Ou exibir apenas títulos iniciados por:
A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todosOrdernar por: mais novos
Encontrados 3193 textos. Exibindo página 18 de 320.
30/05/2016 -
Vivo para saber
Eu não sei como você vai aparecer. Não sei como vai reagir. Não sei o que vai vestir, o que vai dizer. Se vai sorrir, se vai correr. Não sei como vai me receber. Não sei se virá para mim ou de mim. Não sei o que vai pensar, imaginar, sonhar quando me ver. Não sei com que cor vai me tingir, com que textura vai me tocar, se vai dizer que é hora de pousar ou de partir. Não sei como tudo vai se encaminhar. Não sei se o roteiro vai ser cumprido da forma como pensei, imaginei, sonhei. Não sei se vai me provocar ou nem vai se importar com a minha presença. Não sei qual vai ser a sua sentença. Não sei se vai se abrir ou se fechar, rugir ou silenciar, cair ou levitar. Não sei se vai ter coração ou solidão, se vai ter contentamento ou lamento, se vai me chamar ou me expulsar. Não sei se vai se entregar ou se despetalar se deixando levar pelo vento lacaio findando maio.
Seja o primeiro a comentar
29/05/2016 -
Como um velho
Como um velho faroleiro, condenado à solidão, sigo, noite após noite, iluminando a nau, que vai pelo mar escuro e tempestuoso, nau que não é mais minha, que talvez nunca foi minha, mas que eu sempre iluminei e guiei para seguir a salva.
Como um velho violeiro, com dedos calejados, ponteio, dia após dia, a minha viola caipira compondo a música onde te encontro, te vivo, te possuo, a música que nunca termino para não correr o risco de te perder, de nos silenciar.
Como um velho cavaleiro, que nunca teve medo de queda, cavalgo o mundo a fundo, sem me prender a nada nem a ninguém, com o único intuito de honrar quem jurei proteger, amar e cuidar com todo zelo mesmo que de longe. ...
continuar a ler
Comentários (3)
28/05/2016 -
E a primavera não chegou
Por noites e dias, preparei o jardim. O meu jardim particular, íntimo, secreto ou não. Sem parar, cuidei do terreno, em dias frios, quentes e amenos, esperando a primavera chegar. Mas tudo era verão, outono ou inverno. Protegi as sementes de nós dois do vento, dos corvos, dos ratos... Deixei de comer, de dormir, de viver para proteger as sementes do que eu pensei que seria uma estrada florida, perfumada, repleta de casais de mãos dadas, de crianças brincando pelas pétalas, de pássaros se deliciando naquela aquarela de cores. Vigiei as sementes do passado acreditando que quando a primavera chegasse elas nos trariam tudo o que queríamos dali para frente. Porém, a primavera não veio. Secaram meus jardins de dentro, deixando-me sem início e sem fim, no deserto do meio. Mesmo assim, não me desfiz das sementes. Continuei esperando pela primavera. Fui perdendo as forças físicas, mas não a fé de que ela chegaria. Porém, o corpo não aguentou e tombou. E uma ventania roubou as sementes de mim. E, enfim, quando o fim chegou eu, mesmo com tudo aparentemente perdido, acreditei. Fechei os olhos e vi a primavera com seus olhos verdes, carregando uma rosa azul, colorindo jardins de norte a sul. Era como se aquele perfume primaveril nunca tivesse me deixado. Resisti tanto tempo em vão para finalmente entender que a primavera não chegou porque, e simplesmente porque, nunca me deixou.
Seja o primeiro a comentar
27/05/2016 -
A nossa hortênsia floriu
A nossa hortênsia floriu. Floriu num azul que conheço bem. Para comemorar, fiz aquele doce de morango que tanto gosta. Depois de cantar para eu dormir e acordar, Chico Buarque já me disse que “Essa Pequena” já deixou de ser uma letra, para ser você. Mesmo sabendo que você não pode mais, ainda compro Sprite toda vez que vou ao mercado. E tudo é tão marcante que ainda vejo suas tatuagens tatuadas no lençol. Ainda vejo seu vulto brincado pelas paredes em noite de lua, e nas sem lua também. Ainda me pego comprando o que acho parecido com você para guardar para um dia, quem sabe, talvez... Uma espécie de enxoval. Vejo os seus desenhos, troquei de mal com o cinema, escrevo, leio e releio as nossas histórias. Tudo meio que se tornou uma memória em círculos, pois quanto mais caminho mais me encontro com você. Minha mala está sempre pronta para nossa viagem à praia a ponto de chegar a ver seu sorriso no mar. E já são tantas plantas que nossa casinha no campo praticamente se tornou realidade. Pego-me fazendo suas cruzadinhas, mas não consigo descobrir o real significado de tudo isso senão o amor. E saio escrevendo amor por todo canto. Pensei em criar uma gata e chamá-la de saudade, mas certamente ela iria embora de mim. Vou fundo no fundo do fundo, mas quando ouço sua voz eu volto ao mundo, mesmo sua voz já sendo só um eco, só um não. A nossa hortênsia floriu pela segunda vez e você não viu.
Seja o primeiro a comentar
26/05/2016 -
Nunca me deixei deixar você
Nunca deixei de te amar. Nunca deixei de te enamorar em meus pensamentos. Nunca deixei de te querer. Nunca deixei de tentar te proteger. Nunca deixei de te princesear. Nunca deixei de dizer que te amo, seja para fotos, lembranças ou para o vento. Nunca deixei de fazer suas comidinhas preferidas. Nunca deixei de pensar em nós. Nunca deixei de ter esperança que o futuro concretizaria nossos sonhos. Nunca deixei de acreditar em nós juntos. Nunca deixei de chorar a sua falta. Nunca deixei de viver e morrer de saudade. Nunca deixei de imaginar você. Nunca deixei minha vida apartada da sua. Nunca deixei de me perguntar o porquê da distância. Nunca deixei meu destino se desviar do seu. Nunca deixei de manter seu lugar ao meu lado intacto. Nunca deixei de ser o seu poeta. Nunca me deixei deixar você.
Seja o primeiro a comentar
25/05/2016 -
No escuro do quarto escuro
No escuro do quarto escuro eu encontro sua silhueta ora fazendo acrobacias ora querendo uma poesia. As paredes, pouco a pouco, vão soltando a sua voz que ficou impregnada para além dos nossos lençóis. E é tanta fantasia que eu sou marujo e você pirata, que eu sou astronauta e você estrela, que eu sou surfista e você tubarão. Eu sou presa e você, com toda realeza, a dona da caça. Onça pintada. Onça tatuada. Onça de garras e presas afiadas. Onça, onça, onça, ouça bem, vem e me devora. Pelo escuro do quarto escuro, se sou pássaro, é asa; se sou trem, é trilho; se sou poeta, é poesia. Poesia de noite, de tarde, de dia. Poesia que arde, que dá sangria. Poesia que come numa antropofagia. A criatura comendo o criador. É o grito de Van Gogh. É a loucura de Salvador Dali. É Caetano cantando nosso estranho amor. No escuro do quarto escuro me sinto seguro na sua boca, entre seus dentes e unhas, numa paixão ditada por suas mumunhas. Onça, onça, onça, ouça bem, vem e me devora sem demora pelo escuro do quarto escuro do tempo de um amor mais que puro.
Comentários (1)
24/05/2016 -
Milady
Milady, o seu cavaleiro continua a postos defendendo o seu reino e pronto para te servir. A sua carruagem está pronta. O seu exército está em fileiras. Eu ainda levo o seu brasão – rosa azul - tatuado em cada célula que me habita.
Milady, nosso amor real, sangue azul, é muralha que ninguém toma. E eu, sem armaduras, ofereço meu corpo, minha honra, minha bravura a sua coroa. Minha nobreza é a minha devoção as suas princesices.
Milady, que sentimento é esse que desafia as nossas linhagens, que ultrapassa as nossas dinastias, que coloca em risco o seu reinado. Duelo com a dor, em todas as suas formas e intensidades, mas não abandono a sua corte.
Comentários (2)
23/05/2016 -
Canta e suplanta
E quando tudo anoitecer, canta. E quando tudo se perder, canta. E quando tudo vier a sofrer, canta. Canta, canta, canta que o canto a dor encanta. Canta pra trazer a dor que te agiganta. Canta porque o canto te suplanta. Canta o que ecoa pelo seu ser. Canta extravasando, sangrando, libertando o que não pode mais guardar. Canta o seu pranto. Canta num berradeiro ou no silêncio de um mantra. Canta o que não dá mais para olvidar. Canta, canta, canta que a vida te cobre com uma manta. Canta aos pés, ao colo, ao olhos da santa.
Seja o primeiro a comentar
22/05/2016 -
Canto de libertação
Com o dia quase raiando, o galo subiu no poleiro, estufou o peito e silenciou. Ali não era o melhor lugar para ele anunciar o novo dia. Precisava de mais. Subiu então na carroça velha, que já dava de comer aos cupins, e se preparou, mas, novamente, engoliu o canto ao ver que a cerca. E subiu no mourão mais alto, chegou a abrir as asas, mas ainda não estava bom. Ele queria mais. E foi então que subiu no telhado da casa de seu dono. Já tinha certa idade e não tinha o mesmo vigor, seus passos eram lentos, mas seu canto ainda era belo. O tempo deu um tom ainda mais grave as suas notas. E ele sempre foi elogiado por sua afinação. E, com a teimosia de sempre, subiu no telhado vendo boa parte da fazenda aos seus pés. Bateu asas, esticou o pescoço e segurou o canto já no findar do bico vendo que o jatobazeiro era muito mais alto que o telhado da casa. A essa altura, o dia já clareava. E lá foi ele para o pé de jatobá, voando seu voo curto galho a galho. Perdeu muitas penas na subida, pois ora se debatia contra a árvore ora tentava se agarrar nela. Ficou sem fôlego, mas não se deu por vencido. Encontrou uma coruja que arregalou os olhos sem entender o que aquele galo fazia ali. Chegando ao ponto mais alto da árvore, ele contemplou o sol que já reinava. Nunca havia visto o sol tão de perto. E se galos não choram, aquele galo avermelhado, azulado, acaipirado chorou. Chorou diante da beleza do sol que chegava até seus olhos. Ficou hipnotizado. E preparou seu canto. Precisava ser seu canto mais bonito. O melhor de sua história. Concentrou-se. Deixou a música fluir por todo seu corpo. Peito estufado. Pescoço alongado. A curvatura perfeita. Bateu asas. Tremeu-se todo na iminência do cocoricar. Abriu o bico e... e... e... calou-se. Calou-se a perceber que as galinhas já estavam ciscando no terreiro, que o fazendeiro já ordenhava as vacas, que dona Maria já estendia roupas no varal, que os porcos já rolavam na lama, que a fazenda já havia amanhecido, acordado e acontecido sem o seu chamado. Sentiu-se desnecessário. Porém, estava feliz por estar ali e por estar liberto da obrigação de despertador que cumpriu por tantos e tantos anos. Ninguém havia dado por falta dele. E isso não era motivo para lamentação, mas sinal de que ele poderia partir. Estava livre. Foi preciso mudar seu ponto de vista, sair do óbvio, do lugar comum, para perceber que podia seguir em frente. E, ciente disso, de forma espontânea, cantou de um modo que nunca havia cantado. Um canto de libertação. De autolibertação. E já não importava para quem cantava, mas o que ele cantava a si mesmo. Ele segurou o último acorde para além dos limites e bateu asas. Voou um voo curto. Voou um voo último. Voou em direção ao sol. E por mais curto que seja o voo de um galo, durou, para ele, uma eternidade, antes de chegar ao chão num corpo condenado ao silêncio, mas numa alma que, para sempre, ecoaria ensolarada por aquela fazenda.
Seja o primeiro a comentar
21/05/2016 -
Louco para amar loucamente
Louco para beijar a boca da noite. Louco para uivar aos olhos cheios de lua. Louco para fazer uma última prova de amor, pois a última é sempre a melhor. Louco para continuar com meu romantismo de vanguarda, que a faz baixar a guarda. Louco para ir além do além do além do infinito. Louco para escrever nossa história na história. Louco para ser considerado louco, pois o amor comum, o amor padrão, o amor do óbvio não me interessa. Louco para colocar em prática minha pressa de amar, pois o amor é urgente, é imediato, é inadiável. Louco para compor poesias, canções e outras fantasias reais. Louco para deixar marcas impressionistas no acervo romancista da criatura amada. Louco para perder o chão, extrapolar o teto, derrubar as paredes e amar livremente. Louco para romper a casca e ver a luz do amor no desconhecido.
Seja o primeiro a comentar