Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 53 textos de dezembro de 2014. Exibindo página 1 de 6.

27/12/2014 - Efeitos do calor

O calor dos trópicos
Escorrendo em suas costelas
O desejo em tópicos
Fazendo beijos pelas janelas
O suor do rei do ópio
Salgando a doce vida bela
Um samurai de Tóquio
Cortando a lua amarela


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27/12/2014 - Num e noutro dia

Num dia ela chega e me chama de amor, noutro ela vai embora sem me deixar pedir por favor pra ela não ir. Num dia ela chega falando de tantos planos, noutro ela só vê em tudo enganos. Num dia ela chega ela me leva à loucura com tantas juras de amor eterno, noutro ela diz que eu não tenho cura e transforma o mundo num inferno. Num dia ela inventa de ser feliz, noutro ela não agüenta e só fala do mal que a fiz. Num dia ela chega com boas lembranças, noutro ela diz que nosso passado não passa de uma criança. Num dia ela leva tudo a sério, noutro ela enterra meus sonhos bem fundo no seu cemitério. Num dia ela vem elogiando minha roupa, noutro ela rasga tudo e se diz louca. Num dia ela me caça e me beija e me abraça, noutro ela simplesmente passa. Num dia ela quer viver como minha mulher amada, noutro ela não quer ser nada.


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26/12/2014 - Samuca e Amora

Ele se impõe garboso
Ela tem o cabelo ruim
Ele dá uma de poderoso
Ela não tem espaço algum
Ele late forte
Como que vindo do norte
Ela se encolhe e se ignora
Assim são Samuca e Amora

Ele ganha muito carinho
Ela se contenta com o que tem
Ele, como rei, vai à frente do caminho
Ela deixa mesmo tendo seu sangue também
Ciumento, ele ganha elogios
E tudo mais com seu coração bravio
Ela o respeita e dá o fora...
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26/12/2014 - Ou o fim ou o fim

O verde amarelou. O caminho a sujeira fechou. O mato se alastrou. O telhado do rancho desabou. O poço secou. A aranha o fim teou. A saudade suas garras fincou. Por aquelas quartas nunca mais se semeou. O destino de todos que dependiam daquelas mãos férteis virou. O trator nunca mais roncou. O pé de valsa por ali não mais dançou. O deserto da solidão pra ficar chegou. A terra sangrou. A paineira da estrada chorou. O lago avermelhou. O que era bonito se estragou. O vento nunca mais suas modas assoviou. Os ninhos ficaram vazios da galinhada que nunca mais chocou. O lixo se espalhou. O abacateiro tombou. A magia nunca mais madurou. O pé de esperança não vingou. O trem diante daquele cenário engasgou. O galo silenciou. Até assombração por ali não ficou. A cachorrada debandou. A nova safra não vingou. O senhor daquele mundo nunca mais voltou. O descaso tudo abandonou. O encanto do dia pra noite se quebrou. O coração de terra parou e tudo se espatifou. O bom e velho sítio se acabou. ...
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25/12/2014 - Natais são sempre natais

Natais são sempre natais embora alguns não voltem nunca mais e outros estão tão à frente, distantes, longínquos, impossíveis, que ficaram para trás. Natais de uma estrela lilás difícil de ser vista. Natais com espumantes em pétalas nas mãos do florista. Natais a prazo ou a vista. Natais de cartão e no cartão. Natais de pedidos pendurados em árvores que de tanto peso envergam e quebram e secam. Natais da manjedoura e do ouro que a tudo doura. Natais, natais, natais cada um tem o seu e muitos não tem natal algum. Natais de saudade. Natais de solidão. Natais perdidos no breu da escuridão. Natais de fartura e de grão em grão. Natais de verão. Natais de arrebentação. Natais de trégua. Natais imperfeitos como que fora da régua. Natais de presentes e ausentes. Natais com tudo igual mas ainda assim diferentes. Natais de latidos, mugidos e mios. Natais fundos e rentes. Natais de renas suspensas como tremas. Natais de imaginação, de ilusão, de alucinação. Natais de lembranças soltas no ar. Natais de reencontros e de voltas capazes de deixar tonto o coração. Natais de São João e de Réveillon. Natais embrulhados em papel de pão. Natais de um sentimento de que sempre falta algo de um Natal já passado ou que ainda não chegou. Natais são sempre natais, sentimentos e mais sentimentos ancorados num imenso cais. ...
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25/12/2014 - Grandioso sol

O sol alaranjado
Tremulou como bandeira
No alto do céu
Aos olhos do sem eira nem beira
Deixado de lado
Pela vida sem véu

O sol esculachado
Gargalhou como hiena
No salão nobre
Aos olhos do sem cobre
Que vive abandonado
Pelo amor do poema

O sol desnaturado
Escarrou sua luz no mundo
Como um deus
Aos olhos descrentes já ateus
Que de alados
Rastejam pro fundo do fundo...
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24/12/2014 - Giros de Chico Buarque

No canto da sala de estar
Chico Buarque gira na vitrola
Sem parar
Voltas e mais voltas
De arte
Num tempo que não volta
Sentimento que não solta
São lembranças
Do meu eu criança
Que cresceu
Na esperança
De encontrar por perto
O mundo secreto
Entre a Terra, a lua e Marte
De Chico Buarque
No canto da sala de estar
Sem parar de girar, de girar
As mulheres buarquianas
As cidades buarquianas...
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24/12/2014 - Estrada de dentro

As estradas, mesmo estando no mesmo lugar, não são mais as mesmas. Estão mudadas embora nunca se mudaram de onde sempre as encontrei. Mas desde que aquele senhor de longos cabelos brancos e passos firmes chamado Tempo passou por ela nada mais foi igual como era antes. Mais do que ganhar, as estradas perderam cores, mistérios, sabores, perfumes... É como se houvesse um vazio permanente e crescente ao decorrer da caminhada e a passada o conduzisse para uma espécie de buraco negro, sem luz e gravidade. Embora haja um chão sobre os pés, a sensação é de estar em constante queda livre. Para muitos, trata-se de loucura, de insensatez, de embriaguez... Para mim, um atestado de saudade.


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23/12/2014 - O meu canto só

O meu canto é canto de homem só
De homem só disposto a ser mais
Mais do que o bíblico e cíclico pó
O meu canto ecoa pra além nuvem
E vence do tempo a pior ferrugem
Sem ser de menos ou ainda demais
O meu canto é canto de ponto certeiro
Coisa de quem um dia já foi mateiro
Sabendo a penugem da ave por seu canto
O meu canto é canto de curió
Canto de dar pena, de dar tristeza, de dar dó
O meu canto é canto de pintagol
Que se desconstrói na falta de sol...
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23/12/2014 - O violeiro está pra chegar

O violeiro está para chegar trazendo cantigas capazes de botar a moça que não sai do chão para rodar junto das estrelas de um céu crepom. As modas da viola, como batom, ficarão na boca dessa moça que de tanto chorar por um amor em vão fez de sal uma poça. O violeiro está chegando, podem esperar pelo inacreditável. Aquelas dez cordas de aço hão de fazer milagre na vida da moça que com medo de sofrer leva o coração escondido no fundo falso da sua bolsa. Com a chegada do violeiro se acabarão os medos de beijos roubados, de amores proibidos, de peitos flechados. O violeiro chega para dar jeito no que não tem jeito com seu ponteado encantado. Chega, como sempre, enluarado e disposto a juntar um casal apaixonado que em silêncio vive separado e incomodado com a própria solidão que assusta mais do que bicho-papão no meio da escuridão. ...
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