Daniel Campos

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Encontrados 207 textos. Exibindo página 3 de 21.

31/08/2016 - De amor, não minto!

E quando tudo silencia, quando tudo se cala, a certeza de que nada é por caso principia, e o coração fala: que bom, que bom que está aqui ao meu alcance. Dance. Dance e trance cada vez mais o seu destino ao meu. Escreva e se atreva a ter um final feliz comigo em seu romance. Dance, dance, dance e alcance a cobertura do arranha-céu de onde eu acompanho todos os seus passos, pendurado com minhas asas de anjo esperando pelos teus abraços, de modo a voar ao léu nos seus braços. Dance, dance e jamais se canse do que sinto. De amor, não minto!


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20/06/2010 - De arrepiar

Meu avô foi saci, meu bisavô curupira, meu tataravô boitatá. Sou filho de boto com mãe d’água. Tive uma avó que era pisadeira e a outra, mãe d’ouro, filha de uma mula sem cabeça com um negrinho do pastoreiro. Isso sem falar que sou afilhado de um lobisomem e compadre de bicho-papão. E quem duvida de mim pode ir lá pra casa em noite de lua cheia. Só não vale levar ferradura, réstia de alho e galho de arruda. Tem que ir de peito aberto, certo de que tudo o que falei não passa de lenda, ou como costumam chamar, de folclore. ...
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11/12/2011 - De caçar leão

Está vendo aquele cachorro? É de caçar leão. Valente como só. Olha os dentes dele. Furam qualquer tipo de couro. Patas grandes e fortes pra agüentar o tranco. Costas largas. Pernas esguias que correm como flecha lançada. E o latido então? O leão treme de medo só de escutar o barulho que esse cachorro faz. Olha o pelo dele, brilha igual um sol de verão, meio amarelo meio vermelho. Saúde? Isso é o que não falta. O pai dele morreu com mais de cinqüenta anos. E olha que só morreu porque foi morto à bala. Foi preciso dois tambores de revólver para derrubar o bicho. Era parceiro de um caçador de marfim lá da África. Pegava embalo e pulava nas costas do elefante. Derrubava o grandão em menos de dois minutos. Não tinha medo de nada. ...
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15/01/2015 - De cada um

Seus pés reconhecem as pedras do caminho, sabem dentre tantos pedregulhos quais são seus quais dos seus vizinhos. Portanto, não faça uma jornada que não é sua. Tome para si exatamente o que é de si. O sorriso na cara do outro pode ser lágrima na sua. O destino é peça feita sob exata medida, numa exclusividade tal que não serve para mais de uma pessoa, com exceção das almas gêmeas, mas isso já é outro debate. O importante agora é que se conscientize de que a mesma estrada que pode levar fulano, ciclano ou beltrano ao paraíso pode lhe arrastar para o inferno. Não deseja a vida alheia, pois seus ombros não podem aguentar o peso sob a qual ela foi construída. Havemos de pagar pelas nossas dívidas sem nos ater às pendências e cobranças alheias. Temos de fazer o nosso e só. Não importa se as casas ao redor são maiores ou melhores, precisamos apenas cuidar para que a nossa casa esteja firme, pois o tempo pode parecer o mesmo, mas tem intensidades diferentes para cada um.


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16/02/2016 - De colherada, dona Geralda

Dona Geralda se esbalda num tacho de goiabada. Vai metendo a colher, raspando fundo no fundo do caldeirão. Dona Geralda enche a boca e se saciada diz que não. O que ela quer? O que ela quer é ser mulher de tacho, se afogar no doce, chorar quem não a trouxe carinho sem dar esculacho pelo caminho. Dona Geralda enche a colher e se faz mulher de calda que vai açucarando e atiçando o olhar. Dona Geralda sabe comer e rebolar. Quebra Dona Geralda e dá queda na meninada que não acompanha a sua colherada. Dona Geralda sobe no pé de goiaba e bota lenha num fogo que nunca acaba. Mexe para lá, mexe para cá, olha a goiabada debaixo da saia, na taia do tacho de Dona Geralda, por favor, é para comer de se lamber, comam com amor e lambam a colher do jeito que for.


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05/06/2014 - De colo

A mulher amada, independentemente do tamanho físico e temporal, é sempre uma criatura de colo. Não é preciso que ela peça para que num de repente você a coloque os braços e a nine. Há de se saber acalentar e aninhar a mulher amada promovendo um balanço que esteja em plena sintonia entre os dois corações. E quando no colo, por favor, coloque todas as palavras – das doces às fortificantes – diretamente na boca dessa mulher que deve ser alimentada numa dieta à base de romantismo. Tenha plena consciência da fragilidade dessa mulher que, como criança de colo, precisa de todo o cuidado e jeito. Carícias e outras demonstrações explícitas de afeto estão liberadas. Doe-se da forma mais apaixonada que conseguir. E muita atenção para não se inebriar com o perfume dessa mulher a ponto de lhe faltar os sentidos. Entre no mundo da mulher amada de forma inteira e precisa, mas jamais se descuide de quem leva em seu colo a ponto de perder o equilíbrio ou dar um mal-passo. A mulher amada, principalmente quando em seu colo, exige tudo de você. Por isso que eu digo que não existe nada além da mulher amada necessitando vivê-la de maneira plena. Carregue a mulher amada como se embalasse o próprio destino. Pois a mulher amada é o destino inicial, medianeiro e final de quem opta por viver de amor.


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01/07/2014 - De dentro

Há de se abrir mão de tudo e ficar mudo consigo mesmo para escutar o que lhe habita. Deixar de lado toda a carga pesada acumulada pela estrada que acabou de uma forma ou de outra tirando a leveza, a nobreza e a delicadeza que fazem parte da sua natureza. Ingenuidade e inocência vão ganhando novos contornos com a idade. Todo lobo uiva para uma lua tendo ela como sua. E a saudade, por mais que se refira a fatos passados, é a anfitriã do amanhã. Escuta o que lhe povoa e não deixa o coração à toa, pois ele voa, ele voa, voa... ...
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28/07/2010 - De detalhe em detalhe, a mulher amada

A mulher amada é repleta de detalhes. Ouso dizer que é feita de detalhe em detalhe. É o conjunto de detalhes que se dispõe ao longo das curvas femininas que suaviza sua alma, que é concreta e rígida. Seja em suas flores delgadas ou em seus rococós, a mulher amada é minuciosa e densa como toda obra à procura da perfeição. Desbancando todos os argumentos, a mulher amada é de uma beleza irreal, daquelas que só se encontram nos planos mais elevados da imaginação.

E quem está de fora, observa cada detalhe da mulher amada como objeto de contemplação ou na tentativa de descobrir o fio da meada que revele o segredo que se esconde entre o corpo, a mente e a alma desta criatura. Seus olhos são vitrais, seus lábios molhados e secos no glamour dos afrescos. Cada detalhe é uma pista ou uma forma da mulher despistar aqueles que querem desvendá-la. Por isso, a mulher se escantilha em belas artes e se divide em muitas partes, num amor aos pedaços. ...
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17/07/2008 - De Drummond a Guimarães

Molha os teus lábios nos meus e deixa-me beber da tua poesia que vai da estação de Drummond a Guimarães num beijo de língua. Leva meu corpo nesse trenzinho mineiro que vai subindo montes e montanhas de teu corpo rumo ao céu alaranjado dos teus olhos morenos. Deixa-me escrever enquanto lhe respiro e lhe admiro e miro a felicidade sobre-humana que nos espera. Um poema, um conto, uma crônica não são suficientes para compor as vidas desta mulher. São necessários livros e mais livros para eu colocar no papel a tua carne e o teu espírito. Por isso escrevo e escrevo-te demais. ...
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15/02/2013 - De em de

De guerra em guerra, o mundo fica em paz. De seca em seca, a semente se guarda pra chuva. De casamento em casamento, faz-se a viúva. De tapa em tapa, o amor se refaz. De sufoco em sufoco, o alívio chega. De rotina em rotina, nasce um tempo louco. De palavra em palavra, ele a beija. De adeus em adeus, há o recomeço de tudo. De fantasia em fantasia, cresce um mundo paralelo. De espelho em espelho, o reflexo fica mais belo. De espada em espada, procura-se um escudo.

De cão em cão, acha-se um gato. De queijo em queijo, faz-se o rato. De vento em vento, trocam-se as estações. De sonho em sonho, encomenda-se um pesadelo. De rua em rua, um atropelo. De novelo em novelo, a velha tece uma cidade. De canções em canções, inverte-se a realidade. De reza em reza, um apelo. De distância em distância, um entrevero de saudade. De centavo em centavo, dá-se uma fortuna. De paixão em paixão, forja-se o sentimento escravo.


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