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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 112 de 320.
09/10/2013 -
Pássaro de fogo
Um dia o pássaro de fogo se acabará em cinzas. Um dia o pássaro de fogo, que tanto iluminou céu e terra, se apagará. Um dia o pássaro de fogo, soberano das queimadas, se queimará. Um dia o pássaro de fogo, que tantos gritos causou, morrerá de gritar. Um dia o pássaro de fogo cairá como um balão de São João. Um dia o pássaro de fogo procurará suas asas e só achará fuligem. Um dia o pássaro de fogo se molhará numa tempestade, numa enchente, num pranto. Um dia o pássaro de fogo não resistirá. Um dia o pássaro de fogo invocará seus deuses e descobrirá que eles estão todos mortos. Um dia o pássaro de fogo cansará de guardar a chama do destino. Um dia o pássaro de fogo sucumbirá como uma estrela cadente. Um dia o pássaro de fogo deixará de explodir como um sol alado. Um dia o pássaro de fogo derreterá como vela na mão do pecador. Um dia o pássaro de fogo despencará como um feitiço quebrado. Um dia o pássaro de fogo deixará de fingir que não chora labaredas. Um dia o pássaro de fogo será riscado na brevidade de um palito de fósforo. Um dia o pássaro de fogo só existirá nos livros. Um dia o pássaro de fogo deixará de assombrar e encantar. Um dia o pássaro de fogo amará e nesse dia matará seu amor. E nesse dia o pássaro de fogo implorará ao vento para que deixe de soprar o braseiro que é seu coração.
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08/10/2013 -
Pé de saudade
Meu vô, a chuva chegou... Já é tempo... Vamos, vamos plantar. Vamos preparar a terra. Arar, gradear, roçar, carpinar, adubar... Vamos, como pés de vento, sair semeando por ai. Vamos marcar a terra vermelha com nossos passos. Passos riscados, bailados, passados entre as ruas da lavoura que ainda não nasceu.
Meu vô, minhas mãos estão prontas... Vamos, vamos semear a pé ou a trator... Vamos semear milho, algodão, painço, arroz, feijão, abóbora... Vamos, vamos dar de comer à terra... De semente em semente, de muda em muda... Vamos plantar café, laranja, limão, manga, abacate... A chuva chegou, vamos plantar quantos pés de saudade?
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07/10/2013 -
Sapateia
Sapateia, oi, sapateia, sapateia que o céu clareia. Sapateia, sapateia, êêê sapateia, que a vida incendeia. Sapateia aqui, sapateia lá, sapateia ali e acolá. Sapateia, sapateia descalça, de sapato e de meia. Sapateia seu sapateado na veia. Sapateia no asfalto, no mato, de salto, por amor e na areia se for para chamar a sereia.
Sapateia, ai, sapateia, sapateia da minguante à lua cheia. Sapateia, sapateia, ôôô, sapateia firme, mas sem arrebentar a teia. Sapateia, sapateia, ah sapateia beleza espantando a cara feia. Sapateia, sapateia cada nota, sapateia dando volta, sapateia na cama, no telhado e na porta. Sapateia, sapateia e serpenteia.
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06/10/2013 -
Vá em frente
Vá em frente, como rolha de champanhe. Vá em frente, como pedra na mão de menino. Vá em frente, como flecha saída do arco. Vá em frente, como um passo adiante outro passo. Vá em frente, como avião de papel. Vá em frente como papagaio em dia de vento. Vá em frente, como semente dentro do pássaro. Vá em frente, como barquinho na enxurrada.
Vá em frente, como cruz de procissão. Vá em frente, como olho de curioso. Vá em frente, como moleque de recado. Vá em frente, como homem bala. Vá em frente, como bala perdida. Vá em frente, como serpentina no salão. Vá em frente, como língua de sogra. Vá em frente, como bucha de canhão. Vá em frente, como estrela guia. Vá em frente, como isca.
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05/10/2013 -
Quando chove
Quando chove, sementes de semeaduras passadas ainda brotam em mim. Quando chove, os pássaros trocam o silêncio por uma algazarra que ecoa por toda minha extensão. Quando chove, as braquiárias verdejam para alimentar arrobas e mais arrobas de sonhos que vivem em minhas invernadas. Quando chove, a cigarra que vibra dentro de meu coração se alvoroça ainda mais. Quando chove, abro os braços para a chuva, tiro a roupa na chuva, abro a boca em busca de chuva.
Quando chove, abro todas as minhas janelas para que a chuva alcance cada cantinho meu. Quando chove, ganho cor e sentido renovado. Quando chove, sinto os deuses mais perto de mim. Quando chove, sinto uma vontade incontrolável de bater um bolo de fubá com erva-doce de coar café. Quando chove, o vento me enche de perfumes. Quando chove, não há quem me faça fugir da chuva. Quando chove, o meu eu feito de barro se remodela, pois viro lama.
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04/10/2013 -
Florida
Ela passou por jardins, por canteiros, por parques e se vestiu de flores. De flores amarelas, verdes, vermelhas. Ela esverdejou e floriu, como florem as mulheres primaveris, de tempos em tempos, em diferentes sentimentos. De uma saia negra, um universo sem estrelas, brotou ramos e pétalas num blazer furta-cor. Ela saiu espalhando pólens, como um beija-flor que trocou bicos por lábios.
Ela passou com os olhos em botão, com asas abertas como rosa que quer voar. Ela passou falando a língua das flores, sendo entendida e sentida pelo mundo dos ramos. Ela passou, voou, mergulhou pelas ruas espalhando e se deixando, como que se entregando sem querer, em perfumes e cores. Ela passou despertando ciúmes, causando invejas, numa floração que chegou ao cume da paixão.
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03/10/2013 -
Índio
Tem um índio dentro de mim. Um índio que quer vida. Um índio alto, gigante, que escapa pelos meus poros. Um índio que fala todas as línguas. Um índio que se entende com as estrelas. Um índio que ama o que é do mato. Um índio que fala forte. Um índio que pulsa em mim. Um índio contemplativo e guerreiro. Um índio que chora pelos pássaros caídos, pelas árvores tombadas, pelas terras queimadas. Um índio que reina num reino sem dono.
Tem um índio que festeja e guerreia em mim. Um índio que toma de conta de tudo o que sou, o que sonho, o que faço. Um índio pintado com cores e desenhos trazidos dos céus. Um índio de rituais ancestrais. Um índio que conhece cada uma das minhas trilhas. Um índio que é da lua, do rio, da mata. Um índio com asas espalhadas pela pele vermelha. Um índio que anda descalço pelo meu território em respeito ao sagrado que existe em meu mundo particular.
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02/10/2013 -
Direcionamentos
Ande um pouco mais por essa corda bamba da realidade. Vá um pouco além da mesmice. Capricha no chorinho da ilusão. Insista em avançar por terrenos desconhecidos e, quiçá, proibidos. Continue em busca do sonho. Não se esqueça de superar a si próprio. Mais uma pitada de fantasia, por favor. Uma dose extra de ineditismo não vai fazer mal. Que tal viver uma overdose de sim no mundo do não?
Viva e morra positivamente. Engula os lamentos. Livre-se das lembranças ruins. Se está cansado de caminhar, começa a voar. Tire o que lhe faz triste como quem tira uma roupa. Troque de hábitos sempre que for necessário. Não troque o seu destino. Traga o tempo para o seu lado, pois de nada adianta ter passado, ou presente ou futuro como inimigo. E jamais passe a sua vez de viver, de ser, de acontecer...
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01/10/2013 -
Lua amarela
Depois de se banhar por longas horas em chuvas estelares, a lua apareceu amarela no sétimo céu. Um amarelo construído e distribuído em vários tons e semitons, mas visto, por cada ser, em uma coloração única. Um amarelo misterioso que astrônomos não sabiam explicar. Um amarelo bebê, responsável por espalhar suavidade pelas sombras do universo. Um amarelo quindim, doce e irresistível, motivando devorações particulares e coletivas. Um amarelo mel, que transformava olhos em abelhas que voavam alto tentando se apoderar daquele favo celeste. Um amarelo carambola, de uma geometria com várias faces e facetas. Um amarelo princesa, capaz de envolver o mundo em um conto de fadas moderno e sedutor. Um amarelo natural, artificial e sobrenatural ao mesmo instante. ...
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30/09/2013 -
Outro tempo
Eu queria ter chorado no Olympia com Edith Piaf. Eu queria ter bebido um uísque, ao menos um uísque, com Vinícius de Moraes. Eu queria ter aplaudido Paulo Autran, olhos nos olhos, de pé. Eu queria ter conversado, numa prosa onde mais escutaria do que falaria, com Tia Neiva. Eu queria ter aprendido as pedras do caminho com Carlos Drummond. Eu queria ter caminhado no Jardim Botânico e depois pelas teclas do piano ao lado de Tom Jobim. Eu queria ter subido o morro de Mangueira pelas mãos de Cartola e Cavaquinho. Eu queria ter pegado o trem das onze com Adoniran. Eu queria ter marchado impulsionado por Chico e Caetano. Eu queria ter tomado um café com Fernando Pessoa. ...
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