Daniel Campos

Prosas

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19/10/2013 - Cem Vinícius

Não conheci Vinícius, que morreu um mês depois do meu nascimento, mas é como se eu o tivesse vivido durante todos esses anos. O poetinha é como uma espécie de sol, de lua, de estrela que se faz presente todos os dias da minha existência. Já li, já vivi, já bebi Vinícius de Moraes de tantas e quantas formas. Vinícius foi uma espécie de poeta da guarda, que sempre me aconselhou a ir por aqui ou por ali nos assuntos do coração.

Vinícius está na minha estante, no meu rádio, na minha memória. Samba da Benção, Pela Luz dos Olhos Teus e Eu Sei Que Vou Te Amar correm em minhas veias assim como Soneto da Fidelidade e A Brusca Poesia da Mulher Amada. Sou tão cheio de Vinícius, que ele chega a sair dos meus poros. A imagem do poeta, bem como suas palavras e ritmos, sempre me foram familiares. É como se Vinícius fosse minha casa. ...
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18/10/2013 - Oxossi me chamou

Meu pai Oxossi me chamou e eu estou aqui para o que der e vier, para chorar e sorrir. Eu estou nas árvores, com meu pai. Eu estou nas matas do meu pai. Eu estou nas águas que correm com meu pai. Eu estou sempre ali na companhia de meu pai. Sou arco e sou flecha nas mãos de meu pai. Sou pena, sou poema, sou cantilena, sou o que diz respeito ao meu pai e em nome dele exijo respeito e o que é meu por direito.

Meu pai Oxossi me chamou e eu ouvi, respondi e atendi seu chamado. Eu estou na magia encantada de meu pai. Eu vou nas forças de meu pai. Eu vôo com os pássaros de meu pai. Eu galopo com os cavaleiros de meu pai. Eu sou verde por dentro como meu pai. Sou o passo, sou o laço, sou o traço de meu pai. Estou na luz, estou no raio, estou no campo que é a casa de meu pai. Sou de Oxossi e estou a serviço de meu pai.


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17/10/2013 - Ouça bem

Ouça a lua em cada uma de suas fases. Ouça as estrelas em cada uma de suas pontas. Ouça as pedras em cada uma de suas lapidações. Ouça os insetos em cada uma de suas profecias. Ouça os pássaros em cada um de seus vôos. Ouça as mulheres em cada um de seus sapatos. Ouça as criaturas extintas em cada uma de suas lembranças. Ouça as bruxas em cada um de seus feitiços.

Ouça a água em cada uma de suas corredeiras. Ouça a terra em cada um de seus tremores. Ouça os antepassados em cada um de seus passados. Ouça as noivas em cada uma de suas caudas. Ouça os travesseiros em cada uma de suas confissões. Ouça os espelhos em cada um de seus reflexos. Ouça as rodas em cada uma de suas voltas. Ouça o silêncio em cada uma de suas infinitas faixas. ...
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16/10/2013 - Suadouro

E, de repente, o sol é uma imensa pedra de gelo boiando num céu de uísque. O chão é cremoso feito sorvete bem batido. O ar da manhã chega com aroma de chá gelado. E a mulher que desafia a estação passa espalhando frescor. As árvores serenam como se fossem imensas duchas. Há uma piscina em cada esquina. Os arranha-céus dão lugar a icebergs. E o governo distribui cachoeiras particulares.

O mar chegou a todas as cidades, refrescando as ideias mais quentes. Junto com os desejos de bom-dia, boa-tarde e boa-noite surgem copos e jarras de suco. Já as crianças preferem tomar banho de refrigerante geladinho. E, diante do suadouro, deus criou o ar-condicionado. Ventos do sul e do norte dançam como pás de ventiladores. E da boca da mulher amada, um hálito frio que chega a causar arrepios.


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15/10/2013 - Saudade Calopsita

Ela se foi sem dizer. Não ouvi seus gritos de dor ou de perdão. Ninguém sabe o horário exato que ela arrumou as malas e partiu. Será que foi loucura? Será que foi tontura? Por que foi que ela caiu? Ela se foi sem ir. Caída no chão do quarto, encolhida e sem vida, vestida para casar. Não conseguiu ser mãe ou amante, foi só mulher de dois casamentos. Sem sorte no amor, Paola, um marido morto, um marido ao vento.

Ela se foi sem querer. E já há alguém cantando sua falta num canto lírico. E já há alguém investigando sua partida repentina. E já há alguém a comparando com um lírio – lindo e breve. Ainda não descobriram quais foram suas últimas palavras. O viúvo endoidou... Será que finge tanto amor? Ela é lembrada de tantos jeitos e formas. E por todos os lados palpita uma saudade calopsita – doce e selvagem ao mesmo tempo.


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14/10/2013 - Último pedido

Quando eu morrer, que me cremem. Sou claustrofóbico demais para passar anos dentro de um caixão enterrado a sete palmos. Além disso, não gosto de cemitérios. É muito silêncio, muito choro, muita dor. Nunca sonhei em ter uma cova, uma lápide, um jazigo. Não sou planta de batata que precisa ser enterrada para brotar. Sou de ser semeado sobre a terra mesmo. Já viu alguém enterrando um poema, ainda mais um poema verde?

Ah, e que minhas cinzas sejam jogadas em alguma mata. Nada de guardarem a minha versão pó em uma urna. Quero ser lançado sobre algo verde, e com a devida urgência. Pode ser em um bosque, em um jardim, em um quintal... sob a sombra de um pé de mangueira ou jabuticabeira, minhas árvores e frutas favoritas. Porém, nada contra abacateiros, pitangueiras, goiabeiras, limoeiros... plantações de girassol, algodão, alfazema... ...
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13/10/2013 - Olhação

Olhos azuis, olhos de luz, olhos sem capuz, olhos pregados na cruz, olhos de jesus. Olhos pretos, olhos sem defeito, olhos eleitos, olhos de leito, olhos direitos, olhos estreitos. Olhos verdes, olhos de redes, olhos sem paredes, olhos com sede. Olhos castanhos, olhos de estanhos, olhos estranhos, olhos sobrehumanos, olhos de enganos...

Olhos de mel, olhos de docel, olhos de papel, olhos de fel, olhos de rapunzel. Olhos cinzas, olhos de ninjas. Olhos amarelos, olhos de rastelos, olhos de farelos, olhos de caramelos. Olhos marrons, olhos de semitons, olhos de neons, olhos de sons. Olhos vermelhos, olhos de apelos, olhos de espelhos. Olhos mistos, olhos quistos, olhos bonitos, olhos infinitos...


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12/10/2013 - Criança ça

Criança dança com balançado. Criança cansa quem está ao lado. Criança avança entre o certo e o errado. Criança enche a pança, fica de bucho virado. Criança trança cabelo, faz na boneca seu penteado. Criança lança choro e sorriso num humor delicado. Criança é a esperança de um coração mais bagunçado.

Criança é criança quando esperneia, quando faz birra, quando fala do bicho-papão. Criança é criança quando faz beicinho, pede colo, dá carinho sem ninguém pedir. Criança é criança quando descomplica o complicado. Criança é criança quando troca almoço e jantar por brincadeira. ...
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11/10/2013 - Mande mensagens

Mande mensagens pelo vento norte ou pelos cataventos do sul. Mande mensagens dentro de garrafas de vinho, de cachaça, de rum... elas vão chegar sempre sóbrias. Mande mensagens pelos pássaros da estação que sempre voltam para o mesmo ninho. Mande mensagens pelos loucos que sempre falam a verdade de um jeito que não machuca. Mande mensagens pelo tempo que é o mensageiro que nunca tarda ou falha.

Mande mensagens pelas estrelas que falam piscando numa espécie de código-morse. Mande mensagens pelos camundongos que chegam aos lugares mais inacessíveis. Mande mensagens pelos sinais que hora ou outra surgem de forma improvável e não menos impactante. Mande mensagens pelos sonhos que são decifrados aos poucos. Mande mensagem pelos poetas que são mentirosos e fantasiosos como os profetas.


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10/10/2013 - Cuidados

Cuida da lua para que ela não caia do céu ou não se apague. Cuida do mar para que ele não dessalgue. Cuida do tempo para que ele não se adiante ou se atrase por demais. Cuida do sonho para que ele não ultrapasse o prazo de validade. Cuida das asas para que elas não se transformem em raízes. Cuida da boca para que ela não fique sem beijos. Cuida do caminho para que ele não se divorcie de seus passos.

Cuida das mãos para que elas saibam dizer olá e adeus com a mesma desenvoltura. Cuida do passado sem que ele ocupe o lugar do futuro. Cuida do destino independentemente se vai cumpri-lo ou alterá-lo. Cuida dos meios, dos terços, dos quartos, dos quintos como se cuidasse do inteiro. Cuida dos anjos para que eles continuem acreditando que acredita neles. Cuida do recomeço e faça dele seu endereço fixo.


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