Arquivo
2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan | fev | mar | abr | mai | jun | jul | ago | set | out | nov | dez |
Encontrados 62 textos de outubro de 2013. Exibindo página 4 de 7.
16/10/2013 -
Tendo-me
Tem meu sorriso diário
Minha falta de juízo
Meus sonhos, meu sono
E meu coração de escamas
Girando, girando pelo aquário
Dos seus olhos de outono
Que me têm na cama
Da lua mais cigana que há
É dama, é trama, é chama
É rama de flores rosa-chá
Subindo pelos pés de menina
Que cruzam a cada esquina
Com minhas asas sabiá.
Seja o primeiro a comentar
16/10/2013 -
Suadouro
E, de repente, o sol é uma imensa pedra de gelo boiando num céu de uísque. O chão é cremoso feito sorvete bem batido. O ar da manhã chega com aroma de chá gelado. E a mulher que desafia a estação passa espalhando frescor. As árvores serenam como se fossem imensas duchas. Há uma piscina em cada esquina. Os arranha-céus dão lugar a icebergs. E o governo distribui cachoeiras particulares.
O mar chegou a todas as cidades, refrescando as ideias mais quentes. Junto com os desejos de bom-dia, boa-tarde e boa-noite surgem copos e jarras de suco. Já as crianças preferem tomar banho de refrigerante geladinho. E, diante do suadouro, deus criou o ar-condicionado. Ventos do sul e do norte dançam como pás de ventiladores. E da boca da mulher amada, um hálito frio que chega a causar arrepios.
Seja o primeiro a comentar
15/10/2013 -
Saudade Calopsita
Ela se foi sem dizer. Não ouvi seus gritos de dor ou de perdão. Ninguém sabe o horário exato que ela arrumou as malas e partiu. Será que foi loucura? Será que foi tontura? Por que foi que ela caiu? Ela se foi sem ir. Caída no chão do quarto, encolhida e sem vida, vestida para casar. Não conseguiu ser mãe ou amante, foi só mulher de dois casamentos. Sem sorte no amor, Paola, um marido morto, um marido ao vento.
Ela se foi sem querer. E já há alguém cantando sua falta num canto lírico. E já há alguém investigando sua partida repentina. E já há alguém a comparando com um lírio – lindo e breve. Ainda não descobriram quais foram suas últimas palavras. O viúvo endoidou... Será que finge tanto amor? Ela é lembrada de tantos jeitos e formas. E por todos os lados palpita uma saudade calopsita – doce e selvagem ao mesmo tempo.
Seja o primeiro a comentar
15/10/2013 -
Olha para mim
Olha para mim
Eu não posso ir
Não quero fingir
Não devo sumir
Olha para mim
Sou isto aqui
Sou o que vivi
E o que menti
Olha para mim
Não faz assim
Não me diga não
Por favor, perdão
Olha para mim
Eu já cansei
Já me zanguei
E já me doei
E nada, nada, nada
De você olhar
Aceitar, amar
A mim
Pondo fim
A um chorar
Carmim
Olha para mim
Olha para mim...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
14/10/2013 -
Último pedido
Quando eu morrer, que me cremem. Sou claustrofóbico demais para passar anos dentro de um caixão enterrado a sete palmos. Além disso, não gosto de cemitérios. É muito silêncio, muito choro, muita dor. Nunca sonhei em ter uma cova, uma lápide, um jazigo. Não sou planta de batata que precisa ser enterrada para brotar. Sou de ser semeado sobre a terra mesmo. Já viu alguém enterrando um poema, ainda mais um poema verde?
Ah, e que minhas cinzas sejam jogadas em alguma mata. Nada de guardarem a minha versão pó em uma urna. Quero ser lançado sobre algo verde, e com a devida urgência. Pode ser em um bosque, em um jardim, em um quintal... sob a sombra de um pé de mangueira ou jabuticabeira, minhas árvores e frutas favoritas. Porém, nada contra abacateiros, pitangueiras, goiabeiras, limoeiros... plantações de girassol, algodão, alfazema... ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
14/10/2013 -
Um pouco de ar
Um pouco de ar
Por favor, quem tem um pouco
De ar para doar
A quem já está louco
De tão pouco
Ar que tem
Para respirar
Um pouco, um pouco, só
Um pouco de ar
Puro sem ácido ou pó
Um punhado só
De ar sem nó
Quem tem para dar,
Para dar sem dó?
Um pouco, por amor, de ar
Vindo de algum lugar
Um ar capaz de ventar
De levar, de movimentar
Só um pouco de ar
Capaz de dar um soco...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
13/10/2013 -
Desdiz
Quem diz
Não é
Quem trai
Cai
Quem quer
Já quis
Quem vai
Nem vem
Quem sai
Vê além
Da parida
Da despedida
Da cicatriz
Do tempo
Que se diz
Sentimento.
Seja o primeiro a comentar
13/10/2013 -
Olhação
Olhos azuis, olhos de luz, olhos sem capuz, olhos pregados na cruz, olhos de jesus. Olhos pretos, olhos sem defeito, olhos eleitos, olhos de leito, olhos direitos, olhos estreitos. Olhos verdes, olhos de redes, olhos sem paredes, olhos com sede. Olhos castanhos, olhos de estanhos, olhos estranhos, olhos sobrehumanos, olhos de enganos...
Olhos de mel, olhos de docel, olhos de papel, olhos de fel, olhos de rapunzel. Olhos cinzas, olhos de ninjas. Olhos amarelos, olhos de rastelos, olhos de farelos, olhos de caramelos. Olhos marrons, olhos de semitons, olhos de neons, olhos de sons. Olhos vermelhos, olhos de apelos, olhos de espelhos. Olhos mistos, olhos quistos, olhos bonitos, olhos infinitos...
Seja o primeiro a comentar
12/10/2013 -
Criança ça
Criança dança com balançado. Criança cansa quem está ao lado. Criança avança entre o certo e o errado. Criança enche a pança, fica de bucho virado. Criança trança cabelo, faz na boneca seu penteado. Criança lança choro e sorriso num humor delicado. Criança é a esperança de um coração mais bagunçado.
Criança é criança quando esperneia, quando faz birra, quando fala do bicho-papão. Criança é criança quando faz beicinho, pede colo, dá carinho sem ninguém pedir. Criança é criança quando descomplica o complicado. Criança é criança quando troca almoço e jantar por brincadeira. ...
continuar a ler
Seja o primeiro a comentar
12/10/2013 -
Senhora Apará
Nossa Senhora Apará
Apara a dor que há
Cá
Dentro do congá
Ampara o sal que já
Está
No fundo do oiá
Querendo chorá
Ampara o último sabiá
Que foi vuá
E não quer voltá
Apara, apara,
Apará
Nossa Senhora, Senhorá
Fio que tá
Lá
A ti chamá.
Seja o primeiro a comentar