12/04/2016 - Do que não tive
Molhei as plantas. Dei banho nas crianças. Adiantei o almoço. Acendi uma vela aos pés da santa. Renovei as esperanças. Presentei o cachorro com um belo osso. Liguei a televisão, o rádio, o computador, o celular, o liquidificador, o ferro de passar, a máquina de lavar, o carro e parti. Com um beijo da boca que mais amo me despedi. Ganhei às ruas inventando novos velhos caminhos. Nem chorei, nem sorri. Por um momento, senti-me um trem sem trilhos. Porém, logo a gravidade me trouxe de volta. E o que é a realidade senão essa coisa que vem e não solta? O carrilhão de sonhos me provoca. E a saudade do que não tive me sufoca.
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