Daniel Campos

Prosas

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28/12/2015 - Viuvinha

A viuvinha cisca graciosa pelo terreiro. Tem pés de bailarina e ninho por perto. Sabida, faz ninho no oco abandonado pelo pica-pau. Como viúva, cuida da casa velha com esmero. O corpo todo vestido de negro, como um mata borrão, com exceção para a mancha branca que traz na cabeça como se fosse um véu. Anda como que bailando pelo chão. Vez ou outra, sem mais esperar, dá um piado assoviado como choro de viúva, intenso e rápido. As penas da cauda escorrem longas como que formando uma tesoura ou um vestido de noiva. Noivinha ou viuvinha? Seja o que for aquela ave dá um toque de saudade e esperança no campo. Hipnotiza de velhos a crianças, de estressados a poetas, de rabugentos a festeiros, com sua silhueta em movimento. Arisca, risca o céu, ao menor indício de perigo, com suas asas de nanquim. E quando voa, o véu da cabeça escorre pelas costas, com a brancura se atrevendo por entre a penugem negra. O conflito entre e a noivinha e a viuvinha pelo corpo amiúde da ave que hipnotiza nossas vistas e instiga nossa visão.


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27/12/2015 - Tudo evolui

A rua parece ser a mesma, mas é diferente e a cada vez que passo por ela. E não falo diferente no sentido de pequenos detalhes, mas no conjunto que compõe a rua. A cada vez que volto a uma mesma rua sou tomado por novas emoções, sensações, descobertas. Aprendi a jamais considerar que conheço essa ou aquela rua. Eu não conheço nada do hoje. Posso ter algum conhecimento sobre o passado, sobre as ruas que já percorri, mas não sei absolutamente nada em relação às ruas pelas quais eu passo agora. Por isso, não crio expectativa, tampouco me encho de segurança para pisar aqui ou ali. Cada passo é novo. É imprescindível ter a consciência de que nada é como já foi um dia. Tudo muda. Tudo se transforma. Tudo evolui, de uma forma ou de outra....
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26/12/2015 - Dona saúva

Lá vem dona saúva trilhando pro formigueiro. Vem cantando e requebrando com um pedaço de folha de coqueiro. Lá vem dona saúva batendo antena com outras formigas avisando da chuva. Vem num balançado sincopado de se pedir socorro. Lá vem dona saúva subindo morro, fazendo curva. Vem trabalhando e se dando à rainha. Lá vem dona saúva apaixonada por um guerreiro e sozinha. Vem com o coração batendo forte pros lados do norte. Lá vem dona saúva temida, de bem com a vida, sem medo da morte ou da lida. Vem faceira, bordadeira das roseiras, cortadeira de goiabeira. Lá vem dona saúva carregando chegadas e despedidas como se carregasse uma doce uva.


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25/12/2015 - Natal todo dia

O Natal chega como uma estrela candente, mágico e avassalador. Independentemente de você acreditar ou não, de querer ou não, de viver ou não, os efeitos do Natal estão aí. Pode dizer que é só mais um dia do ano, mas é um dia em que as vibrações dos que se entregam ao Natal de corpo e alma são tamanhas a ponto de mudar vidas. A atmosfera do dia de hoje é diferente dos outros que compõem o calendário. Há algo de especial, de surpreendente, de transformador no dia de Natal. O famoso espírito natalino nada mais é do que um conjunto de vibrações positivas que toca o outro produzindo sensações de conforto, união, felicidade. E por que não utilizamos dessa mesma sintonia nos outros dias do ano? Porque estamos ocupados demais com as coisas do mundo material para vibrarmos amor. Se quiséssemos todo dia poderia ser Natal, mas, para isso, precisaríamos mudar nossa forma de viver. E aí está o verdadeiro presente que podemos nos dar de Natal – a expansão da nossa consciência.


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24/12/2015 - Pirata espacial

Sou pirata do mar agreste. Navego pelos destinos da lua. Meu signo é lunar. Sou corsário cruzando as linhas de Tordesilhas, de Greenwich, dos trópicos, do Equador, das ciganas do ar. Roda saia pra lá, gira saia pra cá, gira a roda da vida, vida que roda na gira, cigana ê, cigana ah. Vou navegando, balaçando lá e cá, amando no mais inteiro significado do verbo amar. Dobro estrelas, busco cometas, fujo dos buracos negros e acho sossego nas constelações onde a Ursa Menor se deita com os escorpiões sob os olhos de Sagitário. Sou pirata que navega no aquário dos olhos da amada sem encontrar pouso, parada, tendo nas ondas do universo minha estrada. ...
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23/12/2015 - No antigamente

Cachorro ei lobo eram um só. A cobra sapateava de fazer dó. A estrela boiava e brilhava no , mar. As árvores caminhavam. As paredes tinham ouvidos. As flores faziam sentido. E o tempo de amar era toda hora, agora e sempre, nascente e poente. Criança brincava com dormideira, dorme-dorme, dente de leão. E era do galho de mamona que nasciam bolas e mais bolhas de sabão. Toda música vinha de um refrão e o Natal dividia o ano com os festejos de João.


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22/12/2015 - Que venham partes e todos

Que venham as luzes e tudo mais o que for do nosso merecimento. Que venham as mudanças e, com elas, as forças de superação e adaptação. Que venham os abraços, os beijos, os verdadeiros amores. Que venham inteiros, metades, quartos, frações conforme couber a cada um. Que venham as mensagens, os sinais, os mistérios revelados ou não. Que venham novos tempos, novos ventos, novos sentimentos colocando o novo como evolução. Que venham as certezas do caminho, instantes inesquecíveis e dores falíveis. Que venham as flores do amanhã com seus perfumes, seus rubores, suas texturas, suas cores. Que venham músicas inéditas e que o vento vindo de um lugar distante e encantado nos ensine a cantá-las. Que venham sóis e luas caminhando juntos numa completude bonita de se ver. Que venham aqueles ensinamentos dos quais não poderemos jamais esquecer. Que venham chuvas, brotos, florações, frutos, sementeiras. Que venham pelo meio ou pelas beiras as águas do amanhã levando-nos cada vez mais distantes da mordida daquela maçã.


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21/12/2015 - Como isso e aquilo

Como quiabo eu babo por você. Como torresmo eu estalo e pururuco por inteiro quando te vejo. Como coqueiro eu balanço quando você passa. Como doce eu açucaro na sua boca. Como violão eu vibro todinho na sua música. Como poeta eu te visto de palavras. Como bolha de sabão eu reflito suas cores. Como lençol eu me estendo pra você deitar. Como água de cachoeira eu escorro por seu corpo. Como pipoca eu pulo quando sinto teu calor. Como malabarista do sinal vermelho eu faço graça pra você. Como cortina eu me abro pro espetáculo que é você começar. Como manga eu amadureço no seu pé. Como porta-retratos eu guardo seu passado. Como goiabeira eu me assanho todo com você subindo em mim. Como maçã espero uma vida toda por uma mordida sua. Como abajur eu ilumino seu sono. Como louva-deus vou agradecendo a falta do seu adeus.


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20/12/2015 - Eu sou o seu

Eu sou seus trilhos, seus paralelepípedos, suas trilhas. Sou o que te leva adiante. Sou seu pai, seus filhos, suas milhas, o que nunca te trai. Eu sou sua visão, seu coração, seu sim e não. Eu sou o seu amante, o seu amor, o seu calor sem explicação. Eu sou o seu mocinho, o seu ninho, o seu caminho que a leva e a traz daqui. Eu sou o que te faz sorrir e chorar, cair e levantar, sumir e se encontrar. Eu sou o seu leão, o seu caçador, o seu último primeiro novo velho amor.


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19/12/2015 - Viola afiada

No riscado da viola eu te chamo e mostro num piscar de hora como um homem chora. Amor de viola não é amor de esmola, precisa de mais, sempre mais, para não se perder indo embora. Moda de viola é igual toada de coração que não se aprende na escola. No ponteio da viola serpenteio pelo mundão dos seus olhos e boio na imensidão da lua cheia que clareia nossos campos. Nas cordas da viola eu amarro uma paixão, enforco qualquer dor e ainda quebro quebranto. Na viola eu mareio e incendeio qual fogueira de São João. A viola é como cola nos meus dedos, quando prende não solta mais não e aí meu corpo se rende a mais um refrão. Na viola, a gente se embola, se enrola e decola como fagulha do carvão. Nota a nota, a viola amola o nosso destino numa pedra chamada coração.


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