Daniel Campos

Prosas

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16/03/2008 - Ramos vindouros

Hoje é Domingo de Ramos. Em algum lugar, não muito longe daqui, há de haver uma procissão. Uma procissão de pessoas. Uma procissão de ramos. Uma procissão que vai cortando ruas, soltando fogos, abrindo caminho com preces e orações. Entre passos e cânticos, pessoas vão andando juntas, acreditando juntas, esperando juntas. Em suas mãos, levam ramos verdes. Folhas de coqueiro, de paineira, galhas de alecrim e até de samambaia. O cruzeiro, que vem na frente da procissão, vai puxando e espalhando todo esse verde por meio de um mundo sem cor. Cada um aperta suas folhas e segue pelo asfalto, pelas pedras ou pela terra batida. Carros param e motoristas e passageiros descem em sinal de respeito. Os moradores das casas por onde passa a procissão saem aos portões e as janelas para acompanhar, ver, ouvir e serem abençoados por esse cordão de fé. ...
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15/03/2008 - O Cristo Redentor que se cuide

Roubar galinha, carteira, carro e eletrodomésticos é démodé. Também já está desvalorizado o contrabando de animais e plantas silvestres, o confisco da poupança da classe média e o assalto a esperança de milhares de eleitores. Também se engana quem pense que o roubo de segredos industriais, de órgãos humanos e de telas famosas de museus clássicos está na moda. O frisson agora, entre os ladrões, é roubar múmias. Múmias? Isso mesmo, nesta semana a polícia egípcia apreendeu quatro múmias roubadas que seriam vendidas no mercado negro por um grupo de contrabandistas....
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13/03/2008 - Senna é Senna

A quarta-feira emerge como uma ilha no meio do oceano da semana. Uma ilha cercada de estresse e tensão. Afinal, as lembranças do último final de semana e as expectativas para o próximo são terras a perde de vista. Foi nesse clima que ontem (quarta-feira), dentre tantos escândalos e tremores políticos, mergulhei em outros mares.

Nunca escondi de ninguém que Ayrton Senna desempenhou um papel importante em minha vida - o de exemplo. Mais do que herói e mito, sempre me espelhei no espírito daquele que colocava a vontade de vencer acima de tudo. Tanto que estou escrevendo dois livros tendo Ayrton como protagonista. No primeiro, misturando realidade e ficção, narro um romance que tem uma corrida em Mônaco como paisagem de fundo - a última vencida por Senna. Espero terminá-lo ainda este semestre. ...
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12/03/2008 - Pecados modernos

Recebo com espanto a notícia de que o Papa Bento 16 modificou a lista de pecados capitais. De nada valeram as horas e mais horas que passei decorando -gula, luxúria, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça - para as aulas de catecismo. Como não foi Deus quem escreveu esta lista e sim outro papa (Gregório), o fato de vê-la alterada não é o mais gritante. Ainda mais quando o propósito é o de aproximar a igreja da realidade.

Achei louvável o papa dizer que poluir o ambiente é pecado. Afinal, o Planeta é uma espécie de divindade e toda vez que o agredimos, pecamos. Causar injustiça social ou pobreza também é digno de pecado, afinal, na teoria, somos todos iguais. Ainda neste sentido, tornar-se extremamente rico também virou motivo de confissão. Vale dizer que já há 18 brasileiros na lista dos mais ricos do mundo. O fato de usar drogas ser considerado pecado remete a idéia da destruição da vida, que é patrimônio celeste. É claro que pecar ou não é uma decisão do nosso livre arbítrio. ...
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11/03/2008 - Assédio moral é imoral, ilegal e engorda

A escassez de emprego no mundo atual e, portanto, a necessidade de estar empregado faz com que o trabalhador seja obrigado a suportar situações diárias de constrangimento, de ofensa a sua dignidade, de discriminação ideológica, racial, social e sexual e, até, de tortura psicológica. Essa combinação de "humilhações", em doses homeopáticas, é o cimento para a arquitetura sombria do assédio moral. O que era um problema no trabalho, passou a ser questão de saúde pública.

No decorrer desta lenta tortura, surgem sintomas nada agradáveis: estresse, crises de choro, hipertensão arterial, perda de memória, dores generalizadas, insônia, distúrbios digestivos, falta de ar, ganho de peso e, sobretudo, depressão. Temendo perder o emprego, os trabalhadores se enclausuram dentro de uma bolha de frustração e medo, passando a sofrer de um sentimento de inutilidade. ...
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10/03/2008 - Covardia doméstica

Apenas oito por cento das mulheres brasileiras se sentem respeitadas. Mais do que um dado de uma pesquisa, esse número é um motivo para vergonha. Erguemos muros imensos, cercamo-nos de cercas elétricas e alarmes, adestramos cachorros sanguinários... Para quê? Ficamos preocupados com os crimes que acontecem na rua e os perigos que vem de fora, mas há uma violência muito mais escandalosa, que não distingue classe social, região, credo ou faixa etária: a violência doméstica.

Como falar em igualdade, em desenvolvimento sustentável, em paz... se 15 em cada 100 brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica. Dessas, apenas 40 por cento registraram a denúncia em uma delegacia. Medo ou vergonha? Os maridos e companheiros são os maiores responsáveis por esses crimes, sob justificativa de uso de bebida alcoólica e ciúme. É bom ter a consciência de que "entre tapas e beijos" é só o verso de uma música sertaneja....
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09/03/2008 - Luislinda de Todos os Santos

Faltam doze minutos para as três da tarde. Com uma caneta e um amontoado de papel em branco, chego ao décimo andar da Câmara dos Deputados. De frente a um jardim de inverno florido de pássaros e de uma janela panorâmica para a Praça dos Três Poderes, espero. De repente, daquele carpete verde, brotam duas orquídeas negras. A primeira, minha amada mais amada para valer. A segunda, desconhecida até então, seria aquela que me adotaria como mais um de seus tantos filhos.

Ao apertar a mão daquela senhora de passos firmes, escuto os gritos de escravos, algemados e torturados; calo-me no desespero de mulheres discriminadas e exploradas; sinto o suor de uma pátria miserável que "vai levando" e sofro a dor do preconceito que marca, a ferro e fogo, pessoas que, na teoria, são iguais. Diante daquele encontro, vejo que aquelas palavras bonitas da Constituição, no dia a dia de um povo guerreiro, não valem de nada....
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08/03/2008 - Parabéns pelo seu dia

Ela acordou de um jeito que não costumava acordar. Horas antes e com um sorriso no rosto. Geralmente ela acorda tarde e com um mau-humor doentio. Mas hoje foi diferente. Abriu os olhos num contentamento estonteante. Pulou da cama, procurando algo. Vasculhou todo o quarto. Debaixo da cama, dentro do guarda-roupa, atrás da cortina. Pegou o telefone celular e começou a desbravar possíveis chamadas. Depois de ausências e desencontros, o sorriso começou a ficar desbotado.

Decidiu então tomar um banho. Quem sabe assim acordava de seu pesadelo. Os olhos escorriam como os fiapos de água vindos do chuveiro. Calma! Calma! Repetia em seu íntimo. Decidiu sair do banheiro e enfrentar a realidade. O quarto parecia um imenso deserto. Ela se sentia um cacto. Solitária e entregue a um sol-ardor que a devorava. Onde estavam os buquês de rosa? Onde estavam os bombons? Onde estavam os "parabéns pelo seu dia" e outros tantos dizeres bonitos. ...
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07/03/2008 - Paz verdadeira

Ao saber que o presidente da Venezuela, Hugo Chavéz, está em busca da paz verdadeira fiquei preocupado: será que já começou a época dos paturis? Lembro de ser percorrido pelo vento, em silêncio, na varanda das árvores. Há uma diferença entre casa na árvore e árvore na casa. O meu caso é o segundo! São dezenas de joão bolão, pau-d´alho, imbaúba, amoreira, castanheira, ameixeira amarela... E eu ali, no meio daquele verde com os olhos divididos entre o céu e o lago...

Fico entregue a um movimento constante. Cabe destacar que a vida é a arte do ir e vir. Bandos e mais bandos de paturi pousam no lago e ficam por ali a deslizar. Pés de todos os tamanhos vão se movendo em fila indiana, criando trilhos azulados e provocando pequeninas ondas que se quebram contra o barranco, que abriga os ninhos das tilápias. São aves pequenas, de penugem escura, que mergulham a cabeça na água em busca de alimento. Fico horas observando-as. ...
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06/03/2008 - O mundo não se acabou

"Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada ele bebeu parati
Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia: sossega leão, sossega leão"

Há exatos cinquenta anos, o autor desses versos saiu por aí para nunca mais voltar. O baiano Assis Valente não sossegou e conseguiu nos deixar em sua terceira tentativa de suicídio. Mas não foi porque ele era mantido em regime de escravidão pela própria família, ou pela vida que levava no circo ou pelo trabalho de lavar vidrinhos em uma farmácia que ele decidiu se matar......
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