Daniel Campos

Prosas

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19/04/2016 - Donos destas terras

Hoje é dia dos donos destas terras. Hoje é dia dos primeiros, dos nativos, dos originais. Hoje é dia dos que entendem do mato, das águas, das pedras porque são parte de tudo isso. Hoje é dia dos que se pintam para o amor e para a guerra. Hoje é dia dos que sabem despertar a natureza. Hoje é dia das lendas vivas. Hoje é dia de fogueira, arco e flecha e tribo. Hoje é dia de sobreviver, de não ser apagado da história. Hoje é dia do amor tupi, tupiniquim, tupinambá. Hoje é dia de curumim, cacique, pajé. Hoje é dia de índio como todo dia deveria ser. Hoje é dia dos donos desta terra.


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18/04/2016 - Ela se foi e ficou

Ela pegou os sapatos e saiu descalça, sem vestido nem calça. Ela me amou e ignorou as consequências. E se foi farta da minha paciência. Condenou-me culpado, em olhares transitados e julgados, sem se permitir ouvir a minha inocência. Não pedi clemência, mas uma última e eterna sobreposição de destinos. Mais uma vez fui o seu menino. E ela, arteira como sempre, foi de uma só vez flor, fruto e semente. Intensa em sabor, em cor, em furor. Abriu os braços e o vento a levou. Porém, o melhor dela, aquela que foi Bela Adormecida e Cinderela, num conto de fadas contado de forma reinventada, ficou. Ela pegou os sapatos e saiu descalça, sem vestido nem calça. No entanto, suas asas de garça, continuam na minha graça. ...
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17/04/2016 - Louvadeiro

Louva-deus, louva-vida, louva-céu. Louva-verde, louva-chuva, louva-rio. Louva-amor, louva-fé, louva-som. Louva-cor, louva-véu, louva-nu. Louva-sol, louva-terra, louva-beijo, louva-seio. Louva-flor, louva-ave, louva-mar. Louva-trem, louva-vai, louva-vem. Louva-choro, louva-riso, louva-mato. Louva-pó, louva-vento, louva-trilha. Louva-mulher, louva-mãe, louva-filha. Louva-pé, louva-olho, louva-sonho. Louva-ar, louva-noite, louva-dia. Louva-eira, louva-beira, louva-feira. Louva-alma, louva-dó, louva-pedra. Louva-sim, louva-não, louva-vez. Louva-grão, louva-chão, louva-asas. Louva-cheiro, louva-luz, louvadeiro.


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16/04/2016 - Rio coração

O pescador desce o rio como se andasse dentro de sua própria casa. Sabe de cada curva, profundidade, correnteza. Porém, tem a consciência de que não é o dono daquele lugar. E esse respeito é o que garante sua vida. Enquanto ele não afrontar as regras do rio, regras íntimas, navegará em segurança por aquelas águas.

Ah, se fossemos como o pescador e respeitássemos o coração. Nós queremos nos apossar desse lugar que é regido por forças que não dominamos. Insistimos em domar o indomável, em tentar fazer o coração seguir o nosso ritmo, em ferir nos esquecendo da lei de ação e reação. Temos muito a aprender com o pescador. ...
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15/04/2016 - Escutei o mar

Quando encostei meu ouvido em seu peito escutei o mar. Ao contrário de batimentos cardíacos, o som do mar. Mar alto que quebrava em meus ouvidos em sustenidos ainda nem sonhados pelo compositor. E no seu beijo um gosto de sal, como saliva do mar. Não é à toa que sua cor preferida era azul. Azul ardósia. Azul cobalto. Azul marítimo. Azul de todo mar extravasando por suas palavras, por seus olhos, por seus poros. Ao vento seu corpo ondulava. Ao tempo seu corpo ia e vinha sem parar. Se derramava e puxava com a mesma intensidade. Sobre ela eu me sentia uma gaivota. Debaixo dela eu me via como um tubarão. Nunca descobri ao certo a sua profundidade, mas sua imensidão era coisa para lá de toda saudade que há. Se enfeitava de conchas e tinha amor por Iemanjá....
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14/04/2016 - Continuísmo

Caio, levanto, saio, canto, ralho, acerto, falho, veto, aprovo, atesto, comprovo, contesto, versejo, abraço, desejo, passo, amo, chovo, clamo, movo, voo, sonho, doo, proponho, salto, apavoro, falto, choro, toco, esperneio, invoco, serpenteio, arranho, rasgo, ganho, afago, relampejo, corro, trovejo, morro, reapareço, acarinho, recomeço, caminho, ligo, falo, religo, calo, lambo, quero, sambo, espero, durmo, apaixono, sumo, ovaciono, pinto, bordo, minto, acordo, agiganto, assusto, encanto, busco, caio, levanto, saio, canto... ...
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13/04/2016 - Mulher que poemo

Mostra as garras, ronrona e escala os telhados mais altos, faz miséria descalça ou de salto, é silêncio e contralto. Felina e menina num corpo que foi mais longe do que supunha o sopro do criador. Eva, da relva do paraíso à uma mulher com e sem juízo. Mulher que serpenteia e se se joga da teia para o vazio. Mulher que é mar, cachoeira e rio. Água em movimento, mulher, indomável tempo. Mulher de um sentimento inflamável, apaixonante e amável aos extremos. Mulher que poemo pelo reino do prazer, do platônico, do querer, do atômico. Mulher que se despe se vestindo, mulher que se veste nos despedindo. Contraria as escalas, redimensiona as metas, tudo diz quando nada fala, muda de trajetória nos caminhos do nosso coração sem dar seta. Mulher do sol e do abajur, que voa como um pintagol e se prende num ponto ajour. ...
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12/04/2016 - Do que não tive

Molhei as plantas. Dei banho nas crianças. Adiantei o almoço. Acendi uma vela aos pés da santa. Renovei as esperanças. Presentei o cachorro com um belo osso. Liguei a televisão, o rádio, o computador, o celular, o liquidificador, o ferro de passar, a máquina de lavar, o carro e parti. Com um beijo da boca que mais amo me despedi. Ganhei às ruas inventando novos velhos caminhos. Nem chorei, nem sorri. Por um momento, senti-me um trem sem trilhos. Porém, logo a gravidade me trouxe de volta. E o que é a realidade senão essa coisa que vem e não solta? O carrilhão de sonhos me provoca. E a saudade do que não tive me sufoca. ...
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11/04/2016 - Além do talvez

Era para ser só mais uma vez. Porém, o talvez cansa mais do que a falta de sim. E então, fomos não. Cada um do seu jeito, terminando antes ou depois da hora, mas terminando o que foi começado para não acabar. É como enterrar uma parte de si mesmo. Amputar o próprio coração. E quantos são os partos da saudade durante um mesmo dia que parece durar uma eternidade? Impossível de contar. Difícil de mensurar, de dimensionar ou de redimensionar a dor que existe em tudo isso. Uma dor crônica e interminável. Os doentes de amor não são pacientes terminais, pois a dor do amor não finda. O despetalar da flor da vida entre mal e bem me quer jamais chega ao fim. É ilusão pensar que hoje o amor está completo. Nós somos, por natureza, seres incompletos. Nascidos para buscar o que deixamos para trás em outras passagens. E nessas buscas vamos nos perdendo. Nos perdendo tentando nos achar. ...
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10/04/2016 - Mas nada de você

Na banca de revista, jornais, manchetes, gibis, chicletes, notícias, fotografias, mas nada de você. No quintal do florista, bromélias, azaleias, camélias, astromélias, mas nada de você. Sob as lonas do circo, equilibristas, malabaristas, artistas, palhaçadas, truques, gargalhadas, mas nada de você. Depois de pular sete ondas, banhistas, surfistas, escafandristas, estrelas do mar, transatlânticos, cânticos azuis, mas nada de você. Na livraria, romancistas, poesia, crônica, fantasia, sílabas tônicas, histórias de amor com final feliz ou não, mas nada de você. Pelos coqueirais, ciclistas, passistas, casais, namoros, sobra e falta de decoro, beijos e ensejos, mas nada de você. Pelos quatro cantos do meu quarto, lembranças benquistas, perfumes, ciúmes, ardumes, relevos e segredos, mas nada de você.


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