Daniel Campos

Prosas

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07/12/2015 - Pássaro preto

Pássaro preto cantou na amoreira, lambuzou-se de amora, voltou pra casa e apanhou da passarinheira, que achou que ele a traiu com alguma biscateira.

Pássaro preto chorou a noite inteira, expulso do ninho, pousou num galho de goiabeira e toda a redondeza ouviu a beleza da sua choradeira.

Pássaro preto cantou na roseira, perfumou-se de rosa, voltou pra casa e se declarou para passarinheira, que teve a certeza de que ele estava numa zoeira.

Pássaro preto vou, vou até Madureira e na Portela seu choro rendeu samba e até enredo de carnaval. Pássaro preto cantou, desfilou, sambou e seu choro deu no jornal. ...
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06/12/2015 - Marília Pêra continua em cartaz

Depois de 72 anos brilhando por aqui, Marilia Pêra voltou ao espaço, para sua casa original, junto das outras estrelas. Dançou, cantou, atuou, dirigiu, ensinou, produziu, coreografou, amou. Viveu como numa fusão nucelar, liberando toda energia e transcendendo ao infinito.

Ela de uma nobreza, de um porte de rainha, de uma arte inerente à existência, de uma magnitude ímpar, de uma delicadeza forte, de uma luz que cobre a todos como um manto, de uma beleza que não envelheceu, de um encanto que jamais se perdeu. ...
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05/12/2015 - Vestida de vermelho

Vem vestida de vermelho, dama de fazer o cavalheiro dobrar-se em joelhos numa cortejamento que vai ligando e desligando e religando sentimento. Vem de pernas à mostra e cabelos ao vento. Vem e, em ensolarada ou ao relento, quem é que não gosta da beleza posta de forma mais que especial. Aliás, espacial, pois é vinda das estrelas, das constelações, das galáxias das imaginações que moram em minha cabeça. Não se esqueça de que somos partes do universo, repletos de infinitos e segredos, de luzes e sombras, de desejos e medos. Vem vestida de vermelho e nem precisa de espelho para saber que está soberana, dona das ruas, dos corpos, das camas. Arde em chama e faz arder na ilusão quem a ama. Rama de sedução. Trama de paixão. Drama de sim e não. Impossibilidade abstrata. Pele de cetim e coração de lata, vira-lata, que destrata a coisa amada. No seu vermelho, o relho do fim vai cortando, sangrando, se acabando em mim. ...
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04/12/2015 - Universo paralelo

Se quiser nesse mundo, esqueça tudo o que eu disse sobre o amor. Por aqui, eu perdi a validade. Estou ultrapassado. Sou o passado do passado no futuro do presente mais que ausente. O meu mundo é ontem. O meu coração vive em trasanteontem. Eu brindo à nostalgia, bons tempos, velhos dias. Virei démodé. Alguns ainda me acham retrô, mas minha poesia nasce e vive fora do seu tempo. Dizem que eu estou fora de moda e eu agradeço, pois se o modismo é a superficialidade prefiro viver na saudade. Afinal, quem é que ama de verdade hoje em dia? Quem é que se interessa por um romance profundo? Quem é que ainda se emociona? Vivemos uma crise profunda de sensibilidade. Humanos ou robôs? A delicadeza está praticamente extinta. Meus versos se perdem no ar. Apaixonar-se virou motivo de piada ou de vergonha. Se eu digo que amo sofro bullying. E todos se pegam, se esfregam, se segregam e não amam ninguém. Que conexão é essa? Que interconectividade é essa? Nos tempos desse amor digital eu ainda amo analogicamente, tendo que arrumar minhas antenas para captar, a cada instante, os sinais da pessoa amada. Nada de programar o coração, pois quem vai querer uma programação que inclua sofrimento. E o sofrimento é inerente à paixão, pois qualquer nascimento gera uma dor. A dor da mudança, da transformação, da evolução. Quem vive no automático não é capaz de viver um amor de direito e de fato. Portanto, nesse mundo robotizado minha poesia não cabe. Só continue lendo o que eu escrevo caso se permita ao contato com um tempo que não condiz com a realidade. Sensibilize-se, emocione-se, apaixone-se de perder o chão e seja bem-vindo ao meu universo paralelo, onde os amores sempre valem a pena.


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03/12/2015 - Maria Etelvina

Maria das Etelvinas, das portuguesas que cruzaram o Atlântico para tecer suas histórias neste chão. Etelvinas de coser. De seus doces. De suas costuras. De suas belezas. De seus fados.

Etelvina das Marias, das brasileiras que são índias, nativas desta terra, mistura de mulheres, de sonhos, de expectativas, de paixões.

Maria Etelvina que não abre mão do seu amor, que vive para seus filhos, que ano após ano vai abrindo caminho. Maria das saudades, Etelvina de todas as idades. ...
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02/12/2015 - Mortes poéticas

Se eu fosse violeiro eu pegava minha viola e abria caminho até morrer num luar do sertão. Se eu fosse pescador eu entregava meu barquinho às ondas e ia morrer em alto-mar. Se eu fosse lavrador eu semeava meus sonhos para morrer em paz na terra que daria meus frutos. Se eu fosse criança eu juntaria um tanto de balão de gás e ia morrer perto das estrelas. Se eu fosse mergulhador eu ia ao fundo do oceano encontrar um galeão para morrer pirata. Se eu fosse festeiro eu acendia uma fogueira pros três santos e morria lá no meio. Se eu fosse capoeirista eu jogava contra o mal e morria em nome do bem. Se eu fosse astronauta eu tomava o primeiro foguete rumo à lua para morrer na solidão daquelas crateras. Se eu fosse caçador eu me dava de comer à onça para morrer naquelas presas. Se eu fosse pássaro eu voava, voava, voava até me faltar asa e morrer como morre o vento. (...) Mas eu sou poeta e como tal só sei morrer de amor... E assim eu vou, entre versos e linhas, morrendo de amar.


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01/12/2015 - Diferente

Ando tropeçando nos meus rastros. Vou me embaraçando no que já fui. Errando os mesmos erros. Trazendo para hoje o ontem que insiste em não ficar pelo caminho. O passado se agarra aos meus pés. Como ir em frente se ando pra trás? É preciso desapegar, largar de mão, compreender que nada é para sempre. Tudo que nasce tem de morrer. Tudo ganha ou perde encantaria. Nada é agora como já foi um dia. Nem eu, nem você, nem a gente.


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30/11/2015 - Mangas da paz

As mangas caem como que oferecendo sua suculência às bocas famintas. E há mais naquela carne amarelada repleta de fiapos do que podemos enxergar a olho nu. Há paixão, desejo, conexão com a infância. Diante de uma manga madura perdemos a compostura, esquecemos a etiqueta, e rendemo-nos ao instinto de morder aquela pele macia. Os dentes fincando naquela carne quente. A língua passeando por aqueles sabores todos. Uma explosão não só na boca, mas no corpo todo. Eis o efeito de uma manga madura. Se no meio de uma guerra, entre as trincheiras, surgisse uma fileira de mangueiras, tenho certeza de que o combate teria fim ou, ao menos, uma pausa. Ninguém tacaria mangas, pois queremos as mangas para nós. Para o nosso deleite, para o nosso prazer, para o nosso desfrute. E depois de nos aventurarmos por tudo o que nos possibilita uma manga, suculenta e perfumada, a guerra perderia o sentido. Portanto, pelo encanto, plantemos mangueiras para colhermos a paz.


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29/11/2015 - Um bicho com outro

Um cachorro sempre cheira o outro. Um macaco sempre coça o outro. Um gato sempre se esfrega no outro. Uma vaca sempre lambe a outra. Um tatu-bola sempre se enrola como outro. Uma onça sempre pinta a outro. Uma galinha sempre bota outra. Um pavão sempre se abre pro outro. Um bicudo sempre bica o outro. Um canário sempre chama o outro. Uma zebra sempre tem a listra da outra. Um porco espinho sempre espinha o outro. Uma hiena sempre ri da outra. Um grilo sempre grila o outro. Um pato sempre empata o outro. Uma cobra sempre envenena a outra. Um sabiá sempre lálálálá pro outro. Um elefante sempre tromba o outro. Uma formiga sempre intriga a outra. Um burro sempre ensina o outro.


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28/11/2015 - Território mulher

Vou abrir picada pelo seu corpo. Adentrar em seus labirintos. Revirar suas marés. Deitar-me em seu chão. Alagar-me em seus olhos. Ver de perto suas florescências. Lamber os seus perfumes. Beber das suas nascentes. Dormir em suas ramas. Acolher-me em seus favos. Pendurar-me em suas copas. Prender-me em suas raízes. Ir pelos seus vales. Pular dos seus chapadões. Descansar na sua lagoa. Tingir-me nos seus jardins. Dependurar-me nas suas costelas. Afagar-me nas suas folhagens. Tocar o seu céu e devorar as suas sete luas.


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