Daniel Campos

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04/12/2008 - Enlatados

"Hoje, é um novo dia, de um novo tempo que começou. Nesses novos dias, as alegrias serão de todos é só querer. Todos nossos sonhos serão verdade"... Pára, pára, pára, como dizia minha professora de sociologia. Eu não lembro o nome dela, mas recordo-me dessa sucessão de gritos que ela encenava durante as aulas. Coitada, devia sofrer de algum tipo de fobia. Por falar nesse assunto, essa trilha da tv globo traz à tona a natalfobia. E atenção, natalfobíacos, a tal vinheta já começou...

Começou a época de fazer um balanço do que aconteceu e do que não aconteceu durante o ano. Época de fazer contas, compras e rever aqueles parentes indesejados. Época de ouvir discursos demagogos sobre solidariedade. Época dos inimigos secretos. Época de encontrar papais-noéis em cada esquina, tão felizes quão doidos para tirar aquela fantasia. Época das crianças esperarem que seus sonhos desçam por chaminés ou sejam deixados em meias. Época de mastigar aquela carne seca de peito de peru e engolir tantos sapos. Época de testemunhar os mesmos velhos especiais da televisão e sentir o gosto amargo da ilusão borbulhando no espumante.

Época de tentar encontrar o Espírito de Natal em você e nos que estão a sua volta. Na propaganda televisiva vê-se um monte de gente sorrindo, se abraçando, desenhando corações no ar. Será que Natal é isso? Qual será o sentimento de um morador que perdeu a casa, os móveis, o carro, a mulher e os filhos na enchente de Santa Catarina diante desse oba-oba artificial? Falta sensibilidade, falta humanidade, falta amor no Natal e para além dele. Que tal trocar um Espírito de Natal enlatado por um Espírito de Natal poético? Só assim teremos acesso a esse novo dia, a esse novo tempo que ainda não começou...


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