Daniel Campos

Prosas

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30/03/2016 - Sem condenação

Não há chance de condenação. Desfaça os julgamos. Descarte toda e qualquer acusação e amemo-nos no melhor do perdão. Não há porque querer prender, torturar, matar um amor que veio para juntar, ligar, unir e não para desvencilhar a coisa amada do ser amado. E que o direito apaixonado garanta dos direitos dos dois lados que, na verdade, são um só quando o assunto é uma saudade que chega a dar nó. Provas, só de amor. Trova por onde for a libertação e não a condenação do pecador. Mas atenção, pois contra ele somente há a denúncia de que pecou por amar além da conta.


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29/03/2016 - O que levo comigo

Vou juntar meus trens e tomar um rumo diferente desse vai não vem. Vou levar só o necessário, com a sabedoria do boticário que tem nas mãos somente os essenciais, os fundamentais, os elementais. Não ainda muito quando se é pouco, por natureza. Vou carregar comigo não o que me pertence, pois nada é meu, apenas o que é parte de mim, o que nada nem ninguém pode desvencilhar do que sou, do que me tornei ao longo dos últimos caminhos. Músicas, poesias, literaturas, romances, momentos, preces, energias, perfumes, sabores, tatos, temperos, amores, apaixonamentos, entregas, texturas, viagens de fora e de dentro é o que vão caminhar, voar, mergulhar comigo daqui por diante. É como se do pássaro, levasse o voo e o canto; Das flores, a cor e o perfume; Das bocas, os mistérios e as línguas; Dos corpos, os relevos e as temperaturas; Dos encontros, os prazeres e o crescimento que me possibilitaram. Portanto, para espanto geral, não vou colocar na estrada comigo nada de matéria, de carne, de palpável, porém, o encanto, o visceral, o incrível, o imaterial, o que está impregnado, para além de futuro, presente e passado, no meu transcendental. ...
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28/03/2016 - Trincheiras e fé

Fecha comigo que nada se abrirá. Cola em mim que nada se perderá. Fica comigo que nada passará. Passa comigo e deixa o mundo para lá. Se perca comigo porque nem sempre a gente foi feito para encontrar. Abra-se comigo e vamos passar o resto da vida entre Bagdá e Calcutá.


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27/03/2016 - Seria ótimo se não fosse

Eu acreditei que o ontem seria amanhã, mas o futuro chegou hoje com cara de passado e eu, como fruto ainda não madurado, fiquei peco na sua boca.

Eu quis ser onda, mas quebrei muito antes de chegar na arrebentação ficando perdido em alto mar sem saber o gosto de morrer como espuma de sal num banco de areia.

Eu plantei estrelas querendo colher noites iluminadas, mas me esqueci de que as sombras que uma mulher acendeu em mim jamais me permitiriam constelações.


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26/03/2016 - Para reflexão

Se, por acaso, deixar de ver, qual deseja ser sua última visão, aquela que ficará para sempre gravada com uma nitidez absurda no fundo de suas retinas?

Se, ao acaso, deixar de ouvir, que barulho, que voz, que música, quer que continue ecoando pelos seus ouvidos como o último som que ouviu?

Se, num caso, previsto ou não, deixar de falar, qual quer que seja a sua última frase, a quem vai destinar o seu derradeiro texto, a sua palavra final?

Se, num ocaso, perder os movimentos, qual estrada quer que seja a última para seus pés trilharem, qual corpo quer guardar para sempre em suas mãos? ...
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25/03/2016 - Silêncio e prece

Nesta sexta, o silêncio navega gigante pelo mar. Nem vento há. Nem brisa resta. As tempestades se dissolveram e dos olhos de sol só ficou uma fresta. Nesta sexta, besta de quem fala, de quem faz galhardia, de quem faz festejo. O dia de hoje é de prece, intimidade e cortejo. Hoje a alegria é respeitosa e a viola miúda e sestrosa. Nesta sexta, há uma imensa vontade de se aquietar, de se aninhar nos braços da quietude. Nesta sexta, ficar-me-ei mais calado do que já pude. E não calado de boca, de garganta, mas de coração. É dia de sossegar os pensamentos, de acalmar os sentimentos. Dia de controlar as emoções, de ponderar o sim e o não. Dia recluso. Sexta donde há a recomendação para não se cometer nenhum tipo de abuso. Dia inconcluso, que se repete ano a ano, para ver se aprendemos um dia a partir dos nossos enganos. Dia de silêncio e prece. O silêncio, como já diziam os sábios espíritos, o silêncio é uma prece. ...
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24/03/2016 - Coisa da roça

Os ninhos vazios, nada de ovo, a galinhada de quaresma. Época de semeadura, de aproveitar as águas de março. O vento sopra triste, balançando as folhas de outono num ar frio, anuviado de semana santa. O velho lavrador vai remexendo a terra como nas chagas de Cristo, tirando flor de espinho. A senhorinha de cabelos de algodão se apega com o terço ao tempo em que mexe panelas e bordados. A passarada vai diminuindo a cantoria em respeito à morte do filho do criador. Pelo brejo, os coelhos vão pulando, fugindo das bocas dos cachorros, esbaldando-se com as ramas verdinhas, mas nem sinal de ovos de chocolate por aquelas tocas. A água da mina brota mais fria, como se a terra todo estivesse mais uma vez doída por terem, há milênios, aberto sua carne e plantado uma cruz. O cheiro da vela, as cantigas das procissões e o roxeado das quaresmeiras vão tomando de conta do quadro da roça. O velho lavrador olha para o fundão do horizonte, perdendo seus olhares lá pros confins do roçado, pelo céu riscado de rabo de galo, sabendo, mais uma vez, que o tempo vai desabar sobre os homens.


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23/03/2016 - Preparado estará?

Não importa quando vai chegar, mas o fato de que chegará. E quando esse dia chegar, preparado estará? E quando esse dia bater na sua porta ela ainda se colocará fechada? De nada vale desejar, querer, pedir se não está pronto para receber. É preciso ter merecimento e preparo. De nada vale uma vontade sem o trabalho para possibilitar essa vontade. É como querer colher girassóis sem preparar a terra. E, meu irmão, há muito há preparar em teu íntimo. A lavoura interior necessita de cuidados diários, de um intenso labor e da paciência com o tempo das sementes. Semente alguma desperta porque queremos, exigimos, sentenciamos. Porém, somos nós que damos as condições para que uma semente se torne algo além de uma semente. Tudo é parte de um mecanismo preciso. Há de ter medida para tudo, exceto para o amor que é desmedido por natureza. Ama e ama sempre mais porque mesmo demais o amor ainda será pouco.


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22/03/2016 - Sonho é sonho

Sonhar é fundamental, porém é preciso ter muito cuidado com o sonho. O sonho existe para nos inspirar nas horas mais difíceis, motivar nossos passos e construções, alimentar nossas almas, pois nem só de pão vive o homem. Porém, temos, no egoísmo, na ganância, na falta de limites da nossa humanidade, a equivocada impressão de que devemos fazer de tudo para transformar um sonho em realidade. No entanto, um sonho deve ser apenas um sonho. Tentar, a qualquer custo, concretizar um sonho implica em uma série de riscos fazendo do sonho um pesadelo. Portanto, tenha consciência de que há amores, projetos, trabalhos que devem continuar existindo para sempre enquanto sonho, cumprindo esse papel em nossa trajetória de inspirar, motivar, alimentar nossas almas. Ao alterar a natureza do sonho, que foi feito para ser sonho, querendo que ele exista de outra forma e em outro meio, causamos distorções, deturpações, reconfigurações no DNA do que sonhamos, de modo que o que se vive a partir de então não é o que um dia se sonhou. E daí não adianta correr ou se arrepender, tampouco culpar o sonho, pois o sonho deixou de existir quando você o tirou da concepção de sonho, abstrato em sua concretude, para torná-lo concreto em sua mais completa abstração.


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21/03/2016 - Pela não omissão

Por mais que não acredite, o meu caminho é mais do que um convite. É missão. É sina. É sacerdócio. É um reencontro com minha casa, comigo mesmo, com o que eu pedi para mim. Não espero que aceite, mas que respeite a minha escolha de ser. Sou do outro, para o outro, pelo outro. O outro é o meu sentido. Por isso, a minha doação, a minha entrega, a minha divisão entre o céu e a terra. Eu não sofro, não sinto dores, não tenho sofrimento algum no que faço. O meu passo é para frente buscando o que eu um dia pelas mais diferentes razões, deixei incompleto. O meu trabalho é o que me leva adiante, o que me dá sentido, o que me renova, fortalece, redime. Nada me oprime senão a falta de poder fazer algo por quem tem dores, horrores, pavores maiores do que os meus. Trabalho, trabalho, trabalho para que não volte a chorar pelas oportunidades perdidas. Pior, muito pior, do que chorar por uma despedida, pela perda de uma vida, por uma esperança partida, é chorar pelo que teve condições de realizar e não realizou. Pior, muito pior, do que errar por agir é errar por omissão.


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