Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 56 textos de janeiro de 2014. Exibindo página 3 de 6.

21/01/2014 - Mar aberto

Para além dos meus dias haverá um milheiro de outros dias talvez mais bonitos que os meus. Eu desafino. Eu ando torto. Eu desalinho. Eu faço o aflito. Eu grito. Eu, mesmo quando inédito, me repito. Eu sou mar aberto quando devia ser porto. Eu sou o que não querem que eu seja. Eu sou a palavra que aleija. Eu sou a valsa que não é mais dançada. Eu sou a lua caindo na calçada. Eu falo demais em um silêncio quieto como só. Eu sou o pó sobre a mesa. Eu sou a dose incerta de tristeza. Eu sou o nó do destino. Eu sou o menino, o adivinho, o linho no campo. Eu sou o que acredita no encanto. Eu sou só isso. Sou esse reboliço interior. Essa nave sem direção. Esse beija-flor que nunca será condor. Eu sou o passo largo que vive tentando chegar às estrelas esmaltadas de vermelho. Eu sou o timão do navio girando, girando, girando no meio da tempestade. Eu sou os pensamentos fugitivos adormecidos pelos cabelos. Eu sou o que não tem idade. Eu sou o anti-horário. Eu sou o ovário textual. Eu sou o sentimento viral. Eu sou o último de hoje. Eu sou o olhar mais longe do monge. Eu sou candeeiro noite adentro. Eu sou amor ao vento. Eu sou trevo de cinco folhas. Eu vivo dentro da minha bolha. Eu sou a rolha do champanhe jogada ao chão. Eu sou o talvez para além do sim e do não. Eu sou embarcação pirata. Eu sou o que me falta.


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21/01/2014 - Permita-se

Escuta
A lira
Do ausente
E respira
Esse ar
Úmido
E quente
E luta
E tira
Da cabeça
Esse pesar
E tudo mais
O que pareça
Pesar
E se permita
Voar
Gostar
E até amar
De forma infinita
Até tudo
Inclusive o mundo
Se acabar
De tanto rodar.


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20/01/2014 - Dia de verde

É dia de verde. É dia de mato. É dia de Oxóssi. É dia de festa. É de árvore. É dia de arco e flecha. É dia de caboclo. É dia de cavaleiro. É dia de fruta madura. É dia de bicho. É dia de fé. É dia de devoção. É dia de comida farta. É dia de proteção. É dia de agradecimento. É dia de canto. É dia de rio. É dia de chuva. É dia de sementeira. É dia de trilha. É dia de conversar com a mata. É dia de trocar energias com o verdume. É dia de ouvir o que os pássaros têm a dizer. É dia de muito querer. É dia de bendizer quem nos guarda. É dia de união. É dia de observação. É dia de trazer toda a força para fora. É dia de dizer “pai”. É dia de cura. É dia de vibrar com o senhor das matas. É dia de compreender e viver Oxóssi de várias maneiras, inclusive, como um raio. É dia de caboclear.


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20/01/2014 - Poder da chuva

A chuva desperta perfumes adormecidos
A chuva escorre do jeito certo mesmo que aos olhos tudo pareça torto
A chuva fala baixinho aos nossos ouvidos
A chuva germina o que já era dado como morto
A chuva traz ao vento o som de gemidos e sussurros
A chuva cala em nossos corações a certeza de que tudo ficará bem
A chuva não toma conhecimento de portas ou muros
A chuva dá viço à lavoura do que não se esquece
A chuva é livre por natureza e não fica refém de nada ou de ninguém ...
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19/01/2014 - Pedido final

Quando morto
Peço que me vistam
Com minhas armas
De fé
Se bem convier
A alguém me atender
Não quero ser enterrado
Mas cremado
Com meu escudo
Com minha capa
Com minhas cores
De trabalho
Queimem
Meus olhos verdes
Minha boca muda
Minha carne pouca
Coloquem alguns poemas
Junto ao meu corpo
Para que as palavras
Escritas ardam
Juntas das ainda não ditas
Num só silêncio...
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19/01/2014 - Voar-me-ia

Se fora da minha realidade poética asas eu realmente tivesse, voaria para um mundo distante. O mundo dos pássaros que morrem no inverno e renascem no verão. O mundo dos que se entregaram à lua. O mundo dos amores sobre-humanos. Voar para longe dos limites do tempo e de suas leis. Voar sem se preocupar com fôlego. Voar pela chuva e por sobre as nuvens. Um voo sem volta. Um voo sem avisos. Um voo com destino, mas sem trajeto definido. Voar para uma estrela. Voar para um conto. Voar para a origem de tudo. Voaria sobre as árvores que nos cobriram. Voaria sobre o chão batido que nos faltou. Voaria sobre as porteiras que deixamos entreabertas. Um voo impossível, mas possível. Um voo afoito. Um voo à flor da pele. Voaria sem escala. Voaria sem bagagem. Voaria de peito aberto. Um voo mais poético do que atlético. Um voo puramente magnético. Um voo químico. Voaria pela vermelhidão pintada no fundo dos céus. Voaria numa trilha sonora com aroma. Voaria para os olhos que nunca saíram dos meus.


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18/01/2014 - Não digno

Não sou digno
De ser amado
Sou futuro do passado
Sou amaldiçoado
Sou todo errado
Não presto
Sou e mereço
O resto
Minha poesia
Não enche barriga
Viver de fantasia:
Quem liga?
Eu não faço bem
Eu não sou capaz
De fazer alguém
Feliz
Eu sou
O que o além
Não quis
Eu sou o capataz
Da tristeza
O espalhador
De sofrimento
O inventor
De sentimento...
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18/01/2014 - Nada do que eu diga

Nada do que eu diga parece importar. Nada do que eu diga parece ter valor. Nada do que eu diga parece fazer sentido. Nada do que eu diga parece lhe convencer. Nada do que eu diga parece ser amor. Nada do que eu diga parece valer à pena. Nada do que eu diga para lhe trazer de volta. Nada do que eu diga parece deixar de doer. Nada do que eu diga parece lhe fazer me olhar. Nada do que eu diga parece ser o que é. Nada do que eu diga parece quebrar essa barreira. Nada do que eu diga parece fazer você me escutar pelo menos mais uma vez. Nada do que eu diga parece soar como verdadeiro. Nada do que eu diga parece arrancar um sorriso seu. Nada do que eu diga parece útil neste momento. Nada do eu diga parece lhe fazer bem. Nada do que eu diga parece romper esse silêncio. Nada do que diga parece avivar nosso sentimento. Nada do que eu diga parece valer mais um beijo.


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17/01/2014 - Caleidoscópio

Seus lábios
Ora
Selados
Ora
Entreabertos
Em
Eclipses bucais
E tão perto
Seus olhos
Sábios
Fechados
Sonhando
Acordados
Como caleidoscópios
Brincando
Com corpos estelares
Com fases lunares
Com beijos trópicos
Macro e microscópios


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17/01/2014 - Aceleramento

140... 160... 180... 194 quilômetros por hora... Lá fora, tudo passa por mim rapidamente. Árvores diferentes se transformam em um borrão verde. As nuvens vão se juntando querendo me falar algo. Ayrton Senna, que andava a mais de 300, tinha razão ao dizer que a velocidade o levava para perto de deus. Sim, o piloto, imerso em voltas e voltas mais rápidas, conversava com o criador. Quanto mais a velocidade cresce no velocímetro mais e mais fico entre dois planos. A concentração faz com que tudo ganhe lucidez enquanto erro algum é permitido. ...
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