Ou exibir apenas títulos iniciados por:
A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todosOrdernar por: mais novos
Encontrados 372 textos. Exibindo página 17 de 38.
16/01/2013 -
A chuva de Nanã
De manhã à noite, por todos os lados há a chuva de Nanã. Chuva forte e intensa, como a personalidade de Nanã. Chuva tão antiga quão Nanã. Chuva que deixa o céu arroxeado como as vestes de Nanã. Chuva que alivia a alma e pesa o corpo. Chuva que nos curva para reverenciar aos céus, por gratidão ou temor a Nanã. Chuva que transforma toda a terra em lama, a lama da criação de Nanã. Homens e mulheres se lambuzam na chuva e na lama de Nanã, recriando-se em formas e conteúdos. Salubá Nanã!
A chuva de Nanã nos constrói e, descontrói e reconstrói. Na chuva de Nanã há mais sorte do que nas sementes da romã. A chuva de Nanã traz mensagens subliminares, perfumando os ares nos tons e essências da alfazema. A chuva de Nanã nos redimensiona ao mesmo tempo em que nos faz colocar os pés no chão, dando a cada um o seu exato tamanho. A chuva de Nanã encharca o coração, que transborda em sentimentos. A chuva de Nanã cala fundo no espírito, revolvendo tudo o que há de público e de confidencial em nós.
Seja o primeiro a comentar
26/12/2012 -
A minha estrada
A minha estrada está marcada com símbolos que desconheço. A minha estrada está professada nas cartas da cigana. A minha estrada está traçada no rastro dos cometas. A minha estrada está entrelaçada nos beijos dos poetas. A minha estrada está tomada por paisagens ainda não decifradas. A minha estrada está ponteada como viola. A minha estrada está tombada aos pés da santa.
A minha estrada está dobrada feito origami. A minha estrada está alongada de acordo com a minha imaginação. A minha estrada está cantada em preto e branco. A minha estada está curvada aos desejos sobre-humanos. A minha estrada está avermelhada de uma lua que não se vê por aqui. A minha estrada está cortejada por pássaros do estibordo. A minha estrada está forjada nas asas de um serafim. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
16/12/2012 -
Até o fim do mundo
Quantos beijos até o fim do mundo? Quantos pecados novos ou redimidos até o fim do mundo? Quantas promessas pagas até o fim do mundo? Quantas garrafas de vinho até o fim do mundo? Quantos pais-nossos até o fim do mundo? Quantas horas de sono até o fim do mundo? Quantos pedidos de desculpa até o fim do mundo? Quantas loucuras até o fim do mundo? Quantos calotes até o fim do mundo? Quantas viagens impossíveis até o fim do mundo?
Quantas noites de pôquer até o fim do mundo? Quantas compras até o fim do mundo? Quantas mortes antecipadas até o fim do mundo? Quantas velas acesas até o fim do mundo? Quanto choro derramado até o fim do mundo? Quantos nós desfeitos até o fim do mundo? Quantos pedidos de casamento e de separação até o fim do mundo? Quantos absurdos até o fim do mundo? Quanta saudade do futuro até o fim do mundo? Quantos sonhos reais até o fim do mundo? ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
15/12/2012 -
A descoberta do pepsamar
Em um mundo vitimado por tantas extravagâncias relacionadas aos comes e bebes um comprimidinho mastigável chamado pepsamar ganha contornos de tábua de salvação. Pode ser comprado com a mesma facilidade de um sanduíche, de um milkshake, de um chocolate. Além de barato, figura nas prateleiras de qualquer farmácia, sendo adquirido sem receita médica. Eficaz e de fácil acesso, uma combinação perfeita para ser utilizada como uma arma secreta.
A sensação do hidróxido de alumínio, o princípio ativo do pepsamar, agindo em nosso estômago no combate a acidez é a mesma da brisa soprando uma vela pelo mar afora em dia de sol azul. Sua ingestão traz momentos de paz e suavidade em um local marcado pelos horrores da azia, da gastrite, das úlceras. É tanta pressa para viver os efeitos do pepsamar que é difícil conseguir que ele dissolva inteiramente na boca antes de cair na tentação de mastigá-lo. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
10/12/2012 -
Adoçando a vida
Por mais especial que ela seja, a vida tem momentos que amargam da boca à alma. Para se livrar desse amargor nada melhor do que buscar um pouco de doçura nos prazeres que o mundo nos oferece. Quem não quer provar de uma existência mais doce a cada dia? E não se culpe por interferir no sabor do destino. Afinal, somos amantes, por natureza, de vários tipos de açúcar e de adoçantes.
Abuse de saches de sonhos açucarados. Desejos que tragam impacto de doçura. Pitadas de esperança refinada. Expectativas que retardem a percepção da acidez. Beijos de notas quentes. Pensamentos de sacarose. Uma colherada de promessas em cristal, que demoram a dissolver, é ideal para intensificar aquele quê de docinho. Não se deixe enganar pela felicidade de aspartame, que vem e vai de repente. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
02/12/2012 -
A chuva de Zeus
Por Zeus, pai dos deuses e dos mortais, que a chuva venha na medida certa das nossas necessidades. Zeus, ceifeiro das nuvens. Soberano dos céus. Senhor que lança os pingos d’água com sua mão direita sobre nós. O mesmo Zeus que alivia as noites quentes com uma fina garoa comanda tempestades. Manipula raios e trovões de acordo com o merecimento dos homens. O governante supremo, que zela pela harmonia entre todas as coisas, manda a chuva que madura o fruto e aquela que tomba a árvore. A chuva tem a alma de Zeus. É como ele chega até nós. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
01/12/2012 -
Acelerando...
Ao acelerar fundo eu abro a porta para outras dimensões. É como se eu deixasse todos os problemas para trás. Entro em transe. Sou só eu e o futuro que a estrada me reserva. Eu acelerando o destino. Tudo chega de modo mais rápido. Tudo acontece de forma mais intensa. Eu quebro recordes particulares. Estou ao mesmo tempo em muitos lugares. Pelo retrovisor, as dores vão ficando cada vez menores. Sou tomado por uma sensação de bem-estar. Adrenalina e tranqüilidade caminham juntas em mim.
Rompo barreiras, ignoro fronteiras. Cruzo asfalto, lama, brita, areia e poeira. O que era amanhã se torna ontem num piscar de olhos. O velocímetro me leva a uma sensação de infinito. O foco embaça, a nitidez ganha riscos, e tudo se mistura e fica mais bonito. Correndo, a relação tempo x espaço fica menos restrita. Ouço vozes que vão de sussurros a cânticos. Com o pedal do acelerador lá embaixo é que eu encontro o que há de divino em tudo isso. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
28/11/2012 -
A vida tem que ser assim
A vida é bruta para quem sonha e por seus sonhos vai à luta. A vida é uma loucura para quem ama e completamente maluca para quem tenta manter acesa a chama. A vida é um risco, que o diga o pássaro arisco. A vida é aventura para os que buscam um remédio para o tédio. A vida passa num corisco, numa volta da agulha riscando o disco. Aliás, a vida tem que ser mais, mais, mais do que isto, mais do que o já visto. Moço, a vida tem que ser o que há entre o roxo e o lilás. Moça, a vida tem que ir além de um tanto faz. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
26/11/2012 -
A chuva vem...
Lá vem a chuva, lá vem a chuva, lá vem a chuva, a chuva vem e...
O bêbado enche o copo e toma uma dose de chuva. A moça pensa que o céu é um imenso chuveiro e sai cantando pela rua. O lavrador, de tanta felicidade, dança no ritmo da chuva. Enquanto tem gente correndo, há gente se entregando à chuva. O cachorro se chacoalha tirando de si todo o peso do mundo. Os apaixonados caminham entrelaçados sob o mesmo guarda-chuva. Há quem levante um brinde ao fim da estiagem. A cama ganha colchas e cobertas. Os peixes sobem à flor d’água. O coração de açúcar derrete. A viúva se lembra do marido chegando com a chuva e fica a esperá-lo no portão. Para não estragar os sapatos, a mulher prefere seguir descalça. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
22/11/2012 -
A saudade corta
Por mais que meu corpo fique quarando sob sol e chuva, a saudade continua impregnada. Eu me lembro, com nitidez, da senhora estendendo as roupas vindas da roça no cimentado do quintal formando um jardim de tecidos e cortes. Uma arte tão abstrata em sentidos quão concreta em perseverança.
Manchas de terra, de óleo, de comida sendo tiradas por meio de uma receita tão antiga quão nossa identidade. De quando em quando, as mãos, também manchadas, jogavam punhados de água com sabão sobre aquelas peças. Um, dois, três dias quarando, as roupas soltavam toda a sujeira, por mais pesada que fosse....
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar