que as coisas ruins digam adeus.


Comentários (2)

10/11/2015 - Terra nova

Toda vez que piso o chão caminho por uma terra nova. Meus pés nunca sabem onde estão. Caminho por lugares que ontem pareciam iguais ao de hoje, mas só pareciam, tudo ilusão. A vida é só uma projeção dos nossos sonhos, das nossas lutas, das nossas expectativas. A experiência é cativa de todos nós e o aprendizado uma constante. Delirante quem não vier com a minha opinião de que cada passo é novo nesse solo gigante e minúsculo ao mesmo instante. Cante, pois os pássaros já cantam há tempos. Jogue-se ao vento pois não há barqueiro melhor nesse oceano flutuante chamado ar. Toda vez que amasso essa terra peço licença e perdão, pois são pés de quem erra, pés que buscam novas estradas. Terra nova é o que diz a trova do violão que compõe a minha jornada. É bom olhar para trás e ver que os rastros desta existência estão mais leves diretamente ligados ao peso da penitência. É a ciência de seguir com o que construir, nada mais, nada menos do que sua construção. Tijolos de razão, tijolos de emoção. Como joão-de-barro vou catando o que há em minhas trilhas por milhas e milhas. Assim faço minha casa, meu curso, meu coração.


Comentar Seja o primeiro a comentar

08/11/2015 - Ao lado do seu namorado

Olha pro meu lado, chama-me de seu namorado e se for capaz esqueça-se do meu passado. Beija meu ser, toma-me de assalto, completa em mim o seu ato, deseja o meu querer, morda meu corpo e me dê seu sopro criador. Acasala-me nas suas casas, deixando-me ser o seu botão. Pelo amor que tem, imagina-se na minha imaginação. Pensa no que você pode fazer dentro da minha cabeça, sem medo de qualquer sentença. Voa livre pelos meus pensamentos fazendo seus arranjos, ora me fazendo seu demônio ora seu arcanjo. Toca a minha vida como quem toca boiada, abrindo suas picadas em meu íntimo e achando a saída do meu labirinto. Eu não minto, me borda e eu pinto você sem pincéis, mas com buquês. Coloca em mim os seus bebês e trama pela minha cama seu romance além de todo e qualquer alcance. Olha pro meu lado, chama-me de seu namorado, consorte de sua rainha, e conspira com a minha morte para o meu final ser feliz. ...
continuar a ler


Comentários (1)

Primeira   Anterior   35  36  37  38  39   Seguinte   Ultima