O Castigador
15/04/2010 - Capítulo 12
O começo do fimEnquanto Malena dorme um sono inquieto, Sebastian caminha quieto pelo quarto. Anda de um lado para outro, sem rumo. Está inquieto com a sucessão das últimas cenas. Cenas que não param de se repetir em sua cabeça. Pedir ajuda a quem? O padre, que por muitas vezes lhe aconselhou, não quer vê-lo. Médicos, amigos e parentes o chamariam de louco.
A própria mulher não acredita naquela interpretação que ele faz da realidade. Algo parece lhe cegar. Afinal, como espírita deveria ter a mente mais aberta. Independente do que é e de seus propósitos, essa força que age entre o mundo real e o desconhecido está confundindo a cabeça de Malena.
O jeito é rezar pelo fim desse pesadelo. A essa altura Sebastian já não quer mais entender, contenta-se apenas em se livrar do roteiro maluco em que sua vida se transformou. Um pouco de paz pelo amor de Deus, é só o que pede em suas orações.
Ele vai até a gaveta mais próxima, pega uma vela e a acende diante da imagem de São Miguel. Angustiado, suplica proteção. Em seguida, parte em busca de ar puro. Mas tem medo de abrir a janela e liberar a entrada de uma daquelas assombrações. Ele já não se reconhece mais.
Malena começa a despertar e Sebastian vai até sua boca à procura de um beijo. O conforto de um beijo. Porém, ela não só nega seus lábios como lhe empurra para longe. Diz que tem nojo dele e se questiona como ele pode ter ido tão longe. Está decepcionada. Quer a separação imediata. Separação de corpos, de amores e de contratos.
Aos gritos, avisa que vai à polícia e que finalmente entendeu sua implicância com Micaela, com Alicia, com Tita...
Ele, ainda em choque, reage:
- O que deu em você? Estávamos dormindo abraçados até agora pouco. Você disse que me amava mais do que qualquer coisa. Como tudo pode ter mudado tão de repente? Ainda sinto o calor de sua respiração em meus braços...
- Chega! Isso foi antes de eu descobrir quem, de fato, é você.
- E descobriu o que agora, posso saber?
- Como pode ter me enganado por tanto tempo? Como fui tola...
- Descobriu o quê?
- Que você é apaixonado por minha filha, por minha irmã, por minha empregada e por muitas outras mulheres que conheço e desconheço. Que faz amor comigo pensando em outras. Que já as agarrou e, as ameaçou e, as seduziu.
- Você está louca, é?
Pensando não ser ela, mas aquela criatura que entrou em seu corpo horas antes dizendo que a faria pensar essas promiscuidades, Sebastian começa a falar uma série de coisas que Malena não compreende:
- Você já voltou para me provocar. Pois saiba que eu não vou deixar você destruir a minha vida. Saia já daqui. Deixe-me em paz.
Começa a rezar em voz alta, mas Malena o interrompe:
- Pare com isso. Está ficando doido de vez. Não coloque Deus no meio de seus pecados.
- Você está querendo me confundir seu demônio.
Depois dessa fala, ele joga um copo de água benta no rosto de sua esposa. Malena se descontrola.
- Seu imbecil. Olha o que você fez (mostrando o cabelo molhado).
- Não tente me enganar, eu sei que não é a minha mulher que está nesse corpo. Você só pode tê-la possuído. Mas Miguel há de fazer do meu corpo sua lança para lhe mandar de volta ao inferno.
- Saia do meu quarto, da minha casa, da minha vida, seu estúpido.
Malena chora um choro que fere a coisa amada.
Quando percebe que não está falando com um demônio e sim com a mulher, já é tarde. Ele tenta segurá-la enquanto recita seu amor confesso e ela, não se contendo, rasga sua camisa.
Nesse momento, Micaela entra no quarto repreendendo o padrasto por fazer sua mãe chorar. Sebastian manda-a calar a boca. Malena diz que sua filha não é uma de suas vagabundas para ser tratada de qualquer jeito. Ela abraça a menina e diz que vai à polícia denunciar o marido pelos abusos. Olhando nos olhos de Micaela pede que ela conte ao delegado tudo o que aquele monstro fez com ela.
Como que querendo resolver aquela situação de uma vez por todas, abraça a menina e chora se desculpando por ter colocado aquele homem dentro de casa. Diz que vai levar Tita e Alicia também para a delegacia. Afinal, ela está diante de um maníaco, de um psicopata, de um monstro que precisa ser detido o quanto antes.
Por mais que tenha suas implicâncias com Sebastian, Micaela acha aquilo tudo demais. E pede para a mãe se controlar dizendo que nunca aconteceu nada do que está sendo dito. Porém, Malena não acredita.
Tentando encorajá-la, diz que a filha não precisa mais mentir ou ocultar as coisas, que ela já sabe de tudo e que não fica mais uma noite naquela casa junto daquele maníaco.
Tomás entra no quarto e começa a falar sozinho novamente. Diz que há um homem negro e alto ali, de braços cruzados e com a cara ruim.
Logo em seguida chega dona Valentina, que nota um cheiro diferente. Malena, sarcástica, diz que o fedor é de Sebastian. Que ele fede tanto física quanto mentalmente. Ou melhor, fede moralmente.
Valentina, antes de dizer que aquele cheiro não é de seu genro, assusta-se ao ver o promotor sem camisa. De pronto, pergunta há quanto tempo ele está com aquela marca nas costas.
Ele se olha no espelho e diz que não há marca alguma em suas costas. Micaela também diz que a avó está enxergando demais. Já Malena não quer saber se tal sinal existe ou não, apenas pede para a mãe tomar cuidado com Sebastian, pois ele é um tarado.
É quando Tomás entra na conversa dizendo que existe uma marca sim, um vergão de uma ponta a outra das costas, em diagonal, e que se trata do resultado do chicote daquele homem que está ali.
É a confirmação que Valentina precisa para concluir sua suspeita e tomar à frente da situação.
Com firmeza e calma, pede para as crianças fazerem companhia a Malena enquanto ela conversa a sós com Sebastian.
Todos se espantam. Afinal, há muito tempo os dois não conversam, ainda mais em particular. Desde que ele pediu que a sogra escolhesse entre conversar com ele e freqüentar o centro espírita.
Ela o leva para o jardim sem dizer uma palavra sequer. Ele, chorando copiosamente, deixa-se levar como um menino indefeso.
Valentina o abraça e diz que sabe perfeitamente o que se passa em sua cabeça e ao seu redor.
Sebastian suplica entre um soluço e outro:
- E o que é, conte-me, por favor, ajude-me...
De forma temerosa, dona Valentina sussurra com cuidado para o vento não ouvir suas palavras, tampouco fazer mau uso delas:
- Não sei o que vai ser mais difícil: você acreditar nisso tudo ou sairmos inteiros dessa...
Comentários
Gostei do livro mas queria um término melhor. Seu livro encontro nas livrarias no Rio de Janeiro ou se compra pela internet?
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